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Monark usa idioma de '1984' para criticar YouTube; entenda citação a Orwell

'Crimeideia', 'impessoa' e 'teletelas' são alguns dos neologismos de romance sobre sociedade distópica e vigilante

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Campinas (SP)

"Aparentemente, eu virei uma impessoa por ter cometido um crimidea. George Orwell realmente previu o futuro", escreveu na manhã desta sexta-feira o podcaster Bruno Aiub, de 31 anos, mais conhecido como Monark, em seu Twitter.

A reação, cheia de palavras pouco usuais no vocabulário corrente, veio em seguida à notícia de que o YouTube não permitiria que ele criasse um novo canal, nem pudesse monetizar seu conteúdo, após ele ter defendido o direito de haver um partido nazista no Brasil em programa do "Flow Podcast", do qual foi desligado.

Acusando a plataforma de "perseguição política", o produtor de conteúdo puxou algumas expressões da novilíngua ou novafala —idioma fictício do livro "1984". A célebre distopia escrita pelo britânico George Orwell imagina uma sociedade opressiva, com vigilância governamental constante, refém de uma guerra e de frequentes adulterações de documentos históricos.

Na sequência de posts —que culminou em um dito afastamento das redes—, Monark comparou a proporção das consequências que tem sofrido aos horrores do mundo imaginado por Orwell sob o controle do chamado Grande Irmão —que depois inspiraria o reality "Big Brother".

Nele, "impessoa" é aquele cidadão que, por fazer algo que desagrada ao sistema, deve ser apagado da existência —inclusive de todos os registros escritos e menções. E entre as possíveis causas estão as "crimeideias", que nada mais são do que pensamentos ilegais, vigiados pela Polícia do Pensamento no livro.

Todo esse monitoramento ainda era possível pelo chamado Ministério da Verdade —que regula as publicações, notícias e entretenimento das pessoas— graças às "teletelas", uma televisão que permite vigiar tudo o que as pessoas fazem e falam. A descrição é um tanto mais rústica que os smartphones que hoje têm praticamente a mesma função —nas devidas proporções—, mas não deixa de ser visionário.

George Orwell concluiu o livro em dezembro de 1948, pelas experiências totalitárias do século 20. O romance "'1984' continua sendo o livro a que recorremos sempre que a verdade é mutilada, a linguagem, distorcida, o poder, abusado, e ficamos curiosos para saber quão piores as coisas podem ficar", aponta Dorian Lynskey, na introdução do livro "O Ministério da Verdade: Uma Biografia de 1984, o Romance de George Orwell".

O livro, que permanece sendo um best-seller, não possui um glossário do autor para ajudar a decifrar os neologismos. Mas isso é compensado por um narrador que, pelo contexto e até algumas exposições mais diretas, não deixa o leitor se perder entre ideias que têm uma tradução bem concreta na realidade.

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