Entenda como Jack Kerouac, nascido há cem anos, ajudou a moldar a contracultura

Seu livro 'On the Road' apresentou e definiu a geração beat e influenciou dos hippies a Bob Dylan

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São Paulo

Há exatos cem anos, em 12 de março de 1922, nascia em Lowell, cidade a cerca de meia hora de carro de Boston, nos Estados Unidos, o escritor que apresentou e definiu a geração beat —Jack Kerouac.

"On the Road", sua obra-prima, chegou a ser considerada uma espécie de bíblia para o movimento de contracultura, inclusive para os hippies anos mais tarde, e influenciou de Bob Dylan a Francis Ford Coppola. Um relato autobiográfico das peregrinações de Kerouac pelo interior dos Estados Unidos na década de 1950, a primeira versão do livro foi escrita em abril de 1951.

Jack Kerouac, autor de 'On the Road', se aproxima do rádio para ouvir sua própria voz em uma transmissão em 1959 - John Cohen/Getty Images

Conta-se que o escritor levou três semanas de trabalho frenético, datilografando a obra inteira em um único parágrafo, com entrelinha simples, em folhas de papel vegetal, mais tarde coladas umas às outras, formando um rolo de quase 37 metros de comprimento.

O livro só foi publicado seis anos mais tarde, em 1957, após uma série de revisões. A fama veio em seguida, quando o New York Times publicou uma crítica elogiosa da obra.

Junto, vieram também os detratores. Como listou Cláudio Willer —escritor, crítico literário e tradutor dos haicais de Kerouac para o português— em um artigo sobre o autor publicado neste jornal em 2013, o culto à espontaneidade, a desordem formal, a apologia da libertinagem são algumas das objeções frequentes a "On the Road". O livro ainda recebeu críticas pautadas pela correção política, que apontaram hedonismo, sexismo e imediatismo.

São todos elementos indissociáveis do que seria depois o movimento beat. Seus integrantes, os beatniks, buscavam uma exploração da consciência —chamavam isso de "tour", muitas vezes animados por drogas— e desdenhavam do consumismo e dos padrões familiares impostos pelo "American way of life".

Um dos trechos mais célebres de "On the Road" resume essa visão. "Para mim, as únicas pessoas são as loucas, as que são loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, que querem tudo ao mesmo tempo, aquelas que nunca bocejam nem dizem um lugar-comum", diz Sal Paradise, o narrador do livro e alterego de Kerouac.

Kerouac, aliás, não é o único beat a surgir na narrativa. Seus amigos, os escritores Allen Ginsberg, famoso pelo poema "Uivo", e Bill Burroughs, são alguns dos integrantes do movimento que também fazem aparições, o primeiro sob o nome de Carlo Marx e o segundo, de "Old Bull" Lee.

A vida intensa de Kerouac fez dele um escritor biografável por excelência, como também lembrou Willer em seu artigo —a despeito da extensão razoável de sua obra, há mais títulos escritos sobre ele do que por ele.

"On the Road" só chegou ao Brasil em 1984, muitos anos depois de seu lançamento original, graças a uma tradução do jornalista Eduardo Bueno. Ele, que se tornou uma espécie de embaixador beatnik por essas bandas, conheceu a obra-prima de Kerouac em 1975, quando comprou um exemplar em espanhol, "En el Camino", em uma livraria de Buenos Aires. Publicado originalmente pela editora Brasiliense, "Pé na Estrada" vendeu mais de 200 mil cópias.

Parte da obra de Kerouac segue inédita no país. Uma reportagem do jornal O Globo publicada neste sábado (12) conta que a L&PM, editora que tem os direitos de reprodução da obra do autor no Brasil, planeja para o ano do seu centenário a publicação de três desses livros ainda não publicados por aqui, "Mexico City Blues", "Dr. Sax" e "Coisas do Darma".

No final da vida, Kerouac maldisse sua bíblia e virou conservador. Morreu aos 47 anos, por causa de uma cirrose hepática, resultado de um longo histórico de alcoolismo.

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