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Danuza Leão levou colunas sobre comportamento e cultura às páginas da Folha

Escritora e modelo, morta aos 88 anos, foi colaboradora do jornal por 12 anos

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São Paulo

Danuza Leão, escritora e modelo morta nesta quarta-feira, aos 88 anos, integrou o quadro de colunistas deste jornal por 12 anos, entre 2001 e 2013. Publicados aos domingos, seus textos versavam sobre os mais variados temas, em especial comportamento e estilo de vida.

Entre os assuntos que abordou, nessa mais de uma década, estiveram as relações entre pais e filhos e homens e mulheres, bem como questões relacionadas a conflitos geracionais. Com frequência, falava sobre o cenário cultural da época e, também, relembrava aquele no qual despontou, ainda como modelo.

Danuza Leão com vestido do estilista Guilherme Guimarães, em 1966 - Reprodução

Confira, abaixo, algumas das colunas escritas por Danuza Leão para a Folha.

Era uma vez

Outro dia eu estava num café, e sentado ao meu lado, havia um jovem de 28 anos, já casado. Havia também uma TV; e na tela, cantando e dançando, Ricky Martin. Como sou meio desligada, perguntei ao garoto se o cantor não tinha sido do grupo Menudos.

Tive a impressão de ter dito uma palavra em javanês. Ele fez um esforço de memória e perguntou: Menudos? Custei a entender que ele nunca tinha ouvido falar do grupo. Não que fosse alguém alienado do panorama musical. Era apenas uma questão de faixa etária.

Passei uns momentos o testando: ele sabia quem havia sido Doris Day? Tinha ouvido falar de Grace Kelly, Rita Hayworth, Ava Gardner? Não! Ele nunca havia ouvido falar de nenhuma dessas pessoas. Leia a coluna na íntegra.

A moda: e isso pega?

Quando vim morar no Rio, vindo de Vitória —eu era uma criança—, lembro que em Copacabana, onde morava, existia um único personagem gay. Seu nome era Bob; quando visto na rua, era um acontecimento, e logo se comentava "eu vi o Bob hoje" --e em que lugar, e como estava vestido, e todos os detalhes.

Ninguém o conhecia, de conversar, mas ele era uma pessoa que fazia parte da vida do bairro, e era o único. O tempo foi passando, outros gays foram surgindo —atores, cantores, artistas em geral—, e ainda mais tarde muitos amigos foram, aos poucos, saindo do armário.

No início se comentava, discretamente, essas modificações sexuais; depois, nem foi mais preciso, pois não havia nem mais armário onde as pessoas se escondessem, e a vida ficou mais prática.

O que eu não entendo: será que no tempo em que —aparentemente— só existia Bob, a comunidade gay era tão grande como no presente, só que todos se escondiam? Leia a coluna na íntegra.

Os preconceitos

Vamos falar a verdade: o governo de Fernando Henrique fez muito pela queda dos preconceitos e a valorização das minorias em geral. Mas devemos reconhecer que o PT fez muito mais: deu voz forte às mulheres e aos afrodescendentes, voz que eles talvez nunca tenham tido antes.

Desde que d. Dilma assumiu o cargo, sempre que houve uma brecha ela colocou uma mulher, e nem sei quantas existem em cargos importantes (nem se estão dando conta do que fazem), mas sei que são muitas. Talvez até mais do que seria preciso, para que o universo se convença da igualdade entre homens e mulheres.

Mas em dez anos de PT, existe uma minoria que não foi contemplada com nenhum cargo importante: a minoria gay, que nem é tão minoria assim. Leia a coluna na íntegra.

Perigosas tentações

Encontrar um antigo amor é sempre embaraçoso —e complicado. Um dos dois fez o outro sofrer, claro, por isso não dá para dizer (nem ouvir) um "oi, tudo bem?", que poderia soar como uma cruel indelicadeza.

Em lugares com muita gente é possível disfarçar, apertando os olhos e fingindo que ficou míope, por exemplo. Pode também atender o celular (que não tocou, mas dá para fingir que ele vibrou) e cortar a possibilidade de uma conversa.

E conversar sobre o quê? Política, o último filme? Sobre o passado? Difícil, um encontro desses, e quando essas duas pessoas tiveram um grande caso de amor há muitos e muitos anos, nunca mais se viram e o acaso fez com que eles se encontrassem, aí é muito grave. Leia a coluna na íntegra.

Uma volta no tempo

Quem diria que anos depois —muitos anos depois— íamos nos cruzar numa rua de Paris.

Foi absolutamente inesperado; eu ia andando, ele vinha de outra rua, e quase nos esbarramos, o que felizmente não aconteceu. Apesar do passar do tempo, nem por um minuto duvidei de que fosse ele. Quando nos conhecemos, ele devia ter uns 30 anos, mais uns 20 tinham se passado e ele estava mais bonito do que havia sido. Os cabelos um pouco grisalhos, os traços mais firmes, de homem, e o corpo, o mesmo. Ah, que boa história foi aquela. Leia a coluna na íntegra.

Verão em Salvador

Foi meu verão inesquecível; aliás, foram dois, pois no ano seguinte eu voltei.

Há anos aluguei uma casa por telefone, na Pituba. Contratei uma cozinheira baiana e logo descobri que tinha várias assessoras na cozinha: uma para catar siri, outra para descascar camarão, outra para ralar coco, outra para se ocupar dos bolos, biscoitos, sobremesas.

Na mesma temporada lembro que fui passar uns dias em Mar Grande (antes da ponte), e logo de manhã passavam os locais apregoando sua mercadoria: camarão fresco, peixe saído do mar, lagosta, mariscos, siri mole, tudo na porta, levado por um burrico. Como esse comércio começava cedo, havia um funcionário (da casa) contratado apenas para ficar na porta desde cedo, e alerta; quando alguém ia anunciar o que tinha para vender, ele fazia um sinal com o dedo na boca para que não gritasse, para não acordar as pessoas. Ah, Salvador, que paraíso. Leia a coluna na íntegra.

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