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Livros de Israel e Palestina, de David Grossman a A.B. Yehoshua

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São Paulo

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Um dos principais escritores israelenses da atualidade, David Grossman deu uma entrevista a este jornal discutindo a função da arte em fazer com que novas gerações compreendam os traumas de seus antepassados.

A tragédia do Holocausto, segundo o autor de 68 anos, "continua a irradiar tão violentamente nas nossas vidas que nós não conseguimos respirar". Ao mesmo tempo, ele disse acreditar que seus compatriotas ainda não estão preparados para encarar os traumas sofridos pelos palestinos.

"É difícil esperar que um lado seja tão generoso a ponto de permitir que o trauma do inimigo seja incorporado à própria narrativa. Quando alcançarmos a paz, poderemos começar a entender o que permitiu que a ocupação perdurasse ao longo dos últimos 55 anos."

Grossman acaba de lançar uma obra que lida com a passagem da dor dentro de uma família. "A Vida Brinca Muito Comigo" (Companhia das Letras, trad. Paulo Geiger, R$ 99,90, 293 págs., R$ 44,90 ebook) conta a história de três gerações de mulheres israelenses que embarcam em uma jornada para revisitar o passado.

Numa triste coincidência, outra das maiores referências literárias de Israel também tomou os jornais na última semana. O escritor A.B. Yehoshua, ativista vocal contra a ocupação da Palestina e autor de livros como "Fogo Amigo", morreu na terça-feira passada aos 85 anos.

A crítica Isadora Sinay ressalta que em seu derradeiro livro, "O Túnel" (DBA Literatura, trad. Tova Sender, R$ 89,90, 432 págs., R$ 44,90 ebook), Yehoshua mostra que Israel, país que se propõe uma "pátria judaica", ainda não conhece a si mesmo tanto tempo depois de sua criação.

"Para além dos judeus e palestinos, seus romances são povoados de personagens diversos e que desafiam o estereótipo de homogeneização da sociedade israelense. Israel —o escritor insiste em dizer nos seus livros, mas também em suas propostas políticas— é um país onde já vivem muitas pessoas, o que falta é se lembrar disso."

tela em branco com várias perfurações verticais
'Concetto Spaziale, Attesa', obra do artista italiano Lucio Fontana (1899-1968) famoso por suas telas perfuradas - Divulgação

acabou de chegar

A argentina Ariana Harwicz dá um mergulho na mente de um homem acusado de estupro em "Degenerado" (Instante, trad. Silvia Massimini Felix, R$ 59,90, 128 págs.), seu quarto livro publicado no Brasil. A obra é um monólogo sufocante que questiona as relações entre criminosos e sua comunidade sem oferecer certezas definitivas, escreve a crítica Luísa Destri.

Primeiro escritor timorense a vencer o Oceanos, no ano passado, Luís Cardoso lança no Brasil seu romance premiado "O Plantador de Abóboras" (Todavia, R$ 59,90, 160 págs., R$ 39,90 ebook). A trama, que parte das memórias de uma mulher vestida de noiva para esboçar a história do Timor Leste, está aquém da grandeza trágica do país, na avaliação do crítico Alcir Pécora.

Fenômeno da literatura pop, a francesa Valérie Perrin chega às livrarias brasileiras com "Água Fresca para Flores" (Intrínseca, trad. Carolina Selvatici, R$ 69,90, 480 págs., R$ 46,90 ebook). Em entrevista à jornalista Vivian Masutti, a autora reflete sobre as relações entre seu trabalho e crises como a política brasileira e a guerra na Ucrânia.

e mais

A escritora Nélida Piñon, que se tornou cidadã espanhola no ano passado, doou sua coleção de mais de 8.000 livros ao Instituto Cervantes, no Rio de Janeiro. Será inaugurada ali uma biblioteca com o nome da escritora, que se tornará a principal reunião de obras do idioma galego no Brasil. "Quando eu doei, perguntei: ‘Vou poder ler meus livros?'", conta ela ao repórter Danilo Thomaz. Diante da resposta positiva, disse: "Então, pode levar todos".

A Academia Brasileira de Letras voltou aos holofotes com a retirada da candidatura do escritor e crítico literário Silviano Santiago à cadeira aberta pela morte de Lygia Fagundes Telles —ele disse a este jornal ter se tratado de questão de "foro íntimo", já que se sentia "desestimulado e triste". Santiago era favorito, já que se esperava que a vaga fosse preenchida por alguém com ligação íntima com a literatura. Agora, a eleição em 7 de julho deve consagrar o jornalista Jorge Caldeira.

Ainda na seara da Academia Brasileira de Letras, o Painel das Letras conta que um romance póstumo de Carlos Heitor Cony, morto em 2018, será publicado em julho. O livro sai pela Nova Fronteira e vem de um manuscrito descoberto quando a família do autor doou seu acervo para a ABL, da qual ele era membro.

A escritora Nélida Piñon, imortal da Academia Brasileira de Letras - Eduardo Anizelli/ Folhapress

em roda

O Clube de Leitura Folha discute na próxima terça, 28 de junho, o romance "Morto Não Fala e Outros Segredos de Necrotério", de Marco de Castro, publicado pela Darkside. Veja a programação completa da próxima temporada de debates. Os encontros online acontecem toda última terça-feira do mês, às 19h, e são abertos e gratuitos. Acesse via Zoom na reunião de número 889 2377 1003.

além dos livros

O Salão do Livro Político, que busca dar visibilidade à produção editorial independente de não ficção, ocupa até quinta-feira (23) o Tucarena, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Haverá estandes de cerca de 70 editoras, além de cursos e palestras de alta voltagem política. Entre os nomes com presença confirmada na feira, estão Joselia Aguiar, Fernando Morais e Ricardo Antunes.

Em cartaz no Festival Varilux até 6 de julho, "O Acontecimento" revisita o aborto clandestino de Annie Ernaux numa adaptação do livro homônimo da francesa. O filme, que venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, não é um panorama do aborto, mas trata da "vontade feroz" das mulheres de serem livres e imporem seus desejos, diz a cineasta Audrey Diwan à repórter Úrsula Passos. O longa entra em circuito mais amplo nos cinemas a partir de 7 de julho.

Referência nos estudos das relações entre desigualdade e raça, "Lugar de Negro", de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg, será relançado nesta quarta-feira (22) pela Zahar num evento na Galeria Metrópole, em São Paulo, às 19h. O encontro terá participação de Marcia Lima, professora de sociologia da USP e coordenadora do Afro Cebrap.

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