Gloria Pires agora é capaz de opinar, inclusive sobre Bolsonaro e a Globo

Em nova fase da carreira, ela produz e estrela 'A Suspeita' e planeja dirigir a si mesma em filme ainda este ano

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São Paulo

Em 2016, Gloria Pires virou meme. Ao participar da cobertura da cerimônia do Oscar pela Globo, a atriz admitiu que não havia visto alguns dos filmes que foram premiados. "Não sou capaz de opinar", disse ela.

A confissão entrou imediatamente para o vocabulário das redes sociais. Criticada por seu despreparo, a atriz não se fez de rogada —sua grife Bemglô lançou camisetas com a frase.

Sete anos depois, Pires está lançando "A Suspeita", o primeiro filme em que, além de atuar, coproduziu. Será que a nova função a deixou mais capaz de opinar?

Gloria Pires em detalhe do cartaz de 'A Suspeita', dirigido por Pedro Peregrino - Divulgação

"Não", diz ela, aos risos. "Cada vez menos."

Brincadeiras à parte, fato é que Gloria Pires está mais assertiva do que nunca, e não se furtou a dar sua opinião sobre quase todos os assuntos levantados.

Como, por exemplo, a política cultural do governo Bolsonaro. "A gente precisa fazer alguma coisa. A cultura, como um todo, tem que se articular. Precisamos ter espaço para tudo, e é incrível que ainda haja dúvida sobre isto."

Também explicou por que raramente se posiciona politicamente. "Sabe o que é complicado? Tem sempre um partido envolvido, ou dois, ou seis. Acaba virando um lado, e eu nunca quis me associar a nenhum lado", diz ela. "Além do mais, não me sinto preparada. Não tenho cultura política. Mas, como cidadã que emprega muita gente, eu vejo as minhas necessidades como empregadora, e também as das pessoas que estou empregando."

Essa tomada de consciência parece ser uma consequência de seu trabalho como produtora de cinema. Além de "A Suspeita", que estreia na semana que vem, Pires coproduziu mais dois filmes recentemente —as comédias "Vovó Ninja", de Bruno Barreto, lançada no mês passado, e "Desapega", de Hsu Chien, a ser lançado em breve.

Além disso, ainda este ano ela pretende dirigir a si mesma numa comédia escrita por Guilherme González. Mas, por enquanto, seu olhar está voltado à promoção de "A Suspeita". No filme dirigido por Pedro Peregrino —que a dirigiu na novela "Éramos Seis"—, Pires faz Lúcia, uma investigadora da polícia carioca que apresenta os primeiros sintomas do mal de Alzheimer. A personagem é acusada de um crime que não cometeu e precisa provar sua inocência antes de perder totalmente a memória.

Pires talvez seja a primeira brasileira a seguir pelo mesmo caminho de algumas atrizes de Hollywood, que se tornaram produtoras depois que os convites escassearam ao completarem 40 anos de idade. O exemplo mais fulgurante é o de Reese Whiterspoon, que produziu para si mesma séries de sucesso como "Big Little Lies" e "Little Fires Everywhere".

A atriz brasileira não tem casos de Alzheimer na família. Seu primeiro contato com a doença aconteceu há muitos anos, quando era voluntária em uma casa de repouso. "Fui dar um livro para uma senhora, e ela teve um rompante de ira. Jogou o li vro no chão, me xingou, tentou se levantar de sua cadeira de rodas. Foi muito repentino e assustador."

Para compor Lucia, Pires se inspirou no livro "Vivendo no Labirinto", de Diana Friel McGowin, uma americana que recebeu um diagnóstico de Alzheimer aos 50 anos. A produção de "A Suspeita" também contou com a assessoria de médicos especializados em doenças neurológicas.

Lucia passa ao largo do clichê da "delegata", sempre elegante e perfumada. "Ela é uma mulher comum, como muitas que eu conheci na polícia. Mulheres com quem você cruza na rua e nem desconfia que sejam policiais."

A personagem é acusada de assassinar um ativista do movimento negro. A cena do crime, ambientada numa rua do centro do Rio de Janeiro, remete imediatamente ao assassinato de Marielle Franco. "Mas o roteiro já estava pronto quando a Marielle foi morta", conta Pires. "Parece que esta possibilidade já estava em nossos subconscientes, o que é apavorante."

Pires só volta à TV no ano que vem, numa novela ainda indefinida. Deveria voltar antes –estava escalada como a vilã de "Todas as Flores", que chega ao Globoplay no final deste ano, mas foi substituída por Regina Casé. Por quê? "Não sei", responde Pires, sem piscar. "Só sei que eu fui saída."

"Mas não posso reclamar. A Globo sempre me deu grandes oportunidades, eu fiz grandes papéis", acrescenta. Mas não se sente tolhida na emissora, como Lázaro Ramos ou Ingrid Guimarães, que foram para a Amazon tocar seus próprios projetos?

"Sim, eu também passo por isso. Tudo o que a gente escuta é que as empresas querem conteúdo, e atores para esses conteúdos. Aí elas têm os atores e os conteúdos, e nada acontece."

Por fim, a pergunta que a persegue desde o início da carreira. Quando, finalmente, vai fazer teatro? "Você vai saber", afirma ela, com um sorriso misterioso. "Não sei ainda se vai ser teatro ou se vai ser filme. E não posso falar mais nada."

A Suspeita

  • Quando Estreia em 16/6
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Glória Pires, Charles Fricks, Daniel Bouzas
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Pedro Peregrino
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