Descrição de chapéu Moda

SPFW tem desde elfas com a Lino Villaventura até desfile da Ellus sem supresas

Música para de tocar no meio da apresentação, e modelos são aplaudidos pela plateia no terceiro dia da semana de moda

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São Paulo

Os modelos de Lino Villaventura parecem ter saído de um mundo encantado ou de um conto de fadas. Na apresentação de sua coleção primavera-verão nesta sexta-feira (18), no terceiro dia de São Paulo Fashion Week, a passarela foi tomada por elfas e vikings.

Desfile de Lino Villaventura na 54ª São Paulo Fashion Week
Desfile de Lino Villaventura na 54ª São Paulo Fashion Week - Rubens Cavallari

O que se viu foram peças opulentas montadas à mão, como se estivessem prontas para serem expostas em um museu. Elas usavam vestidos creme semitransparentes estruturados com arame ou vestidos preto com padronagem geométrica em contorno branco. Eles usavam capas pretas e capas vermelhas de cauda longa.

Havia também peças mais ousadas, como uma com recortes que deixavam o bumbum dos homens à mostra, e vestidos femininos com sobreposições de jacquard em patchwork. Nos pés, os homens calçavam sandálias tipo gladiadores e as mulheres, saltos altos com ornamentos nos tornozelos.

Num fato raro, os modelos foram aplaudidos enquanto desfilavam. Além das palmas, o único som que se ouvia era o do bater dos sapatos no chão, porque a música caiu no meio do desfile e a sala ficou em silêncio. A apresentação aconteceu numa laje corporativa ainda em obras que vai sediar um dos patrocinadores da semana de moda.

Mais tarde, no galpão na Mooca que sedia parte do evento, foi a vez da Rocio Canvas, conhecida pela qualidade das suas modelagens, desfilar. A oposição entre o rígido e o fluido é a tônica da coleção outono-inverno 2023 da marca curitibana.

"Na roupa, falo de coisas que observei e acredito. Como olho para a forma, as cores, o exercício de tirar a beleza do inusitado. Torcer os problemas e transformar em arte, estranheza, diferenciação", afirma Diego Malicheski, o diretor criativo da etiqueta, sobre as novas peças.

Seu vestuário é sóbrio no geral, valendo-se de uma paleta de pretos, brancos, marrons e azuis sólidos. Quando há mais cor, como nas estampas estonadas do diretor de arte Guilherme Queiroz, a discrição impera.

Os vestidos e tops têm recortes e franjas longas que balançam ao caminhar e deixam entrever o corpo. O estilista colocou alguns modelos masculinos na passarela, para mostrar que homens também podem adotar o vestuário feminino.

Tão importante quanto as roupas, neste desfile, foram os acessórios. Os colares e brincos gigantes criados pelo designer de acessórios Carlos Penna roubaram a cena. Como a proporção das joias é exagerada, elas funcionam como esculturas que emolduram o rosto e das quais é impossível desviar o olhar, a exemplo de um par de brincos em formato de flor que fez todos da primeira fila virarem a cabeça.

Motivos naturais seguiram presentes no próximo desfile, o da marca baiana Ateliê Mão de Mãe, especializada em vestuário de crochê. A coleção foi batizada de "Abre Caminho", em referência à planta de mesmo nome.

"Cada cor foi pensada para emanar boas vibrações e um desejo de união para o momento em que estamos vivendo. Abrir um caminho para a paz é criar um novo mundo", diz a marca sobre a nova temporada.

Do discurso à técnica têxtil, tudo poderia ser um pouco cafona, mas é exatamente o oposto —os vestidos de crochê em rosa e laranja têm um ar fresco, moderno, do agora, assim como os maiôs e biquínis. O mesmo vale para as bermudas e regatas masculinas crochetadas.

Nada nesta etiqueta surgida na pandemia e que já ocupa a maior sala de desfiles da São Paulo Fashion Week lembra roupa de vó ou, como diz seu nome, algo costurado pela mãe, embora certamente esta coleção tenha sido tecida com muito esmero por mulheres com experiência de vida e habilidade com as agulhas.

O penúltimo desfile da noite, da carioca Handred, teve como inspiração os intelectuais, boêmios e artistas que vivem no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, dentre os quais o pintor Arjan Martins, destaque da Bienal de São Paulo no ano passado.

Desfile da Handred na São Paulo Fashion Week no Komplexo Tempo - Rubens Cavallari/Folhapress

É o Rio do bem viver, que na passarela desfila ao som de jazz tocado ao vivo. Mantos com apliques de arcos de tafetá, conjuntos de blaser e calça bicolor em preto e branco, vestidos estampados com a paisagem da cidade, regatas semitransparentes com plumas e uma série de looks todos brancos, incluindo uma calça cargo folgada com a cara do verão.

As peças da coleção da marca que agora faz dez anos são pretensiosas e querem ser tratadas como obras de arte —não à toa são associadas ao universo dos artistas pelo diretor criativo André Namitala.

O último desfile do dia, o dos 50 anos da Ellus, não trouxe surpresas para quem conhece a marca, que revisitou peças-chave de seu guarda-roupa em uma passarela de luxo montada no hotel Rosewood, numa coleção bem comercial.

O preto reinou em calças e bermudas jeans oversize, jaquetas de couro, bolsas de vários formatos e tamanhos e botas estilo tratorado de solado alto, um tipo de calçado que está muito na moda.

A coleção trouxe também jaquetas, meias e vestidos com bastante brilho, num espírito de festa, uma clara homenagem ao aniversário da marca de Nelson Alvarenga. Destaque para uma camiseta de time de futebol com o número 50 escrito em azul cintilante nas costas.

Desfile Ateliê Mão de Mãe na São Paulo Fashion Week - Rubens Cavallari/Folhapress

"A moda hoje está muito em sintonia com toda a linguagem da Ellus. A Ellus é uma marca jeanswear, urbana, da metrópole, e os nossos códigos hoje estão muito fortes na moda mundial, nas marcas de fora", afirma Adriana Bozon, diretora criativa da marca.

Criada em 1972 e conhecida por seu vestuário em jeans e pelas botas e coturnos, a Ellus ajudou a definir a identidade da moda jovem no Brasil nas décadas seguintes, tornando suas peças desejáveis e exercendo influência sobre o mercado. Hoje, 60% do público da grife tem entre 18 e 35 anos.

O imaginário da marca foi construído com campanhas marcantes —a exemplo de um comercial de TV na virada para os anos 1980, ainda durante a ditadura, que mostrava um casal se despindo embaixo d’água—, e com a presença de top models, como quando Kate Moss desfilou para a grife na São Paulo Fashion Week nos anos 1990.

A marca teve um boom naquela década, junto com outras grifes que faziam parte da mesma esfera, como Zoomp e Triton. Estas acabaram sumindo com o tempo e tiveram tentativas de volta frustradas, mas a Ellus sobreviveu.

Para Bozon, "o segredo da longevidade é seguir uma identidade tanto de conceito, de branding, quanto de produto".

A 54ª edição da São Paulo Fashion Week vai até domingo, totalizando 48 desfiles, 43 dos quais presenciais. Esta é a primeira vez na qual foi possível comprar ingresso para ver as apresentações, e o comentário nos corredores do evento é que isso trouxe um público novo a um universo antes restrito a fashionistas.

Antes de cada desfile —que têm atrasado entre 30 minutos e uma hora— a passarela fica cheia de influenciadores e celebridades mais ou menos conhecidas posando para fotos. Todos querem divulgar suas arrobas, todos estão atrás de seus 15 segundos de fama nos stories do Instagram, e a principal arma dos frequentadores é montar o visual mais absurdo possível.

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