Descrição de chapéu
Alexandre Kellner

O Museu Nacional está mais vivo do que nunca quatro anos após incêndio

Não se pode desconhecer a resiliência daqueles que levantaram a cabeça e transformaram o luto em luta

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Alexander Kellner

É diretor do Museu Nacional/UFRJ

Em artigo publicado em setembro neste jornal, Giselle Beiguelman e Nathalia Lavigne vaticinaram que, passados quatro anos do incêndio, "o Museu Nacional não existe mais". Que elas me perdoem, mas não poderiam estar mais equivocadas!

Em que pese a enorme tragédia, o Museu Nacional da Univeridade Federal do Rio de Janeiro é uma instituição científica que realiza pesquisa e forma novos cientistas no campo das ciências naturais e da antropologia. E é esse o verdadeiro sentido da hashtag #MuseuNacionalVive, uma demonstração incontestável da força da instituição que, certamente, passou despercebida pela avaliação das autoras.

Fachada do Museu Nacional - Divulgação

Se não bastasse a relevante contribuição científica da instituição, nos últimos anos, centenas de pessoas e inúmeras instituições passaram a se dedicar aos esforços pela reconstrução! Podemos citar, por exemplo, o BNDES, o Instituto Cultural Vale, o Bradesco, a bancada dos deputados federais do Rio de Janeiro, o MEC e o MCTI, além da Secretaria Especial da Cultura por meio da Lei Rouanet.

A comoção, com expressiva adesão, não aconteceu apenas no Brasil. Governos, organizações, instituições e pessoas físicas aderiram a um movimento que, aos poucos, de forma responsável e transparente, recupera a sede da mais antiga instituição científica do país.

Cabe ressaltar a dedicação e o investimento do governo da Alemanha, que demonstrou imensa sensibilidade, com o estabelecimento de parcerias, apoio permanente e suporte financeiro, mediante a doação de € 1 milhão, imprescindíveis para os trabalhos do resgate e ações emergenciais.

Portugal acaba de anunciar um aporte de 50 bolsas de doutorado para os próximos cinco anos, que ajudarão na recomposição do acervo. Outros auxílios internacionais foram obtidos por intermédio do Instituto Goethe (Alemanha), Instituto Camões (Portugal), governo da França e British Council (Reino Unido).

Além disso, diferentes países manifestaram interesse em participar, como instituições da Áustria, da Holanda, da Itália e da Espanha. Sem contar a Unesco, parceira desde o início, que, além de conceder ao projeto importante chancela, tem, a partir de seus especialistas, realizado um trabalho excepcional. Em paralelo, instituições e particulares, do país e do exterior, têm feito doações expressivas para a recomposição dos acervos científicos e expositivos.

Mas de que adiantariam tantos apoios, parcerias e doações se não contássemos com o mais importante e com o que, de fato, mantém uma instituição viva e pujante: uma relação próxima e constante com a sociedade! Desde 2018, realizamos uma dezena de exposições em alguns dos mais importantes espaços para a ciência e a cultura do país.

Bienal de São Paulo, Centro Cultural Banco do Brasil, Arquivo Nacional, Planetário do Rio de Janeiro, Congresso Nacional, Centro Cultural Casa da Moeda e Cidade das Artes foram algumas das organizações que receberam, e ainda recebem, peças do museu, mantendo a instituição viva nas mentes e nos corações de milhões de pessoas.

Em celebração do bicentenário da Independência, reinauguramos a fachada do Palácio de São Cristóvão e pudemos abrir exposições com relevante (e novo!) acervo de mineralogia, estátuas centenárias e uma especial sobre o projeto Museu Nacional Vive na região do palácio —uma promessa cumprida!

Levando para o mundo digital, argumento principal das autoras, e sem discutir o que os likes e trends representam de fato, cabe uma reflexão sobre o exposto por elas. É importante lembrar que, poucos dias após o incêndio, o atual presidente da República, na época, candidato, foi esfaqueado, em um episódio gravíssimo e que compreensivamente tirou parte da atenção das demais tragédias.

Porém, ao longo dos últimos anos, com base nos anúncios relacionados às obras, a ação na parte acadêmica e em novas exposições, o Museu Nacional segue, e isso jamais mudará, uma referência mundial. Não é sem razão que jornais, emissoras de TV e agências de notícias de todo o mundo produzem, todos os anos, reportagens e documentários sobre as obras e sobre a instituição como um todo.

Recentemente, o documentário "Fênix: O Voo de Davi" conquistou prêmios e menções em festivais europeus, americanos e asiáticos, em clara demonstração do interesse que é crescente. Ademais, comparações do número de seguidores entre instituições museais demonstram a inquestionável posição de destaque do primeiro museu brasileiro!

Para concluir, é importante dizer que ninguém nega o tamanho da destruição. Igualmente, não se pode desconhecer a resiliência daqueles que levantaram a cabeça, arregaçaram as mangas e transformaram o luto em luta, atraindo pessoas e organizações para esse lindo, e vencedor, projeto. O Museu Nacional está mais vivo do que nunca!

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