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'Sra. Harris Vai a Paris' é natalino meloso feito para o ego britânico

Longa estrelado por Lesley Manville e Isabelle Huppert é água com açúcar reduzido a poucos encadeamentos agradáveis

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Sra. Harris Vai a Paris

  • Quando Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Lesley Manville, Isabelle Huppert e Jason Isaacs
  • Produção Reino Unido, Hungria, 2022
  • Direção Anthony Fabian

A senhora Harris é uma modesta trabalhadora cujo sonho é conhecer Paris. Não é fácil para quem vive de fazer faxina e alguma costura e vive em Londres, em 1957. Mas "Sra. Harris Vai a Paris" nos informa, desde o título, que ela conseguirá realizar seu sonho. O que é normal, em se tratando de um filme natalino, cuja essência é ser um conto de fadas do tipo que pode ser visto pela família inteira.

É verdade que houve um tempo em que filmes natalinos se chamavam "E.T.", digamos, e encantavam a garotada. Significavam, no mais, um pouco mais do que duas horas de diversão —há gente que passou a amar o cinema por causa dele e leva suas imagens consigo até hoje.

cena de 'Sra. Harris Vai a Paris'
Roxane Duran, Bertrand Poncet e Lesley Manville em cena de 'Sra. Harris Vai a Paris' - Dávid Lukács/Ada Films Ltd

Não é provável que isso aconteça com "Sra. Harris", que é bem água com açúcar. Será preciso, portanto, embarcar com decisão na ideia de conto de fadas para apreciar as 1.001 coincidências, mais felizes do que infelizes, que pontuam a sua jornada, antes de chegar ao que talvez seja o sentido oculto do filme.

Até lá, a senhora Harris lutará para realizar a segunda parte de seu sonho, pois queria ir a Paris para comprar um vestido da Dior. Uma faxineira londrina? Sim, claro, ela encontrará obstáculos e não poucas bruxas de nariz empinado. Também surgirão homens garbosos, no momento certo, para dar uma mão a ela. Da mesma forma, o receituário das "viradas" de roteiro —quando tudo vai bem e de repente vai mal, ou vice-versa— está todo ali.

É bom lembrar que o filme se passa em 1957, 12 anos após o fim da Segunda Guerra. Algumas feridas estão abertas –inclusive a senhora Harris recebe logo de cara a notícia de que era, oficialmente, uma viúva de guerra. Mas dá para superar o trauma, tal a bondade das pessoas que a cercam.

O mais importante do filme é que tudo se passará no exato momento em que o sindicato do lixo leva adiante uma vasta greve, que faz de Paris uma cidade malcheirosa. A greve até terá uma relação com o que se passa na maison Dior. O essencial, no entanto não é tanto o momento histórico quanto o momento histórico do filme.

Como sabemos todos, a Inglaterra é a pátria do neoliberalismo, que se construiu, sob a primeira-ministra Margaret Thatcher, ao longo de uma batalha cujo centro foi um embate feroz com os sindicatos, vencida por Thatcher, afinal.

De seu legado é possível que faça parte o famoso brexit, que marcou a saída do Reino Unido da União Europeia, ou ao menos que isso seja atribuído a ela, bem como as inúmeras, aparentemente insolúveis, dificuldades por que passa a economia britânica.

O mal-estar do presente talvez seja a mais forte razão para que o filme retorne a 1957 e faça da senhora Harris, a horas tantas, uma verdadeira sindicalista, pronta a virar Paris de pernas para o ar.

Toda a magia de "Sra. Harris" pode de fato ser um belo consolo para o espectador britânico. Mas não para o mundo. Em matéria de filme água com açúcar, "Um Lugar Chamado Notting Hill", por exemplo, sabia ser mais atraente. Aqui restam alguns encadeamentos agradáveis —em especial antes da senhora Harris se deslocar a Paris—, num conjunto de facilidades.

Pode até ajudar as crianças a passar o tempo, mas não encantar ninguém.

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