Descrição de chapéu
Teté Ribeiro

Harry Styles esbanja simpatia e sex appeal na turnê 'Love on Tour'

Turnê do cantor inglês que durou mais de um ano fez seu penúltimo show ontem à noite, em São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Quando entrou no palco do estádio do Palmeiras na noite da última terça-feira, com um dos piores figurinos da turnê, dava para ter a ilusão passageira de que Harry Styles, na verdade, não é tudo isso.

Vestia um macacão de paetê listrado de preto e rosa com um decote em V quase até o umbigo e um corte na cintura que por vezes fazia parecer que ele tinha uma barriguinha baixa, tipo pochete, e não favorecia em nada sua bunda, muito estreita, com os dois glúteos muito grudados e, pasme, levemente caída.

As 45 mil pessoas que lotavam o campo de futebol e quase toda a arquibancada, afinal, já mostravam que não precisavam do músico para viver uma experiência catártica. Antes mesmo do show começar, o público cantava aos berros letras inteiras de músicas da banda One Direction, que o revelou, mas também de David Bowie e do Queen.

Montagem das tatuagens de Harry Styles
Montagem das tatuagens de Harry Styles - Reprodução

A versão karaokê de "Bohemian Rhapsody", com seus quase seis minutos de duração, foi entoada com afinação e potência por adolescentes, jovens adultos e senhoras espevitadas de meia idade, desde o poeminha que abre a letra até o final melancólico da canção, passando pelos agudos do trecho mais operístico. Lindo.

Harry Styles tem 4 peitinhos, dois nos lugares normais, onde todo mundo tem, e dois extras, menorzinhos, mais para baixo na barriga, um de cada lado e em alturas diferentes. Essa é uma alteração anatômica geralmente inofensiva chamada politelia ou mamilos supranumerários.

O decote do macacão não era cavado o suficiente para exibir nenhum peitinho, só deixava o corpo dele meio esquisito. Alto e magro, Harry Styles tem também os ombros levemente virados para frente e uma corcundinha.

Mas é isso de problema. O resto é tudo muito bom. O show começou com uma garoa fina, daquelas de frisar os cabelos. Mas não os dele, castanhos, brilhantes, volumosos, com um corte sem muita definição e que ele ajeita com a mão mesmo, para trás, o que dá uma quebrada bem boa no look como um todo, que poderia tender para o exagero.

Também não tinha feito nem a barba nem as unhas, estava com o rosto parcialmente coberto de pelos, mais grossos no bigode, com falhas na barba. O peito, à mostra no citado decote, não é totalmente liso, mas está longe de ser um Tony Ramos. Tem pelos nas axilas, quantidade normal, não raspa nem depila. As mãos estavam sem esmalte, acessório que ele põe e tira sem seguir muita regra nem dar nenhuma explicação. Alguns anéis grossos nos dedos e só.

Ele anda rápido pelo palco, fala com o público de um lado, de outro, da frente, de trás. Lembra-se que já faz quatro anos desde a última vez que veio ao Brasil, e que estava com "saudade". Aprendeu também a dizer "oi, galera", "tudo bem com vocês", essas frases que quase todo estrangeiro que vem fazer shows no Brasil decora. Mas ele vai além, e conta que tem uma missão até ir embora do país, encontrar o melhor pão de queijo da cidade.

Tudo fofinho e gentil. Mas quando você está quase pronta para encaixá-lo nesse rótulo inofensivo, eis que ele pede a atenção do público para a nova palavra que aprendeu em português, e, apontando para a própria bunda, diz: "raba". Não rabo, raba, no feminino, como se diz no pajubá, a linguagem de origem iorubá e nagô apropriada pela comunidade LGBT. Então pergunta se o público está pronto para "shake your rabas" junto com ele, que dança sem a menor técnica, mas com um suingue que Deus me livre.

E tem o rosto, tão bonito, aquelas sobrancelhas sutis e as expressões que ele faz no palco, alternando concentração para cantar, conversinhas com o público e os sorrisos sacanas, que revelam uma covinha só, no lado esquerdo, e os dentes muito brancos. Mas não aquele branco papel sulfite que até agride quem olha. É tudo natural. Aparentemente, Harry Styles é o resultado de um capricho da natureza, que parece ter decidido que seria ele o sorteado com o melhor de tudo.

Os olhos amendoados e o queixo marcado foram considerados os mais simétricos do mundo pelo Centro de Estética Facial e Cirurgia Plástica de Londres. Mas essa é só uma daquelas informações que não chegam a emocionar.

O que emociona é o conjunto, o tanto que fica evidente que aquele menino lindo, talentoso, divertido e simpático está se divertindo mais do que todo mundo naquela arena. E não vai sossegar enquanto não garantir que o público esteja na mesma vibe.

O pior é que ele só tem 28 anos. Nem sabe ainda o quanto vai ficar tudo melhor depois dos 30. A ver se esse sucesso todo não tem nenhuma consequência nefasta. Por sorte (mais uma), ele é inglês. E, na Inglaterra, por mais famoso que um artista seja, ele nunca chega a desbancar o herdeiro do trono, ou o rei, a rainha. Talvez seja essa a grande vantagem de se viver em uma monarquia —estraga uma família só, e protege a sanidade mental de (quase) toda classe artística.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.