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Documentário sobre Little Richard lembra o 'verdadeiro rei do rock' em Sundance

Dirigido por produtora de 'Preciosa', 'Little Richard: I Am Everything' aprofunda pioneiro queer, negro e silenciado

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Los Angeles

Gay e hétero, pastor de igreja e viciado em drogas, Little Richard amava uma orgia, mas deixava a festa para ir ler a Bíblia. As contradições da lenda do rock 'n’roll são tantas que ajudaram a diretora a decidir o nome do seu filme, "Little Richard: I Am Everything", que abriu a competição de documentários americanos do Festival Sundance.

Little Richard
Cena de 'Little Richard: I Am Everything', filme de Lisa Cortes exibido no festival de Sundance - Sundance Institute

Criador de alguns dos primeiros hits da história do rock nos anos 1950, como "Tutti Frutti", "Long Tall Sally", "Lucille" e "Good Golly, Miss Molly", Richard (1932-2020) surge também como um pioneiro queer, deliciosamente debochado e montado. "Sou o Liberace de bronze", declara.

Mas Richard ficou mais conhecido como o "arquiteto do rock", e o próprio também se intitulava o "verdadeiro rei do rock", numa provocação a Elvis, que fez cover de suas músicas e encontrou sucesso muito maior. O próprio Elvis concedia que o colega era sua inspiração e o real dono do trono.

A direção é de Lisa Cortés, produtora veterana —incluindo "Preciosa", indicado ao Oscar de melhor filme— que estreou na direção com "The Remix: Hip Hop X Fashion", de 2019, sobre as influências do estilo musical na moda, e "Até o Fim: A Luta pela Democracia", de 2020, sobre a campanha da democrata Stacey Abrams contra supressão de votos na Geórgia.

Cortés contou ao público de Sundance que Richard a inspirou a "colorir fora das linhas" e dar voz aos que foram silenciados por serem "ousados demais, negros demais ou queer demais". "Queria explodir a história embranquecida do rock 'n’roll", disse.

"Qual o problema com contradições? Acredito que é da onde vem a magia", continuou. "Ele era como uma bolinha preta brilhante de pinball, entre deus, sexo e rock 'n’roll. Foi seu espírito selvagem e abrangente que nos deu a liberdade de ser quem somos hoje."

O desfile de pioneiros do rock que aparecem para falar de Richard dá o peso da sua importância na história da música. Os Beatles aparecem numa foto com Richard, sorrindo como se estivessem na presença de deus, numa época em que nem tinham um álbum gravado.

Mick Jagger, David Bowie, Prince e muitos outros aparecem como seus discípulos, assim como o diretor John Waters, que revela que seu bigodinho fino é uma homenagem ao músico. "Naquela época, a música era muito estática. Richard nos mostrou como podíamos tomar o palco todo", comenta Jagger, cujos Rolling Stones abriram para Little Richard em 1963.

O filme volta à infância de abusos de Richard Wayne Penniman, nascido na pequena e ultra religiosa Macon, na Geórgia, um de 12 filhos. Logo cedo foi expulso de casa por ser gay e encontrou abrigo nos donos brancos de um bar gay na cidade. Lá ele começou a cantar pela primeira vez, blues e gospel. Até que, aos 14 anos, foi convidado a abrir o show de Sister Rosetta Tharpe, a mãe do rock 'n’roll e sua cantora favorita.

Com o gostinho da fama, caiu na estrada com uma trupe de artistas que se apresentavam pelo sul dos EUA. Foi quando se apresentava em drag como Princess LaVonne. O primeiro hit viria uma década depois, com "Tutti Frutti", uma canção originalmente sobre sexo anal, cujas letras foram "limpadas" com ajuda da compositora Dorothy Labostrie.

Sua vida gay, no entanto, teve altos e baixos. "Fui gay a vida toda. Fui uma das primeiras pessoas gays a sair do armário", ele disse numa entrevista na TV em 1982. "Mas Deus fez Adão para ficar com Eva, e não Steve", ele continuou, explicando que agora era hétero.

A primeira volta religiosa do músico aconteceu numa turnê na Austrália, em 1957, quando seu avião passou por uma turbulência pesada e ele avistou anjos da janela. Richard largou a turnê no meio para voltar aos EUA, estudar religião e casar com sua primeira mulher. Cinco anos depois, no entanto, estava de volta aos palcos da Europa, mais gay do que nunca.

A Magnolia Pictures comprou os direitos internacionais do documentário e pretende lançá-lo em abril. A HBO Max ficou os direitos globais de streaming, sem previsão de lançamento.

Little Richard: I Am Everything

  • Elenco Tom Jones, Mick Jagger, Paul McCartney
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Lisa Cortes
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