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Gal Costa

Festival de Verão emociona com encontros e clima de Carnaval

Caetano com Gil e BaianaSystem com Olodum foram os auges do evento em Salvador, que busca posto entre os maiores do país

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Salvador

Em 2023, após três anos de incertezas e idas e vindas causados pela pandemia de coronavírus, a agenda de shows do Brasil voltou a todo vapor. A sensação é de que nunca houve tantos festivais e se destacar não tem sido uma tarefa simples.

O Festival de Verão Salvador, que reuniu 80 mil pessoas —metade em cada dia do último fim de semana, segundo a organização— encontrou seu caminho através dos encontros, e conseguiu promover momentos memoráveis para a música brasileira.

Caetano Veloso e Gilberto Gil no Festival de Verão
Caetano Veloso e Gilberto Gil no Festival de Verão de Salvador - Saulo Brandão

Foi o que aconteceu na noite do sábado, quando Gilberto Gil recebeu Caetano Veloso para homenagear Gal Costa, morta ano passado. Quando Caetano abriu os botões, tirou e jogou no chão a camisa que vestia, revelando por baixo dela uma camiseta com a palavra Gal, a sensação é de que havia se aberto um portal. Algumas pessoas choravam, outras pulavam —misto de emoções que se refletiam no palco.

Exímio musicista, Gil se esqueceu de cantar a segunda estrofe de "Divino Maravilhoso" —canção que a dupla compôs para Gal—, depois errou outra entrada. Pouco importava para a plateia, assim como pouco importou o que saía do microfone de Caetano em "Luz de Tieta", cantada tão alto pelos baianos, àquela altura já tocados pelo repertório de Gil e a lembrança de Gal, que era difícil ouvir os amplificadores.

Gil é figura carimbada nos palcos Brasil afora, mas o que fez no Festival de Verão foi diferente. O mesmo aconteceu com o show de BaianaSystem e Olodum, no domingo, para a plateia mais abarrotada e eufórica do evento.

Num calor de 30 graus à noite, os grupos levaram a cabo o conceito de colaboração proposto pelo festival. Enquanto a maioria das atrações dividiram o palco por três ou quatro faixas —muitas vezes com o artista principal saindo de cena para deixar o convidado brilhar sozinho—, o Olodum-Baiana promoveu uma fusão completa.

No palco, eles foram um único organismo, unindo o passado e o presente da música percussiva baiana e imaginando o futuro dela. O samba-reggae deu a robustez dos graves orgânicos ao caldeirão sonoro afro diaspórico do BaianaSystem, que tornou o Olodum ainda mais agressivo.

As rodas de bate-cabeça apoteóticas do BaianaSystem foram intercaladas com os momentos de balanço mais cadenciado do Olodum, como se brincassem de manipular o movimento dos corpos de formas variadas a partir dos tambores. Foi suado e energético como o Carnaval, mas foi além.

Em termos de euforia, quem também se destacou foi Bell Marques, cujos hits do Chiclete com Banana parecem inesgotáveis. A outra foi Ivete Sangalo, incansável e carismática como sempre, ainda que seu show, um tanto longo para a madrugada, tenha tido momentos arrastados.

A participação de Luedji Luna foi um momento de frescor, cantando com Ivete "Banho de Folhas". Essa música parece já ter se estabelecido como um sucesso inevitável da música baiana, com uma atmosfera de melancolia e confusão suaves que só a deixam mais interessante nesse contexto.

Em relação a Marques, também ícone da axé music dos anos 1990, Ivete consegue fazer suas apostas recentes terem maior aderência que o ex-Chiclete com Banana. Quando não canta sucessos da antiga banda, ele pena para manter o apelo.

A união de Carlinhos Brown com Àttooxxá, que ainda teve uma deslocada Duda Beat, também foi um dos pontos altos. Na esteira do Olodum-Baiana, a parceria uniu gerações e abordagens diferenciadas porém complementares dos tambores baianos, do Timbalada ao pagodão.

Se o melhor ficou por conta dos encontros, quem menos se destacou foi quem se misturou menos. Pitty cantou um punhado de hits seus com Jão, este muito querido pelos mais jovens, em maior número no domingo.

Nesse dia cantou Luísa Sonza, puxando faixas dançantes para a juventude do TikTok e sofrências interpretadas aos gritos. Mas quem roubou a cena foi Alcione, que em quatro músicas distribuiu os vocais mais profundos com a naturalidade de quem toma uma xícara de café.

Alguns números pareciam pequenos shows dentro de outros shows, o que acabou não tendo tanto impacto. Foi assim com Criolo e Ney Matogrosso , que apesar do show empolgante, deixaram no ar o que poderia ter sido se o repertório tivesse sido mesclado por todo o show.

O mesmo se deu com Margareth Menezes, agora ministra —celebrada pelo público, que "fez o L", como tal—, que continua um furacão ao microfone. Larissa Luz e Majur tiveram uma presença interessante no show dela, mas não houve fusão verdadeira.

Com palcos dinâmicos, intervalo curtíssimo de cinco minutos entre os shows e escalação recheada de ineditismo, o Festival de Verão parece ter achado um norte para se restabelecer entre os maiores. Considerando público, transmissão na TV e a capacidade de criar momentos únicos, o caminho não será longo.

O jornalista viajou a convite do festival

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