Mostra sem pinturas quer saber onde está o sagrado na arte contemporânea do país

Exposição em São Paulo traz recorte da coleção de Vera e Miguel Chaia, com ênfase em nomes contemporâneos

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São Paulo

Como se encontra o sagrado em obras de arte contemporâneas? Esta é a pergunta que guia a exposição "Tridimensional: Entre o Sagrado e o Estético", formada por um recorte da coleção particular de Miguel e Vera Chaia, com abertura para o público a partir deste sábado, em São Paulo, na galeria Arte 123.

A resposta para a questão, na visão dos organizadores da mostra, se encontra em 50 trabalhos de 35 artistas que versam sobre as diferentes possibilidades de interpretação do conceito de sagrado. A seleção não conta com nenhuma pintura.

Embora reconheçam a importância da técnica, os organizadores se baseiam no pensamento do expoente americano do minimalismo Donald Judd para justificar o fato de todas as obras na mostra serem tridimensionais. A força das três dimensões "simula e aumenta o objeto real, para equipará-lo a uma forma emocional", escreveu ele.

Detalhe da obra 'Gotas Vermelhas' (1997), de Efrain Almeida - Everton Ballardin/Divulgação

Na mostra, sagrado pode ser o sangue de Cristo, representado pelo vinho dentro de uma ampola de vidro na obra de Valeska Soares ou pelos fios vermelhos, simbolizando as chagas, que saem das mãos de madeira executadas por Efrain Almeida.

Sagrada talvez seja a ascensão aos céus, sugerida por uma escada de aço inox de Artur Lescher que "liga" as dimensões sagrada e terrena, ou mesmo a negação deste conceito, como no caso de uma escultura de ferro de José Resende que lembra uma cruz invertida, o anticristo.

Segundo o texto que acompanha a exposição, o sagrado na mostra "é entendido no seu significado amplo de religioso, venerável, ritualístico, mítico, alquímico e metafísico —centrado nas questões do corpo e da sociabilidade".

Seja como for, as materializações do sublime na galeria Arte 132 são telas, objetos e esculturas, todas em três dimensões, de artistas contemporâneos brasileiros em diferentes estágios de suas carreiras.

Não há obras sacras ou religiosas em si —o divino é sugerido pelo tema dos trabalhos, pela proposta dos curadores ou até mesmo pelo material com o qual as obras são feitas, a exemplo da placa de mármore empregada por Carlos Fajardo, o mesmo usado em túmulos.

As obras fazem parte da coleção do casal Vera e Miguel Chaia, que começou a ser formada na década de 1970 e hoje conta com centenas de peças. O acervo é composto basicamente por artistas contemporâneos que imprimem certa carga dramática em seus trabalhos, segundo Miguel, sociólogo e professor de teoria da arte na PUC de São Paulo.

Nenhuma das obras expostas está à venda, numa prática contrária à operação habitual de uma galeria de arte. Miguel diz que, no futuro, pretende doar sua coleção para algum museu universitário.

Tridimensional: Entre o Sagrado e o Estético

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