Descrição de chapéu
Televisão

'The Last of Us' emula jogo na TV, mas anda com as próprias pernas

Nova produção da HBO estrelada por Pedro Pascal engrossa coro de videogames adaptados para as telas nos últimos anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The Last of Us

  • Quando Domingo (15), às 23h
  • Onde HBO e HBO Max
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Pedro Pascal, Bella Ramsay
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Neil Druckmann, Craig Mazin

O jogo de videogame "The Last of Us", com seu primeiro volume lançado há mais de dez anos pelo estúdio Naughty Dog, oferece uma narrativa pós-apocalíptica simples, baseada em trilhos, com jogabilidade pré-determinada e soluções únicas mesmo na ação. Por isso mesmo, a produção não aparentava oferecer obstáculos de tradução para outros meios.

Num mundo tomado por zumbis criados por fungos mutantes, os sobreviventes Joel, vivido por Pedro Pascal, e Tess, interpretada por Anna Torv, acabam encarregados de transportar com segurança Ellie, encarnada por Bella Ramsey, jovem que carrega uma cura para as infecções fúngicas que dizimaram a humanidade.

No jogo, é notável o quanto assumir a perspectiva dos protagonistas Joel e Ellie é fundamental no envolvimento com a lenta aproximação emocional dos dois. Como outros projetos da Naughty Dog, isso está inscrito na mecânica do game.

Nico Parker e Pedro Pascal em cartaz da série "The Last of Us", da HBO Max
Os atores Nico Parker e Pedro Pascal em cartaz da série 'The Last of Us', da HBO Max - Divulgação

É o desafio de qualquer adaptação do formato, que tece relação profunda com o público pela interação. Boa demonstração disso é o filme de "Uncharted", baseado em outra franquia de sucesso do estúdio e que falha ao emular cenas dos jogos para fins de perfumaria.

Reproduzir a intimidade criada entre personagens e jogador quando ele se torna espectador é o desafio da adaptação de "The Last of Us" para a TV, feita pela HBO.

O incômodo vem da repetição. Se fidelidade ao material é o totem maior de respeitabilidade entre os fãs, o seriado "The Last of Us" responde à altura. Cenários e caracterizações são virtualmente idênticos, e há poucas variações entre o curso da trama do game e do seriado, comandado por Craig Mazin e o criador do jogo, Neil Druckman.

A primeira temporada reconta todo o primeiro jogo. O piloto reproduz quase quadro a quadro a tragédia do passado de Joel e fica longo e sonolento. Mas, depois, a série ganha corpo ao acontecer em duas frentes. Enquanto acompanha a jornada dos personagens no mundo devastado, usa o recurso dos flashbacks para contar histórias paralelas e relacionadas. Pouco se vê dos zumbis em cena —ainda que seu impacto seja sentido quando aparecem.

Por mais simples que seja, essa nova dinâmica muda o andamento dos episódios, sobretudo para lidar com a relação de paternidade formada pelas circunstâncias entre Joel e Ellie.

Sem o grau de interação dos jogos, Mazin apela para a dramaturgia clássica, que ressignifica o presente a partir de vislumbres do passado. Nunca se esconde tal estratégia do espectador, aliás. É recorrente o ato de ver cenas inteiras repetidas por outro ângulo, e os arcos duram dois episódios para reforçar ponto e contraponto.

Mais interessante, porém, é que Mazin e Druckmann aproveitam essa reordenação para preencher o universo pós-apocalíptico, multiplicando as perspectivas assumidas. A manobra faz sentido, em especial quando se pensa que as particularidades do mundo no jogo não iam além da origem dos zumbis nos fungos.

Nesse sentido, porém, a série oscila em erros e acertos, ainda mais porque o ritmo episódico não oferece expansividade e não escapa da sensação ruim de fases a serem superadas. Como no game, é frustrante entender o status do enfrentamento dos militares com os rebeldes, apelidados "vagalumes", bem como a lógica dos grupos isolados dentro disso. A produção também patina quando tenta verbalizar as dores dos protagonistas, em vez de as seguir implicando nos flashbacks e ação.

Ao mesmo tempo, são as pequenas histórias que dão a "The Last of Us" seus melhores momentos. Afinal, é na ótica do que sobrou "dos últimos de nós" que reside seu mote.

Mazin compreende isso e permite que a história de Joel e Ellie seja a espinha dorsal do seriado. O terceiro episódio, que traz a fórceps um conto isolado de personagens secundários que apenas tangenciam a vida dos protagonistas, se destaca por encapsular a narrativa maior, que traz o peso da solidão e a maneira como nossas relações funcionam como pequenas salvações.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.