Bienal Sesc Videobrasil faz 40 e mira países excluídos; veja artistas selecionados

Mostra chega à 22ª edição com conjunto de nomes do Sul Global e repensa sua história a partir de poesia de Waly Salomão

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São Paulo

"A memória é uma ilha de edição." A frase de um poema de Waly Salomão funciona como mote central da próxima edição da Bienal Sesc Videobrasil, tradicional evento do calendário das artes que completa este ano quatro décadas de existência olhando para a sua história.

Com a próxima edição programada para acontecer de 18 de outubro a 28 de abril de 2024, novamente no Sesc 24 de Maio, na região central de São Paulo, a bienal publica nesta terça-feira (28) a lista dos 60 artistas selecionados, escolhidos entre os mais de 2.300 inscritos numa chamada aberta divulgada por oito curadores em vários países do mundo.

Imagem de vídeo de Maisha Maene, artista do Congo - Divulgação Sesc Videobrasil

Deste total, cerca de 15 são brasileiros, nove representam a Europa e oito nomes vêm do continente africano —há também participantes da Ásia e do Caribe. Em linhas gerais, a mostra buscou atrair artistas do chamado Sul Global, um espaço geopolítico historicamente marginalizado no circuito das artes mas que vem ganhando protagonismo de uns anos para cá.

Leila Danziger vai apresentar uma banca de jornal móvel que estará em diferentes lugares do Sesc, reunindo trabalhos de várias fases da carreira da artista, que lida com a apropriação de matérias de jornais de grande circulação.

Do Congo, uma cooperativa de trabalhadores de plantações mostrará um NFT de uma obra que está num museu americano —os artistas queriam que o trabalho fosse repatriado, mas a instituição se recusou-- e também esculturas impressas em 3D.

Serão também mostrados trabalhos de Ali Cherri, libanês radicado na França que teve bastante destaque na Bienal de Veneza do ano passado, e do chileno Seba Calfuqueo, participante da Bienal de São Paulo em 2022 e que tem um trabalho dedicado a pensar o lugar dos mapuches na América Latina.

A busca do festival é "tentar descentralizar as narrativas em torno da arte contemporânea", diz uma das curadoras, a queniana Renée Akitelek Mboya, enfatizando que os centros de poder na arte hoje são espaços ocidentais e brancos. Para a diretora artística Solange Farkas, trata-se de forjar alianças entre os praticantes culturais de países do Sul Global, alguns dos quais têm semelhanças com o Brasil.

Como o festival está completando 40 anos em 2023, os artistas foram instados a enviarem produções sobre a memória. "As perspectivas com as quais vimos os artistas responderem a este tema são dinâmicas e diversas", afirma Mboya, acrescentando que há trabalhos que lidam com histórias familiares, comida, arquivos e até autorretratos.

Farkas comemora o fato de, durante as décadas de vida da mostra, o vídeo ter passado a ocupar posição central nas artes visuais, ou seja, ter saído do lugar de especificidade do suporte. Além disso, ela afirma, a bienal ocorre num momento no qual o vídeo se tornou onipresente no mundo contemporâneo, especialmente depois da pandemia.

A exposição teve a sua primeira edição em 1983 totalmente focada em videoarte, mas com o passar dos anos foi se abrindo para outras linguagens artísticas, embora a predominância ainda seja de trabalhos que lidam com o vídeo de uma forma ou de outra. Segundo Farkas, mais da metade dos inscritos enviaram obras neste formato para a comissão de seleção.

Os curadores Raphael Fonseca e Renée Mboya contaram com a ajuda de outros seis colegas —Amanda Carneiro (Brasil), Ana Sophie Salazar (Portugal), Nomaduma Masilela (Estados Unidos/Alemanha), Siddharta Perez (Singapura), Tereza Jindrová (Tchéquia) e Ying Kwok (Hong Kong)— para ampliar em suas redes o alcance da chamada de seleção de obras para a exposição, buscando artistas que estivessem situados nas "periferias do mundo, entre muitas aspas", afirma Farkas.

A ideia era sair da lógica das bienais de arte, nas quais os participantes são convidados pelos curadores a participar, ao invés de concorrerem.

Artistas participantes da 22ª Bienal Sesc Videobrasil

  • Abdessamad El Montassir, Marrocos
  • Abdul Halik Azeez, Sri Lanka
  • Abu Bakarr Mansaray, República da Serra Leoa
  • Adrian Paci, Albânia
  • Agnes Waruguru, Quênia
  • Ailton Krenak, Brasil
  • Ali Cherri, Líbano
  • Alicja Rogalska, Polônia
  • Andrés Denegri, Argentina
  • Andro Eradze, Geórgia
  • Anna Hulačová, República Tcheca
  • Antonio Pichilla Quiacain, Guatemala
  • Arturo Kameya, Peru
  • Bo Wang, China
  • Brook Andrew, Austrália
  • Camila Freitas, Brasil
  • Cercle d'Art des Travailleurs de Plantation Congolaise (CATPC), Congo
  • Doplgenger, Sérvia
  • Eduardo Montelli, Brasil
  • Euridice Zaituna Kala, Moçambique
  • FAFSWAG, Nova Zelândia
  • Froiid, Brasil
  • Gabriela Pinilla, Colômbia
  • Guadalupe Rosales, Estados Unidos
  • Hsu Che-Yu, Taiwan
  • Isaac Chong Wai, Hong Kong
  • Iwantja Arts, Austrália
  • Janaina Wagner, Brasil
  • Josué Mejía, México
  • Julia Baumfeld, Brasil
  • Karel Koplimets, Maido Juss, Estônia
  • Kent Chan, Singapura
  • La Chola Poblete, Argentina
  • Leila Danziger, Brasil
  • Maisha Maene, Congo
  • Maksaens Denis, Haiti
  • Marie-Rose Osta, Líbano
  • Maurício Chades, Brasil
  • Mayana Redin , Brasil
  • Mella Jaarsma , Indonésia
  • Moojin Brothers, Coreia do Sul
  • Natalia Lassalle-Morillo, Porto Rico
  • Nolan Oswald Dennis, Zâmbia
  • Pamela Cevallos, Equador
  • PENG Zuqiang, China
  • Rodrigo Martins, Brasil
  • Sada [regroup], Iraque
  • Samuel Fosso, Camarões
  • Seba Calfuqueo, Chile
  • Sofia Borges, Portugal
  • TANG Han , China
  • Thi My Lien Nguyen, Vietnã/Suíça
  • Tirzo Martha, Curaçao
  • Tromarama, Indonésia
  • ujjwal kanishka utkarsh, Índia
  • Virgílio Neto, Brasil
  • Vitória Cribb, Brasil
  • Waly Salomão, Luciano Figueredo, Oscar Ramos, Brasil
  • Youqine Lefèvre, China
  • Zé Carlos Garcia, Brasil
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