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Entenda o mistério sobre a morte de Pablo Neruda, que pode ter sido envenenado

Poeta ingeriu bactéria dias antes de golpe no Chile, dizem cientistas, mas antes a morte era atribuída a um câncer

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São Paulo

O escritor e diplomata chileno Pablo Neruda morreu envenenado, divulgou a Rodolfo Reyes, advogado e sobrinho do autor na última terça-feira (14). A confirmação elucida a teoria conspiratória de que Neruda havia sido assassinado, e não vítima de um câncer de próstata.

Segundo a agência de notícias EFE, a perícia realizada por especialistas concluiu que o escritor tinha a bactéria Clostridium botulinum alojada em seu sistema quando morreu, em 1973, aos 69 anos, 12 dias após o ditador Augusto Pinochet assumir o poder no país.

O escritor e diplomata chileno Pablo Neruda, em Paris, em 1971, falando à imprensa após vencer o Nobel de literatura - AFP

A bactéria é conhecida por produzir uma toxina que causa o botulismo, uma doença não contagiosa que pode paralisar a musculatura respiratória. A Clostridium botulinum é encontrada no solo, em fezes humanas ou de animais e em alimentos.

A versão divulgada pela ditadura foi a de que o poeta, filiado ao Partido Comunista Chileno, havia morrido por insuficiência cardíaca causada pelo câncer de próstata com o qual ele havia sido diagnosticado em 1969.

A investigação foi feita a pedido de Reyes, sua advogada particular, Elizabeth Flores, e conduzida por especialistas da Universidade McCaster, no Canadá, e da Universidade Copenhague, na Dinamarca.

Reyes afirma que não há nenhuma outra razão para a bactéria estar no sistema do tio além da intenção de o matarem. A perícia ainda está em busca de descobrir como a Clostridium botulinum foi parar dentro do corpo de Neruda e quem é o responsável por isso.

"Foi intervenção direta de terceiras partes", afirmou o sobrinho. Reyes conta que o tio pretendia se exilar no México para fazer oposição a Pinochet, cujo regime perdurou até 1990.

Flores, por sua vez, disse que embora tivesse câncer, sentisse dores e tivesse dificuldade para andar, Neruda não estava perto da morte.

Ainda de acordo com a agência de notícias a família de Neruda continua a apoiar a versão de Manuel Araya Osorio, motorista particular do poeta apontado pelo Partido Comunista.

Osorio afirmava ter testemunhado Neruda ligar para a esposa, Matilde Urrutia Cerda, após um médico dar uma injeção na barriga do escritor. Neruda dizia acreditar que o médico, na verdade, era um agente da ditadura incumbido de matá-lo a mando de Pinochet. Neruda morreu naquele mesmo 23 de setembro.

A perícia foi realizada após os restos mortais de Nerudas serem exumados da casa dele na região costeira da Isla Negra em 2013. A exumação, por sua vez, decorre de uma ação judicial movida por Flores com o Partido Comunista dois anos antes.

Em 2015, o governo da então presidente Michele Bachelet já havia publicado uma nota no jornal El País afirmando que era "claramente possível e altamente provável" que a morte de Neruda pudesse ser motivada por "intervenções de terceiras partes".

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