Descrição de chapéu Festival de Berlim

Festival de Berlim se debruça sobre Guerra da Ucrânia com documentário de Sean Penn

Comédia com Anne Hathaway abre evento liderando uma programação sem foco, mas que não ignora obras brasileiras

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Madri

No ano passado, quatro dias após o fim do festival de cinema de Berlim, a Rússia invadiu a Ucrânia e deu início a uma guerra que já abateu mais de 200 mil soldados e matou cerca de 40 mil civis, segundo estimativa dos EUA.

A Alemanha foi um dos países mais afetados da Europa, devido à interrupção da venda do gás pela Rússia, usado principalmente para aquecer as casas de sua população.

O ator e diretor Sean Penn e o presidente da Ucrânia Volodimir Zelenski em cena do documentário 'Superpower'
O ator e diretor Sean Penn e o presidente da Ucrânia Volodimir Zelenski em cena do documentário 'Superpower' - Divulgação

Assim, nada mais natural que o festival, conhecido como Berlinale, dê seu pontapé inicial lembrando o assunto em sua noite de abertura, nesta quinta-feira (16), que terá participação remota do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. O primeiro aniversário da guerra acontece na sexta-feira da semana que vem (24), dois antes do término do evento.

"A Berlinale, juntamente com todos os cineastas e participantes, expressa solidariedade com o povo da Ucrânia em sua luta por sua independência e condena veementemente a guerra de agressão russa contra a Ucrânia. Nossos pensamentos e solidariedade estão com as vítimas, a população sofrida, os milhões que deixaram a Ucrânia e os artistas que ficaram defendendo o país e continuam filmando a guerra", divulgaram nesta quinta, em nota conjunta, os diretores da Berlinale, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian.

O filme mais interessante dessa lavra deve ser "Superpower", o documentário de Sean Penn sobre o conflito. A história é ótima pois Penn e o co-diretor Aaron Kaufman estavam filmando em Kiev no dia 24 de fevereiro quando a invasão de Putin os tomou, e ao mundo, de assalto. Assim, foram testemunhas na primeira fila e de primeira hora das explosões que começaram a abalar a cidade.

Outro documentário que aborda a situação é "W Ukrainie", de Piotr Pawlus e Tomasz Wolski. O filme capta ruas bombardeadas, tanques russos destruídos, refeições noturnas em uma estação de metrô transformada em abrigo, buscando traduzir a realidade de um país invadido.

Talvez a estreia mais esperada seja a do filme que será exibido na abertura, "She Came to Me", de Rebecca Miller, por trazer estrelas conhecidas do público. Fora da competição, Peter Dinklage, Marisa Tomei e Anne Hathaway dividem a tela nessa comédia à la Romeu e Julieta ambientada em uma América dividida.

Um tanto sem foco, a programação se diz "a mais aberta possível a todas as formas cinematográficas". Assim, filmes de animação, documentário, comédia e melodrama, dramas e de época, estão entre os 18 títulos que concorrerão ao Urso de Ouro (melhor filme) e ao Urso de Prata (oito categorias, incluindo direção, atores, roteiro e curta-metragem).

Dezenove países assinam as produções, sendo que 15 deles farão suas estreias mundiais em Berlim. Seis delas foram dirigidos por mulheres. A presidente do júri é a atriz americana Kristen Stewart.

Entre eles, uma comédia digna de nota é "Blackberry", de Matt Johnson, que conta a espetacular ascensão e queda dos blackberries, os primeiros smartphones do mundo. Já o francês Philippe Garrel coloca sua própria família nos papéis de "Le Grande Chariot", que mostra uma família de marionetistas em decadência.

Em "Manodrome", de John Trengove, o ator Jesse Eisenberg faz um homem que entra um culto à "masculinidade libertária", despertando desejos reprimidos e, como consequência, perdendo o controle da realidade. O alemão Christian Petzold dirige "Afire", que mostra quatro jovens em uma casa de férias na costa do Báltico e os dramas de relacionamentos tragicômicos que daí advêm.

Peter Dinklage em cena do filme 'She Came to Me', filme de abertura do Festival de Berlim 2023
Peter Dinklage em cena do filme 'She Came to Me', filme de abertura do Festival de Berlim 2023 - Divulgação

Uma obra que promete polêmica, sendo exibida em uma das várias mostras paralelas, é "Inifinity Pool", de Brandon Cronenberg, filho do também polêmico cineasta canadense David Cronenberg. Com Mia Goth, atriz recentemente alçada ao posto de "scream queen" (rainha do grito, em referência a filmes de terror), é assim que o diretor descreve seu filme:

"James e Em estão aproveitando as férias perfeitas. Mas um dia ocorre um trágico acidente e não há mais volta para o casal. Violência, hedonismo sem limites e o horror de uma escolha inimaginável: ser executado ou, se puder, ver a si mesmo morrer!"

Por fim, é importante notar que a Berlinale continua tratando bem a produção brasileira. Ao contrário de Cannes, que no ano passado não apresentou filmes nacionais, Berlim estreia "O Estranho", de Flora Dias e Juruna Mallon, com uma história que se passa no Aeroporto de Guarulhos. "Propriedade", de Daniel Bandeira, é um thriller sobre as disparidades entre classes sociais no Brasil.

Entre os curtas, há "As Miçangas", de Rafaela Camelo e Emanuel Lavo, "A Árvore", de Ana Vaz, e "Quarta-Feira de Cinzas", que tem produção totalmente alemã, mas é dirigido por João Pedro Prado e Bárbara Santos e se passa numa comunidade carioca.

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