Primeiro-ministro britânico e Salman Rusdhie reprovam censura a obra de Roald Dahl

Autor de 'A Fantástica Fábrica de Chocolates' teve trechos de seus livros modificados para que ficassem 'mais adequados'

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São Paulo

Autor de clássicos como "Matilda" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate", o autor britânico Roald Dahl, morto em 1990, virou alvo de debate a respeito do politicamente correto na literatura infantojuvenil nesta semana. Uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Telegraph na sexta-feira mostra que centenas de trechos de livros do autor foram modificados em novas edições.

De acordo com o selo Puffin, da Penguin, editora que publica Dahl no Reino Unido, a decisão tem como objetivo tornar os trechos "mais adequados ao leitor moderno".

Foto mostra Gene Wilder interpretando Willy Wonka em A Fantástica Fábrica de Chocolate. Ele é um homem branco, de cabelos loiros e olhos azuis, e veste um colete roxo, gravata borboleta bege e uma cartola marrom clara
Gene Wilder interpreta Willy Wonka em 'A Fantástica Fábrica de Chocolate', filme de 1971 - Wolper Pictures/Divulgação

O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak criticou a decisão. Seu porta-voz reportou que Sunak acredita que "trabalhos de ficção devem ser preservados e não apagados".

"Quando se trata de nossa rica e variada herança literária, o primeiro-ministro concorda com o BFG [Grande Gigante Amigo, na tradução em português], que diz que não se deve 'gobblefunk' com as palavras", seguiu o porta-voz.

"Gobblefunk", nos termos de Dahl, significa algo como "estragar", "brincar sem responsabilidade".

No Twitter, o autor Salman Rushdie publicou sua opinião. "Roald Dahl não era nenhum anjo, mas é absurda essa censura", disse o autor de "Versos Satânicos". "[A editora] Puffin Books e o agente de Dahl deveriam se envergonhar."

Segundo a Roald Dahl Story Company, as edições, que vêm sendo feitas desde 2020, foram "pequenas e cuidadosamente observadas".

Entre as modificações estão a forma como o personagem Augustus Gloop é descrito em "A Fantástica Fábrica de Chocolates" —de "gordo" ele passou a ser chamado de "enorme", enquanto Mrs. Twit, do "Os Pestes", deixou de ser "feia e bestial" para ser apenas "bestial".

No Brasil, há discussão semelhante em relação à obra do escritor Monteiro Lobato, acusado de racismo em seus livros infantojuvenis.

Colunista deste jornal até dezembro do ano passado, o mestre em sociologia Marcelo Coelho disse que Lobato era "de um racismo delirante", o que provocou a reação de críticos literários e da família do escritor.

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