Autor de clássicos como "Matilda" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate", o autor britânico Roald Dahl, morto em 1990, virou alvo de debate a respeito do politicamente correto na literatura infantojuvenil nesta semana. Uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Telegraph na sexta-feira mostra que centenas de trechos de livros do autor foram modificados em novas edições.
De acordo com o selo Puffin, da Penguin, editora que publica Dahl no Reino Unido, a decisão tem como objetivo tornar os trechos "mais adequados ao leitor moderno".
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak criticou a decisão. Seu porta-voz reportou que Sunak acredita que "trabalhos de ficção devem ser preservados e não apagados".
"Quando se trata de nossa rica e variada herança literária, o primeiro-ministro concorda com o BFG [Grande Gigante Amigo, na tradução em português], que diz que não se deve 'gobblefunk' com as palavras", seguiu o porta-voz.
"Gobblefunk", nos termos de Dahl, significa algo como "estragar", "brincar sem responsabilidade".
No Twitter, o autor Salman Rushdie publicou sua opinião. "Roald Dahl não era nenhum anjo, mas é absurda essa censura", disse o autor de "Versos Satânicos". "[A editora] Puffin Books e o agente de Dahl deveriam se envergonhar."
Segundo a Roald Dahl Story Company, as edições, que vêm sendo feitas desde 2020, foram "pequenas e cuidadosamente observadas".
Entre as modificações estão a forma como o personagem Augustus Gloop é descrito em "A Fantástica Fábrica de Chocolates" —de "gordo" ele passou a ser chamado de "enorme", enquanto Mrs. Twit, do "Os Pestes", deixou de ser "feia e bestial" para ser apenas "bestial".
No Brasil, há discussão semelhante em relação à obra do escritor Monteiro Lobato, acusado de racismo em seus livros infantojuvenis.
Colunista deste jornal até dezembro do ano passado, o mestre em sociologia Marcelo Coelho disse que Lobato era "de um racismo delirante", o que provocou a reação de críticos literários e da família do escritor.
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