Você sabe quem é o autor de 'A Fantástica Fábrica de Chocolate'?

Ainda pouco conhecido no Brasil, o inglês Roald Dahl, que também escreveu O Bom Gigante Amigo e Matilda, morreu há 30 anos

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São Paulo

Não importa se seu Willie Wonka favorito é Johnny Depp (filme de 2005) ou Gene Wilder (produção de 1971).

Muito provavelmente, quando pensa na figura do fabricante de chocolates mais famoso do mundo, você imagina qualquer uma das representações que ele teve no cinema, nas versões de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.

Acontece que o senhor Wonka não nasceu direto nas telonas. Seu berço foi nas páginas de Roald Dahl, escritor inglês que, embora tenha vendido mais de 250 milhões de livros no mundo, no Brasil acabou mais conhecido pelas adaptações cinematográficas de sua obra.

São versões de livros dele também “Matilda” e “BGA: O Bom Gigante Amigo”. Neste ano de 2020, faz três décadas que Dahl morreu, aos 74 anos.

Roald Dahl está de terno e gravata e sorri de leve para a câmera
Retrato do autor Roald Dahl, que morreu há 30 anos - Núcleo de Imagem

Se parecia que sua projeção limitada por aqui não mudaria, há sinais na praça que indicam que existe, sim, espaço para mais Dahl entre os brasileiros. “Sua obra está se popularizando aos poucos, principalmente pelas adaptações”, diz Nina Schipper, da editora 34.

O livro de Dahl mais vendido na 34 é “BGA”. Também estão no catálogo “James e o Pêssego Gigante”, “O Dedo Mágico”, “O Remédio Maravilhoso de Jorge”, “Os Pestes” e o último lançamento, “O Vigário de Mastigassílabas”, que saiu em 2016.

No segundo semestre, será publicado “Bichos do Mal”, todo escrito em versos por Dahl em 1983.
Para Nina, é possível que fatores como a internet e o streaming ajudem a espalhar pelo mundo a tradição que existe em diversos países, onde os livros do autor passam de geração para geração. “A Netflix já tem programadas séries inspiradas em livros de Dahl. Isso deve causar impacto”, afirma.


“É um grande autor que ainda precisa ser mais lido no Brasil”, concorda Tiago Ferro, autor de “O Pai de Menina Morta”, romance vencedor do prêmio Jabuti 2019. Ele, que descobriu Dahl já adulto, conta que há três anos lê seus livros para a filha Isadora, de 8 anos.

“Adoramos ‘O Remédio Maravilhoso de Jorge’. Um neto que tenta envenenar a avó parece um tema inadequado para um livro infantil. Mas, no tecido narrativo, com o equilíbrio perfeito entre grotesco, nonsense e realismo, essa inadequação desaparece”, avalia.

Os personagens de Dahl nunca são superbonzinhos. Além de Jorge —que, por incrível que pareça, é o mocinho da sua história—, há figuras como um casal que come empadão de passarinho, bruxas que prendem crianças em quadros, e os visitantes da “Fantástica Fábrica...”, punidos por malcriações.

“Muitas vezes adultos imaginam que as crianças vão imitar comportamentos inadequados de obras de ficção”, diz Ferro. “Mas basta ler para elas para perceber que compreendem perfeitamente o espaço ficcional, com suas regras próprias de funcionamento, e seu espelhamento específico da realidade.”

Irene Ramos Mirandez, 8, conta que “adora a parte em que um menino come uma bala e vira um rato”, em “As Bruxas”. Sua irmã, Cora, 11, já é mais fã do trecho de “BGA” em que a órfã Sofia e o Bom Gigante Amigo visitam a rainha da Inglaterra. “É bem engraçado quando eles soltam pum.”

“As partes que os adultos acham pesadas são as que mais mexem com as crianças. É importante entrar em contato com todo tipo de sentimento”, diz o professor de filosofia e editor Joaquim Toledo Jr., que lê Dahl para o filho Tom, quatro.

O escritor Ilan Brenman leu os livros para as filhas, hoje adolescentes. “Sempre rindo junto, sentindo medo junto, esperando que um BGA entrasse pela janela e nos levasse para uma grande aventura. Dahl não subestima a inteligência infantil. Ele sabe da complexidade da infância e não tem medo de nomear como nos sentimos por dentro”.

Doutora em teoria literária, Isabel Lopes Coelho diz que oferecer referências além do “mundo cor de rosa” às crianças pode prepará-las melhor para o “mundo real”. “Devemos ficar contentes de encontrar as principais obras dele à disposição no nosso idioma. Um livro lido pela primeira vez é sempre um livro novo.”

“Roald Dahl é um grande e inquestionável mestre”, resume Alexandre Martins Fontes, da WMF Martins Fontes, que, junto com a Editora 34, publica o autor no Brasil.

Na Martins Fontes, “Matilda” e “As Bruxas” são os best-sellers. “Publicamos porque continuamos a acreditar no poder da inteligência, ousadia, criatividade, coragem e poesia”, afirma o editor.

Livros de Roald Dahl no Brasil

O Remédio Maravilhoso de Jorge
Editora 34, R$ 39 (128 págs.)
Esqueça todas as vovós fofinhas das histórias infantis. A avó de Jorge é bem diferente das outras, e vive criticando o neto e dando a ele ordens sem sentido só para provocá-lo. Pois chega um dia em que Jorge se cansa, e resolve trocar o remédio dela por uma poção bem especial, feita por ele mesmo com ingredientes que encontra pela casa. Acontece que esse remédio tem uns efeitos colaterais esquisitos.

As Bruxas
Ed. Martins Fontes, R$ 44,90 (240 págs.)
Se você vir uma mulher com coceira na cabeça, cuidado: pior do que piolho, pode ser que esse coça-coça indique que ela é uma bruxa! Quem ensina é um menino de sete anos de idade, que não tem nome, mas que entende tudo de bruxas. Ao lado de sua avó, ele vai descobrir o plano de uma organização que detesta crianças, e que está à beira de executar uma maldade muito grande. Eles unem forças para varrer as bruxas más do mapa.

A Fantástica Fábrica de Chocolates
Ed. Martins Fontes, R$ 42,90 (173 págs.)
Se você pensa que adora chocolates é porque não conhece Charlie Bucket. E porque ele é o menino que mais ama chocolates no mundo todo, ele agora quer muito faturar o Cupom Dourado que dará acesso à Fantástica Fábrica de Chocolate do Sr. Willy Wonka. Será que ele vai ser uma das cinco crianças sortudas que poderão visitar e conhecer este lugar mágico e ao mesmo tempo estranho?

Os Pestes
Editora 34, R$ 39 (112 págs.)
Pense em pessoas desprezíveis. Pois estes são o senhor e a senhora Peste, que prenderam em uma gaiola no quintal o macaco Simão e a macaca Catarina, e os dois filhinhos do casal. A ideia é montar o primeiro Grande Circo dos Macacos de Cabeça para Baixo do Mundo – e essa não é a única maldade de que eles são capazes, já que também adoram caçar passarinhos para fazer empadão. A única esperança é que os bichos se unam e promovam uma revolta para acabar com tudo.

O BGA: O Bom Gigante Amigo
Editora 34, R$ 47 (288 págs.)
Gigantes são, no geral, seres monstruosos que comem crianças, mastigando-as sem dó nem piedade. Mas o BGA é diferente dos outros. Ele até vai raptar a menina Sofia, que tem 10 anos e mora em um orfanato de Londres, mas suas intenções são outras – até porque, seu prato favorito não é menininha, e sim abobrinha. Juntos, eles vão se meter em enrascadas na Terra dos Gigantes, e acabar até dentro do palácio onde mora a Rainha da Inglaterra.

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