Verena Smit 'camufla' obras de arte públicas em roteiro pelo centro de São Paulo

Artista propõe percurso por locais abandonados, como a galeria Prestes Maia, e diz querer atingir o público diverso da região

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Instalação de Verena Smit na galeria Prestes Maia

Instalação de Verena Smit na galeria Prestes Maia Divulgação/Carine Wallauer

São Paulo

Resquícios de um relógio numa das paredes de mármore da galeria Prestes Maia, no centro de São Paulo, são o testamento do passado. Os ponteiros não existem mais e o cobre das hastes que indicavam as horas enferrujou. "Tempo perdido" diz a inscrição no lugar dos números.

A mensagem esculpida em aço talvez passe despercebida para quem circula pela galeria, uma passagem subterrânea conectando a Praça do Patriarca ao vale do Anhangabaú. Mas os dizeres, que parecem falar sobre a própria história do espaço —um antigo ponto de encontro de artistas hoje praticamente abandonado— são parte de uma série de obras de arte de Verena Smit espalhadas pelo centro de São Paulo.

Bandeira de Verena Smit instalada na Biblioteca Mário de Andrade
Bandeira de Verena Smit instalada na fachada da Biblioteca Mário de Andrade - Carine Wallauer/Divulgação

"Poesia Concreto" propõe um percurso a pé pela região originária da capital ao apresentar oito trabalhos públicos da artista paulistana, até 12 de março. A exposição se divide entre a galeria Prestes Maia, o vale do Anhangabaú, a praça Dom José Gaspar e a Biblioteca Mário de Andrade.

Na praça Dom José Gaspar há um relógio de rua, desses de marcar a temperatura, onde a publicidade foi substituída pelo dizer "mentirosos são aqueles que medem o tempo" —de tão discreto, o público pode achar que se trata apenas de um comercial.

Camuflar os trabalhos na paisagem da cidade era um pouco a ideia da exposição, afirma a artista, acrescentando que o projeto foi pensado especificamente para a região originária de São Paulo, onde circula uma grande diversidade de pessoas.

Fernando Mota, curador e organizador da exposição, afirma que o propósito era atingir quem não necessariamente tem o hábito de frequentar museus e galerias de arte e instigar a curiosidade do público.

Não que todas as obras sejam difíceis de achar. Na Biblioteca Mário de Andrade, por exemplo, um neon ao lado da entrada principal deixa sempre aceso o chavão "a felicidade é para todos", mas piscante o ponto de interrogação colocado no fim da frase. Na lateral do mesmo prédio, uma bandeira branca postula que "sobreviver nunca foi sobre viver".

Jogos de palavras como este são próprios da poética da artista. Smit ficou conhecida nos últimos anos ao postar em seu Instagram frases e verbetes, escritos com máquina de escrever ou no bloco de notas do Iphone, que brincam com o português e o inglês. Alguns dizeres são poéticos, outros são palavras reinventadas por ela.

Transpor este pensamento para a escala urbana é, portanto, o maior trabalho da artista até agora, segundo ela. "Poesia Concreto" começou a ser desenvolvido em 2019, antes da pandemia, e foi a evolução de uma instalação que Smit havia feito anteriormente na estação São Bento do Metrô, também na capital paulista.

Um dos obstáculos na execução do projeto foi navegar o mar de licenças municipais, estaduais e federais para poder expor as obras em locais públicos, mas a artista se diz gratificada por pensar a cidade e por mostrar o projeto no centro, onde teve seu ateliê nos últimos cinco anos, na galeria Metrópole, hoje um polo de criativos.

Poesia Concreto

  • Quando até 12 de março
  • Onde Centro de São Paulo
  • Roteiro das obras https://www.instagram.com/p/CoLIUeRvwiX/
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.