Da China aos EUA, Oscar de Michelle Yeoh alimenta controvérsias étnicas

Malaia acenou a seu país de origem e a Hong Kong, onde vive, ao receber o prêmio de melhor atriz na festa em Los Angeles

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Taipé

Falando "por todos os malaios", o primeiro-ministro do país festejou no Facebook, onde se espalhou a hashtag "Tan Sri Michelle Yeoh". Tan Sri é um título dado na Malásia, que a atriz recebeu há uma década.

Mas a história de Yeoh em seu país de origem, onde famílias chinesas como a sua somam um quarto da população, carrega ecos de desavenças políticas, inclusive uma envolvendo eleitoralmente ela e o pai, e isso também aflorou.

De todo modo, espraiou-se a frase que Yeoh usou na cerimônia, de que a Malásia "boleh", pode. No discurso, ela saudou Hong Kong também como sua casa e o que se seguiu em mídia social, para além da festa, foi mais discussão étnica.

O secretário local de cultura celebrou a vitória da "atriz de Hong Kong" e foi questionado, entre outros, pelo ator Chapman To, nascido lá e hoje de cidadania taiwanesa.

Michelle Yeoh ao receber o prêmio de melhor atriz no Oscar 2023 - Reuters

Não foi diferente no Weibo, uma das duas maiores redes na China continental. O jornalista Hu Xijin parabenizou a atriz dizendo que esta "é a hora das pessoas com sangue chinês e genes da civilização chinesa em todo o mundo". Seguiram-se críticas ao "narcisismo irracional" de Hu, que "está muito louco hoje".

Mas também no Weibo o que mais se viu foi festa para a atriz, fazendo lembrar o que aconteceu com a esquiadora Eileen Gu ou Gu Ailin durante os Jogos de Inverno do ano passado.

Até nos Estados Unidos a premiação caiu em polêmica étnica, com uma discussão se armando no Twitter em torno da descrição, por uma emissora mais democrata, de que Yeoh "se identifica como asiática".

Chegou a entrar na conversa uma assessora do presidenciável republicano Ron DeSantis, dizendo que "ela É asiática".

Nascida na cidade malaia de Ipoh, de maioria étnica chinesa, Yeoh ganhou fama no cinema de artes marciais de Hong Kong, em cantonês, ao lado de estrelas como Jackie Chan e Jet Li, antes de ser chamada para Hollywood.

A febre atual em torno da atriz no Weibo já havia disparado em janeiro, ao receber os primeiros prêmios e ser indicada ao Oscar. Na rede chinesa, então, liam-se passagens como "orgulho do povo chinês em todo lugar", referência ao título do filme.

Num dos discursos do início do ano, ela chegou a falar, com a voz embargada: "Meu nome verdadeiro é Yeoh Choo Kheng. Me disseram que eu precisava de um nome ocidental, então Yeoh Choo Kheng virou Michelle Yeoh".

Mas a premiação, prosseguiu, "prova que nós podemos contar as nossas próprias histórias, em nossas próprias palavras [o filme é parcialmente em cantonês] e abraçar algo tão simples, mas tão importante, quanto nossos nomes próprios".

Depois ela atenuou o tom, enfatizando que uma vitória sua seria de toda a "comunidade de asiáticos".

Ainda assim, a conta de Yeoh no Instagram acabou reproduzindo um artigo da revista Vogue, defendendo sua escolha como melhor atriz por ser "não branca", o que levou a pedidos públicos por sua eliminação do Oscar, inclusive na Fox News.

No filme, outros atores são de família chinesa e nascidos em diferentes lugares, como Ke Huy Quan, no Vietnã, Harry Shum Jr., na Costa Rica, e James Hong, nos EUA, assim como o codiretor Daniel Kwan.

Mas foi um colega dela de Hong Kong, Donnie Yen, que estrelou ao seu lado em filmes de ação, que também se viu alvo de campanha online nos EUA para ser excluído da transmissão.

O motivo dado para o pedido de seu "cancelamento", na expressão usada no site de petições Change.org, que passou de mais de cem mil assinaturas, foi que ele criticou os protestos realizados em Hong Kong, contra o governo chinês, em 2019.

Yen, que é do Partido Comunista e se popularizou mais recentemente pelas séries de filmes "John Wick" e "Star Wars", foi mantido apesar das pressões e foi o apresentador da música "This Is A Life", da trilha do filme do Yeoh.

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