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Em 'A Porta ao Lado', Letícia Colin e Bárbara Paz são o maior destaque

Filme da cineasta Júlia Rezende sobre os problemas no relacionamento de dois casais é eficiente, porém irregular

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A Porta ao Lado

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Letícia Colin, Bárbara Paz e Dan Ferreira
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Júlia Rezende

A cineasta Júlia Rezende se especializou em um tipo de comédia que reúne o que grande parte dos diretores adoraria, mas costuma ter dificuldades para executar. Há um aspecto inegavelmente popular em suas obras —ao menos que dialoga com um público brasileiro urbano e de classe média, que é sobre o qual ela fala e, ao que parece, a quem seus filmes se destinam. O que lhe permite uma certa sofisticação de que comédias mais massificadas em geral precisam abrir mão.

"A Porta ao Lado" não é exatamente uma "comédia", mas volta a trazer elementos de filmes anteriores de Rezende, como "Meu Passado me Condena", de 2013, focando em problemas de relacionamentos a dois.

Cena do filme "A Porta ao Lado", de Julia Rezende, exibido no Festival de Gramado
Cena do filme 'A Porta ao Lado', dirigido por Júlia Rezende - Divulgação

Desta vez, a trama se concentra em dois casais vizinhos. Um deles é mais convencional, ainda que não seja de todo "careta" —Mari, vivida por Letícia Colin, é chef de um restaurante gourmet, e Rafa, interpretado por Dan Ferreira, é um funcionário de um banco. Eles se amam, mas o romance anda estagnado.

Seus novos colegas de andar são bem mais descolados, com comportamento em algum lugar entre o hipster e o ripongo; Ísis, vivida por Bárbara Paz, e Fred, papel de Túlio Starling, vivem de vender produtos orgânicos que cultivam em uma fazenda. Mantêm um relacionamento aberto —desde que, é claro, também não fiquem sabendo em detalhes o que o outro tem feito em camas alheias.

Nas primeiras cenas, o longa tem um bom andamento, um ritmo agradável. As coisas vão acontecendo aos poucos, e o espectador vai sendo preparado para o inescapável instante em que alguém de um dos apartamentos se envolverá sexualmente com algum dos vizinhos; quanto a isso não há mistério.

As imagens têm uma textura elaborada –são sensuais, embora as cenas de sexo sejam relativamente pudicas. De qualquer modo, a dupla Mari e Rafa vai logo se abrindo mais a novas experimentações sexuais –ao mesmo tempo em que Ísis e Fred percebem que talvez um relacionamento um pouco mais tradicional fortalecesse os laços entre eles.

Fundamentalmente, é um longa sobre desejo feminino, sobretudo de uma mulher trintona. Mari é a real protagonista, e é no despertar sexual dessa personagem que o filme se concentra. É também no aspecto psicológico dela que o roteiro se debruça com mais fôlego. Mari é uma mulher insegura, introvertida –escolheu se tornar chef de cozinha porque, assim, não precisaria ficar o tempo todo na sala de estar com as outras pessoas.

"Eu fujo das coisas", ela mesmo diz. Mas a insistência do filme em apresentar essa peculiaridade da personagem por vezes mais nos confunde do que nos ajuda a compreendê-la –ou será que o filme nos diz que seu envolvimento com o vizinho é apenas uma de suas tentativas de fuga de sua própria vida? É só isso que faz uma mulher buscar um parceiro fora do casamento?

O longa também se dispersa quando começa a querer dar conta de questões paralelas que não são devidamente elaboradas. As discussões sobre uma mulher optar por ter ou não filhos ou mesmo a questão do aborto, embora sejam assuntos coerentes com o assunto central do longa, surgem apenas como citações a temas importantes sobre uma vida em casal, sem o necessário aprofundamento.

Há uma cena especialmente mal resolvida, quando Rafa se enfurece com Mari quando a moça surge com um vibrador para apimentar a relação. De repente, a briga desemboca em um confronto identitário entre os cônjuges, em que Rafa diz que sofre muito mais por ser negro e de origem pobre do que a namorada, em sua condição de mulher.

A ideia era ressaltar o quanto o machismo é um traço firme, mesmo em homens que sofreram opressão em outras áreas, mas a discussão surge na cena de maneira tão abrupta, atrapalhada, que dá a impressão de estar ali apenas para os roteiristas inserirem na obra questões antenadas no mundo moderno.

O grande destaque deste filme eficiente, porém irregular, são mesmo as atrizes. Letícia Colin parece sempre infalível, e Bárbara Paz traz um pouco de alegria e descontração a uma obra que por vezes pende em excesso para a gravidade. Sem ela, o filme poderia ser mecânico e sem graça como sexo rotineiro.

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