Entenda como Simone se tornou voz de 'força bruta' da MPB com sucessos nacionais

Cantora relembra trajetória de meio século em turnê comemorativa 'Tô Voltando' baseada nos seus maiores hits

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Luccas Oliveira
São Paulo

"Tô Voltando", de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, é um samba sobre saudade de casa que explodiu nas rádios em 1979 com Simone, voz de "força bruta" da MPB, como ela mesma define. O hino do retorno de artistas exilados durante a ditadura militar, agora, dará nome à turnê comemorativa pelos 50 anos de carreira da cantora baiana, que começa em abril.

"Estou com muito tesão para fazer este show. Adoro o que eu faço, adoro cantar, e levo isso muito a sério. Chego a trabalhar até 12 horas por dia quando estou preparando um show, tranquilamente. Tenho uma vontade enorme, tenho saúde, me cuido", afirma a cantora de 73 anos.

A cantora Simone, que completa 50 anos de carreira
A cantora Simone, que completa 50 anos de carreira - Lorena Dini/Divulgação

A ideia é fazer um show baseado nos hits de uma carreira fonográfica marcada por números de vendas crescentes nas décadas de 1970 e 1980, e cujo ápice comercial veio em 1995, com o polêmico —exatamente por ser visto por alguns críticos e colegas como "comercial demais"— álbum natalino "25 de Dezembro", aquele de "Então É Natal".

No repertório do espetáculo, Simone e o diretor geral Marcus Preto —que produziu Gal Costa e Erasmo Carlos— querem jogar luz sobre joias de grandes compositores dos quais a cantora se apropriou, ajudando a fazer delas sucessos nacionais.

"Jura Secreta", de Sueli Costa e Abel Silva, "Começa de Novo", de Ivan Lins e Vitor Martins, "De Frente pro Crime", de João Bosco e Aldir Blanc, além de "Tô Voltando" estão nessa lista. Outro destaque é "Divina Comédia Humana", música que Belchior compôs para Simone gravar em "Face a Face", de 1977, mas que não entrou no álbum e terá sua primeira interpretação pela voz original neste espetáculo.

"Simone é a primeira cantora da minha casa, a preferida da minha mãe", diz Preto. "São músicas que eu ouvi na casa dela e tantos outros ouviram em suas casas única e exclusivamente porque Simone existe. Sem ela, essas músicas talvez não tivessem acontecido."

O senso de resgate que a canção que dá nome à turnê sugere também é refletido nos arranjos, que serão recuperados em suas versões originais.

"A grande diferença estará na pulsação, na pegada da banda", afirma Simone. A média de idade dos músicos beira os 30 anos, o que faz ela se referir à banda carinhosamente como "jardim de infância".

A cantora Simone
A cantora Simone - Lorena Dini/Divulgação

A cantora será acompanhada por Frederico Heliodoro no baixo, Filipe Coimbra na guitarra e no violão, Chico Lira nos teclados e pelos irmãos Ronaldo, na bateria, e Vanderlei Silva, na percussão, sob a batuta do diretor musical Pupillo, ex-Nação Zumbi, braço direito de Preto.

A juventude dos novos colegas não a intimida, pelo contrário. "A novidade, mesmo, sou eu no meio deles, não o contrário. Essa juventude é boa porque eles não trazem vícios do repertório, tem músicas que eles nem conhecem por serem de outro universo", afirma Simone.

Três dos músicos, Heliodoro e os irmãos Silva, a cantora conheceu quando participou da turnê de despedida do amigo Milton Nascimento, na qual dividiu "Encontros e Despedidas" e "Nada Será Como Antes" com Bituca em alguns shows. "Eu não queria que ele [Milton] parasse nunca. Tenho dificuldade com despedidas. Nunca escondi que, se eu pudesse imitar alguém, queria imitar Bituca, na voz, na musicalidade, na genialidade."

Apesar de ser adepta do "aqui e agora", Simone não foge da retrospectiva de sua história que uma turnê de 50 anos de carreira inspira. "Na minha vida musical, eu acho que acertei muito mais do que errei. E assumo todos os meus erros. Eu não gravaria bem poucas das músicas que gravei. Talvez a coisa de que eu mais me arrependa é que eu deveria ter cantado todas as minhas músicas um tom abaixo", avalia ela, antes de explicar que trabalha com uma fonoaudióloga há pouco tempo. "Nunca fui uma artista de voz burilada, aqui é força bruta."

Entre os erros, ela garante, não está "25 de Dezembro". Simone nasceu no dia de Natal e, conta, quase foi batizada de Natalina por isso. Costumava ganhar apenas um presente na data, então via o disco de canções natalinas como um agrado para ela mesma. Conseguiu, assim, vender mais de 1,5 milhão de cópias, mas também críticas de fãs e colegas da MPB.

"Muitos artistas pop de fora do Brasil fizeram e fazem o mesmo. Por que eu não podia? Sofri uma enormidade de bullying, um ataque pesado porque eu era da MPB. Eu continuo sendo. Gravar um disco natalino não diminuiu em nada a minha carreira, só para aqueles que me pegaram para Cristo", reclama. "Faço análise para me conhecer melhor e tirar essa sujeira que a gente vai juntando."

A terapia e, depois, a ajuda psiquiátrica foram fundamentais para que Simone superasse um quadro depressivo causado pela ansiedade durante a pandemia, potencializado por um assalto à mão armada em São Paulo. "É uma doença que não avisa que está chegando. Ela chega e toma você de uma maneira horrível. O tratamento me faz conviver melhor com esses percalços que acontecem de uma hora para a outra na vida", reflete.

Na pandemia, ela lançou um álbum de inéditas, "Da Gente", na qual deu voz majoritariamente a compositoras nordestinas —duas dessas canções devem entrar no repertório do show "Tô Voltando".

E superou sua aversão às redes sociais para realizar 37 lives, para as quais se preparou como quando encara fisicamente a plateia. "Eu senti que estava fazendo o bem, e que o bem retornou. Foi o que me salvou na pandemia. Sem isso, acho que eu ficaria maluca vendo esse monstro [Covid-19] e aquele demônio lunático infernizando a nossa vida", afirma, lembrando o ex-presidente Jair Bolsonaro.


Simone

Juiz de Fora (MG): Cine-Theatro Central - pça. João Pessoa, s/nº. 15 de abril.

Rio de Janeiro: Vivo Rio - av. Infante Dom Henrique, 85. 22 de abril.

São Paulo: Tokio Marine Hall - r. Bragança Paulista, 1.281. 29 de abril e 30 de abril

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