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Lana Del Rey reforça relação complicada com a família em novo disco

'Did You Know Theres a Tunnel Under Ocean Blvd' referencia elementos comuns de sua carreira com atmosfera minimalista

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Pérola Mathias

Did You Know There’s a Tunnel Under Ocean Blvd

  • Quando Disponível nas plataformas de streaming
  • Autoria Lana Del Rey
  • Gravadora Universal

Os fãs de Lana Del Rey podem respirar aliviados com o lançamento de seu nono álbum, "Did You Know There’s a Tunnel Under Ocean Blvd", pois não falta nele nenhum dos elementos que a cantora e compositora vinha trabalhando ao longo de toda a sua carreira.

Nos deparamos com a paisagem californiana, ícones decadentes da cultura americana, momentos depressivos, confissões íntimas, relações familiares e diversas citações, tanto a outros artistas, quanto autorreferências a suas músicas de álbuns anteriores.

Capa do álbum 'Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd', de Lana Del Rey
Capa do álbum 'Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd', de Lana Del Rey - Divulgação

O disco tem, na maior parte do tempo, uma atmosfera sombria e instrumental minimalista. A primeira faixa, "The Grants", que estampa o sobrenome paterno da família de Lana Del Rey, começa com um coral gospel, ao qual se segue um clima tenso criado pela combinação entre piano e cordas.

Nessa primeira música, logo de cara a cantora invoca John Denver e sua "Rocky Mountain High", mas ainda abordando a religião. O tema se repete no primeiro interlúdio que compõe o álbum, um sermão do pastor Judah Smith —celebridade religiosa dos Estados Unidos, que inclusive gravou, também, com Justin Bieber em "Freedom", em 2021.

Mas, por mais sério que pareça a entrada do interlúdio, enquanto ouvimos o que a Bíblia tem a nos dizer, há inserções de fundo com conversas e risadas não muito sutis.

O sermão vem após uma das melhores faixas do disco, já divulgada como single em fevereiro deste ano, "A&W" —sigla para a expressão "American whore", ou prostituta americana, termo aplicado de maneira pejorativa às mulheres que se permitem liberdade sexual em uma sociedade cada dia mais conservadora.

A canção é uma clara crítica à misoginia e à chamada cultura do estupro. É a música mais longa do álbum, com mais de sete minutos, e se divide em duas partes. A primeira, com voz e um piano predominante, e na segunda, o clima muda com a entrada de bases eletrônicas. A faixa foi produzida Jack Antonoff, antigo parceiro e amigo de longa data da cantora.

Aliás, a relação de Del Rey e Antonoff segue tão estreita que ela dedica uma das faixas à noiva do produtor, em "Margaret". Talvez a música seja uma espécie de presente de casamento, que tem a data revelada na letra —o que intimamente pode até ser uma homenagem sensível, mas destoa do restante da obra.

Dentre as participações, há Jon Batiste, em "Candy Necklace", que, além de dividir os vocais na faixa, compõe o segundo interlúdio do álbum logo em seguida. Outro destaque é John Father Misty em "Let the Light In", um indie folk bem ao estilo do artista, guiado sobretudo pelo violão. Participam do álbum também a banda SYLM e o pianista Riopy.

Mas o que mais chama a atenção em "Did You Know There’s a Tunnel Under Ocean Blvd" é como Lana Del Rey apresenta a relação com sua família. Há tempos suas composições deixam claro a relação de desentendimento com a mãe.

Em "Fingertips" ela canta como se estivesse lendo seu diário ou conversando diretamente com o irmão, a irmã e o pai. A música soa como uma crônica de desabafo e não traz nenhum refrão. Além disso, ela toca em um tema bastante sensível a ela, a maternidade.

Depois de perguntar à irmã Caroline, que já é mãe, se o bebê ficará bem, ela pergunta "eu vou ter um eu mesma?". "Eu vou conseguir lidar com isso, se eu tiver?", acrescenta, se referindo ao seu diagnóstico de depressão.

Em "Kintsugi", ela descreve o episódio da morte de um tio e sua tristeza ao saber da notícia enquanto estava em turnê. Del Rey se refere diversas vezes não só ao pai e aos irmãos, mas também aos avós. Com o título em japonês, ela utiliza a técnica milenar de reparo de cerâmica como metáfora para a dor do luto e sua superação.

Aliás, a faixa-título do álbum também é uma espécie de metáfora, em que Del Rey se refere a um espaço fechado e abandonado, o túnel Jergins em Long Beach, nos Estados Unidos, para pensar sobre sua trajetória, carreira e uma recente relação amorosa.

Lana Del Rey conseguiu mais uma vez criar, ou reforçar, um universo criativo e estético muito próprio, usando samples e autorreferências para botar o novo disco de pé de maneira cuidadosamente trabalhada e não simplesmente como um processo impensado de colagens.

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