Rafael Viñoly, um arquiteto nascido no Uruguai cujo escritório em Nova York foi responsável por grandes edifícios comerciais e culturais em quase uma dúzia de países, morreu quinta-feira em Manhattan. Ele tinha 78 anos.
Viñoly morreu no hospital, de um aneurisma, informou Roman, o filho do arquiteto, que é um dos diretores do escritório de arquitetura de Viñoly.
O arquiteto não era conhecido por um estilo específico, mas um de seus traços característicos eram grandes espaços internos recobertos por vidros, criando pátios internos luminosos.
Em Nova York, seu projeto mais conhecido talvez seja o 432 Park Ave., um condomínio residencial que, com altura de quase 460 metros, foi por um breve período o edifício residencial mais alto do mundo. As fachadas externas em grelha do edifício foram elogiadas pelos críticos por sua elegância contida.
Mas os moradores, alguns dos quais pagaram dezenas de milhões de dólares por seus apartamentos, se queixam de rangidos, estampidos e estalidos, e de uma calha de lixo cujo "barulho parece o de uma bomba", disse um deles, quando o lixo está descendo.
O balanço do edifício já fez com que um morador ficasse preso em um elevador durante mais de uma hora. Os problemas geraram uma série de reportagens, entre as quais um artigo de primeira página no The New York Times, sobre as dificuldades de ser dono de um desses imóveis de altíssimo luxo.
Viñoly era um profissional que se dedicava à arquitetura 24 horas por dia, sete dias por semana, mas ao mesmo tempo era um bon vivant, e contratou para sua casa um cozinheiro formado pela escola culinária Le Cordon Bleu. Ele carregava no pescoço diversos pares de óculos de aros pretos, para que sempre tivesse à mão os óculos necessários, e estava sempre disposto a esboçar os detalhes arquitetônicos mais complicados.
Além disso, ele também era um pianista clássico que ocasionalmente dava concertos em um pavilhão de música em sua casa em Water Mill, Long Island. Em 2011, o arquiteto disse ao The New York Times que era proprietário de nove pianos, entre os quais um que ele ajudou a desenvolver, com um teclado curvo que torna mais fácil alcançar as notas mais agudas e mais graves.
"Poucas pessoas imaginavam que o piano precisasse ser reinventado", disse o arquiteto David Rockwell, que trabalhou com Viñoly em diversos projetos. "Ele era vorazmente curioso".
Depois de as torres do World Trade Center em Nova Iorque terem sido destruídas, em 2001, Viñoly e o arquiteto Frederic Schwartz ajudaram a formar o Think Team, que adotou uma abordagem inovadora para reconstituir os 6,4 hectares demolidos pelo ataque terrorista. A proposta-chave da equipe foi a de construir um novo par de torres gêmeas como esqueletos, vastas estruturas filigranadas nas quais edifícios culturais seriam inseridos, com o passar do tempo.
A proposta foi a escolha inicial do comitê formado para selecionar um esquema para a reconstrução do World Trade Center, mas a decisão foi anulada pelo governador George Pataki, que preferiu um esquema de Daniel Libeskind.
Em Nova York, Viñoly foi responsável pela elegante sede do Jazz at Lincoln Center, por sobre o Columbus Circle, e pela conversão de uma escola secundária histórica em um campus para o John Jay College of Criminal Justice.
Seus outros projetos nos Estados Unidos incluem um estádio de futebol americano na Universidade de Princeton. Em Filadélfia, o Kimmel Center for the Performing Arts agrupa diversos auditórios sob um vasto telhado de vidro abobadado. Ele projetou uma grande extensão para o Museu de Arte de Cleveland e centros de convenções em Pittsburgh e Boston.
O seu edifício para a Booth School of Business, da Universidade de Chicago, inclui um enorme átrio sob vidro e um telhado que desce quase até o chão, diante da Frederick C. Robie House, projetada por Frank Lloyd Wright.
Seu edifício mais aclamado é o Tokyo International Forum, um centro de convenções que se assemelha, em parte, a um navio invertido, por sob uma cobertura de vidro. Quando o centro foi inaugurado, em 1997, Herbert Muschamp, então crítico de arquitetura do The New York Times, definiu o projeto como "lúcido, íntegro e completamente direto, qualidades que não desfrutam de grande prestígio na arquitetura há já algum tempo".
Rafael Viñoly nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1º de junho de 1944, filho do diretor de cinema e teatro Román Viñoly Barreto e da professora de matemática Maria Beceiro. Ele estudou arquitetura na Universidade de Buenos Aires, mas ainda antes de se formar fundou aquele que se tornaria um dos maiores escritórios de arquitetura da Argentina. Em 1978, foi contratado como professor pela Universidade Harvard, e transferiu sua família aos Estados Unidos.
No ano seguinte, eles se estabeleceram em Nova Iorque, onde ele fundou o escritório Rafael Viñoly Architects em 1983.
Além do filho, Viñoly deixa a mulher, Diana, uma designer de interiores; os enteados Nicolas e Lucas Michael; uma neta, e três outros netos, filhos de seus enteados.
Tradução de Paulo Migliacci
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