Bienal de São Paulo: Confira os primeiros selecionados para a próxima edição

Exposição divulga nomes de 43 artistas que integram a 35ª mostra, que acontece entre setembro e dezembro

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São Paulo

Um dos artistas a participar da próxima Bienal de São Paulo, Igshaan Adams cria tapeçarias e esculturas com o uso de materiais ligados ao universo feminino da África do Sul, como miçangas e tecidos, em trabalhos que refletem seu crescimento numa área de Cape Town destinada aos negros durante o apartheid.

Outra das artistas selecionadas, Torkwase Dyson faz pinturas abstratas informadas pelos deslocamentos forçados de corpos negros na diáspora. Já Daniel Lie vai apresentar uma instalação formada por tecidos, terra e especiarias para refletir sobre o ciclo da vida, numa obra com plantas e flores que vão nascer e morrer durante os dois meses de duração da bienal.

Dayanita Singh, Mona Montage, 2021
Fotografia da série 'Mona Montage' (2021), da indiana Dayanita Singh, artista da próxima Bienal de São Paulo - © Dayanita Singh / Frith Street Gallery, London

Os três artistas, todos com projeção internacional —Adams esteve na Bienal de Veneza de 2022, por exemplo— fazem parte da primeira lista com 43 nomes que participarão da 35ª Bienal de São Paulo, marcada para começar no início de setembro, na capital paulista. A seleção parcial, divulgada pela Fundação Bienal de São Paulo nesta quinta-feira, dia 27, contempla artistas com trabalhos que lidam com as durezas do mundo.

"Para a gente é interessante pensar como determinados contextos impossíveis afetam a produção artística. Qual tipo de impossibilidade determinados corpos enfrentam quando estão inseridos em determinados contextos geográficos", afirma Diane Lima, uma das organizadoras da exposição, ao comentar a lista. Como exemplo de impossibilidade no mundo de hoje, Lima cita as migrações forçadas.

A geografia do impossível está localizada principalmente no Sul Global, dado que 76% dos nomes da lista vêm de países de fora do circuito hegemônico das artes. Ela também tem cor —dos 36 artistas, quatro duplas e dois coletivos anunciados nesta quinta, 92% são negros, indígenas ou não-brancos.

Este panorama não foi intencional, afirma Hélio Menezes, outro dos organizadores, mas sim resultado de pesquisas suas e dos outros três responsáveis pela cara da exposição, a artista portuguesa Grada Kilomba, o ex-diretor do museu Reina Sofía, em Madri, Manuel Borja-Villel, e a curadora Diane Lima.

Menezes questiona a própria expressão Sul Global, dizendo que ela não dá conta de abarcar a heterogeneidade dos artistas da bienal, e Kilomba fala que a mostra quer também discutir o desmantelamento da ideia de nação.

Dos brasileiros, marcam presença nomes que vêm ganhando destaque no circuito, como Aline Motta, Castiel Vitorino Brasileiro e Tadáskia, ao lado de outros já estabelecidos, como Rosana Paulino e Ayrson Heráclito, que fará uma obra junto do cantor e compositor Tiganá Santana. Denilson Baniwa, com uma mostra individual em cartaz agora na Pinacoteca, e Gabriel Gentil Tukano representam os indígenas.

A lista final de artistas terá mais de cem nomes e será anunciada ainda neste semestre, mas por ora os organizadores se encontram com o público nesta quinta para apresentar os divulgados até aqui, em uma conversa no prédio da Bienal. Será tema do bate-papo também o título do evento, "Coreografias do Impossível".

Em linhas gerais, a expressão se refere a práticas artísticas que lidam com urgências do presente e tratam, de maneira abstrata ou não, das violências dos sistemas nos quais estão inseridas, sejam elas cotidianas ou estruturais. A arte, dizem os organizadores, é entendida como uma saída. "Os artistas geram elementos de ruptura, elementos de onde há a possibilidade de imaginar outros futuros", afirma Borja-Villel.

Da esquerda para a direita, Hélio Menezes, Grada Kilomba, Diane Lima e Manuel Borja-Villel
Da esquerda para a direita, Hélio Menezes, Grada Kilomba, Diane Lima e Manuel Borja-Villel, curadores da próxima Bienal de São Paulo - Fundação Bienal de São Paulo

Como o nome do evento indica, haverá obras relativas ao movimento do corpo, a exemplo de um trabalho da dançarina e coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen e outro da dupla de artistas não-binários Pauline Boudry e Renate Lorenz, que coreografam a tensão entre a visibilidade e a opacidade, segundo uma descrição em seu site.

Contudo, na bienal a palavra coreografia não será limitada a seu significado imediato, o de desenhar sequências de movimentos com o corpo humano. Kilomba destaca o trabalho da artista e designer gráfica do Zimbábue Nontsikelelo Mutiti, professora em Yale, responsável pela identidade visual desta edição do evento.

No cartaz da bienal, vemos o título da exposição feito a partir de tranças africanas. Segundo Kilomba, "a artista cria uma coreografia dentro do alfabeto em que se consegue ler e não se consegue ler".

Lista parcial de artistas da 35ª Bienal de São Paulo

  • Aline Motta*
  • Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê*
  • Anna Boghiguian*
  • Ayrson Heráclito e Tiganá Santana*
  • Bouchra Ouizguen
  • Castiel Vitorino Brasileiro*
  • Daniel Lie*
  • Dayanita Singh*
  • Deborah Anzinger
  • Denilson Baniwa*
  • Duane Linklater
  • Elda Cerrato
  • Elizabeth Catlett
  • Ellen Gallagher
  • Frente 3 de Fevereiro
  • Gabriel Gentil Tukano
  • Geraldine Javier
  • Igshaan Adams*
  • Inaicyra Falcão*
  • Julien Creuzet*
  • Leilah Weinraub
  • Luiz de Abreu
  • Manuel Chavajay
  • Marilyn Boror Bor
  • Mounira Al-Solh
  • Nadal Walcott
  • Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed*
  • Niño de Elche
  • Nontsikelelo Mutiti*
  • Pauline Boudry e Renate Lorenz
  • Philip Rizk
  • Rolando Castellón*
  • Rosana Paulino*
  • Sammy Baloji
  • Santu Mofokeng
  • Sarah Maldoror
  • Stanley Brouwn
  • Tadáskía*
  • Tejal Shah

  • The Living and Dead Ensemble

  • Torkwase Dyson*

  • Trinh T. Minh-Ha

  • Wifredo Lam
* artistas que desenvolvem obras comissionadas pela Bienal

Conversa com os curadores da Bienal de São Paulo

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