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'DNA do Crime' ostenta estrutura mais cara de uma série da Netflix no Brasil

Série de ação dirigida por Heitor Dhalia estreia na plataforma no segundo semestre deste ano e promete espírito lúdico

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São Paulo

Heitor Dhalia se preparou para rodar "DNA do Crime", uma das séries mais caras que a Netflix já produziu no Brasil, brincando com carrinhos.

"Comprei um monte de carrinhos e bonequinhos. Com eles, planejei cenas bem complexas de ação e perseguição", conta ele, ressaltando que cada episódio da série tem pelo menos duas das chamadas "set pieces", que envolvem muita gente e equipamentos. "Fotografei tudo e montei um photoboard em 3D, que depois foi passado para a produtora Paranoid, que está a cargo do projeto".

Cena da série 'DNA do Crime', de Heitor Dhalia
Cena da série 'DNA do Crime', de Heitor Dhalia - Alison Louback/Divulgação

Dhalia lembra que, numa entrevista anos atrás, disse que fazia cinema porque tinha saudades de brincar com o irmão, na infância. Esse espírito lúdico contaminou toda a equipe de "DNA do Crime", apesar de a realização ser feita numa escala imensa, bastante comum em Hollywood, mas ainda rara no Brasil.

É a quarta série ambientada no universo do crime do cineasta, que dirigiu episódios de "O Caçador", exibida pela Globo em 2014, esteve à frente de "Arcanjo Renegado", uma das produções originais do Globoplay de maior audiência, e agora aguarda o lançamento de "O Jogo que Mudou a História", também do streaming nacional.

"Martin Scorsese diz que o policial é um gênero em que você pode contrabandear qualquer assunto para dentro dele. Acho que é por isto que atrai tantos grandes diretores. É um gênero caro, não se faz com pouco dinheiro. Requer muito planejamento, mas também é muito divertido de se fazer".

"DNA do Crime" foi inspirada pelo caso real de um assalto na fronteira entre Brasil e Paraguai. A investigação feita pela Polícia Federal identificou o DNA de 60 dos envolvidos. "Usamos a palavra DNA nos dois sentidos, o real e o figurado", afirma Dhalia.

"A série fala do andar de cima do crime. Estamos acostumados a associar o crime às favelas cariocas, que foram muito exploradas pelo nosso cinema, mas aquilo ali é só varejo, a ponta de lança de uma estrutura muito maior".

O projeto de "DNA do Crime" foi oferecido a diversas plataformas, e todas se interessaram. Mas a Netflix foi mais rápida.

"Desde a primeira conversa, sabíamos que era uma história que queríamos trazer para nossos assinantes", diz Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo do serviço. "O Heitor é um criador incrível, um profissional que se envolve em tudo, de uma ponta a outra da produção. Um dos melhores showrunners do mercado".

Maeve Jinkings vive uma das protagonistas da série, a policial Suellen —o outro, o também policial Benício, é interpretado por Rômulo Braga. A atriz encara seu primeiro papel num roteiro de ação, depois de se destacar em filmes mais intelectualizados como "Boi Neon" e "Carvão".

"Descobri uns grupos musculares que eu nem sabia que existiam", diz ela, rindo. "É tudo muito intenso. Tem cenas de perseguição, tem a posição para carregar um fuzil e coletes à prova de bala."

Além da chance de se aventurar por um novo gênero, Maeve também se sentiu atraída pela complexidade da personagem. "A Suellen acabou de ser mãe, mas, na verdade, ela gostaria de ser pai", explica, se referindo ao fato de a policial não rejeitar o filho, mas também não se mostrar disposta a abandonar a carreira por ele.

"Essa complexificação da maternidade da Suelen me interessa profundamente. Ela é uma mulher que comete um pecado aos olhos da sociedade".

A atriz também admite uma certa identificação com a personagem. "Sou maternal, mas ainda não tenho filhos, só sobrinhos. Minha irmã foi mãe muito cedo e eu acompanhei tudo muito de perto, então tive a chance de desromantizar a maternidade".

"Um colega de elenco veio me dizer, 'comecei a ler o roteiro e fiquei com muita raiva da Suellen'. Aí eu retruquei: 'E do Benício, você não sentiu raiva, não? Porque ele também tem filho'."

O elenco de "DNA do Crime" também inclui atores amadores, sem experiência nem preparo técnico, mas que passaram por situação parecidas com as de seus personagens. Por isto mesmo, Heitor Dhalia prefere chamá-los de atores da vida real.

Um deles é Ângelo Canuto, que foi policial do Segundo Batalhão de Choque de São Paulo, enveredou pelo crime e cumpriu 15 anos de prisão. Canuto aproveitou o tempo na cadeia para se formar em administração e, em seguida, cursar pós-graduação em gestão e análise esportiva.

Depois de empresariar alguns jogadores de futebol, hoje é sócio de uma produtora que agencia talentos do funk. Também publicou dois livros autobiográficos.

"Eu faço um vilão, o Lobo, chefe de uma quadrilha", afirma ele. "Um personagem difícil para quem nunca tinha atuado na vida, mas próximo do que eu vivi como policial e como sentenciado".

Canuto também age como uma espécie de consultor informal de roteiro, indicando falas e situações que não seriam plausíveis na vida real. Mas interpretar um bandido também detonou nele alguns gatilhos emocionais.

"Tem uma cena em que eu pergunto sobre um amigo, e alguém me conta que ele foi morto. Eu passei pela mesma coisa na prisão, e me deu um gelo na alma.

Não achei que atuar fosse me afetar tanto, mas precisei da ajuda de um psicólogo".

Canuto já está trabalhando com os roteiristas de outras quatro séries da Netflix. Uma delas é a elogiada "Sintonia", que vai para a quarta temporada.

As filmagens de "DNA em Crime" aconteceram em São Paulo, Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, no Paraguai, e terminaram em fevereiro. A série agora está em pós-produção, e deve estrear no segundo semestre.

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