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O que Brian Cox sentiu sobre a grande virada do terceiro episódio de 'Succession'

Ator, que vive Logan Roy no programa, comenta os eventos explosivos recentes da série e os planos da carreira

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Austin Considine

Este texto contém spoiler.

No final, ele morreu da mesma maneira que viveu abruptamente e sem cerimônia, suspenso entre dois mundos, um pai distante dos filhos rejeitados e desorientados. Logan Roy está morto, depois de cair de joelhos sobre o vaso sanitário de seu jato executivo, no episódio desta semana na temporada final de "Succession", da HBO.

Foi um evento que qualquer fã de "Succession" sabia que provavelmente aconteceria algum dia —o primeiro esbarrão de Logan com a morte, por derrame, veio no episódio piloto da série— mas, paradoxalmente, talvez não o esperassem tão cedo. O episódio de domingo foi apenas o terceiro de dez nesta temporada.

O ator Brian Cox, de 'Succession'
O ator Brian Cox, de 'Succession' - Vincent Tullo/The New York Times

Brian Cox, que durante mais de três temporadas viveu Logan com ferocidade mercurial, pareceu tão surpreso quanto qualquer espectador ao saber que o seu personagem estava destinado a uma morte tão rápida. Em uma conversa por vídeo, ele descreveu ter recebido a notícia do criador da série, Jesse Armstrong.

"Ele me telefonou, e disse ‘Logan vai morrer’", contou Cox. "E eu pensei que tudo bem. Imaginava que ele morreria no episódio sete ou oito, mas no episódio três. Parecia um pouco cedo, eu pensei."

Aos 76 anos, Cox é de fato um titã, embora de um tipo diferente. Nascido no Reino Unido e ator renomado de teatro shakespeariano, ele recebeu prêmios Laurence Olivier e foi nomeado comandante na Ordem do Império Britânico.

E, no entanto, Cox mergulhou de cabeça no que se tornou o papel definidor da carreira, daqueles que levam desconhecidos a implorar que ele faça uma ceninha. Isso quando não se apavoram.

Na conversa, Brian Cox foi mais caloroso e generoso do que o personagem, se bem que igualmente rápido ao dar opiniões fortes acompanhadas de um dilúvio de palavrões.

Foi um fim abrupto para um personagem titânico. O que você acha da maneira em que Logan morreu?

Bem, eles tiveram de acabar de alguma forma, e a escolha foi de Jesse. Já o disse antes e repito que o problema de boa parte da televisão, especialmente a americana, é que ela ultrapassa a sua data de validade.

O melhor de Jesse e os roteiristas é que eles não pensariam fazer isso. Foi difícil para eles, porque nunca é fácil acabar com algo assim. E acho que Jesse ficou triste. Mas creio que há muitas razões para ter terminado. Aplaudo o fato de ele o ter feito. Foi corajoso porque todos adoram a série. Vá embora da festa quando está no auge, e não quando já estiver perdendo a sua força.

O adeus irlandês é uma tradição na minha família e, assim, posso respeitar essa forma. E é exatamente isso que dá força à série. Basta pensar em "Game of Thrones", naquele período em eles não sabiam o que estavam fazendo, no final, e tiveram um desfecho que não foi realmente satisfatório. E o público ficou furioso. O público [de "Succession"] podia ficar furioso; podia sentir falta de Logan e dizer "como é que você mata um dos personagens mais interessantes?". Mas, por mim, tudo bem.

Tenho outras coisas. Vou voltar ao teatro. Espero dirigir o meu primeiro filme na minha velhice. Vou fazer "Long Day’s Journey Into Night", em Londres [no ano que vem].

O que pensa da morte de Logan Roy como um episódio condutor do enredo da série? Muda imediatamente as apostas, certo? 

Muda, de fato, as apostas. O protagonista principal desaparece. E os filhos têm de lidar com isso, ou não. Penso que vai ser difícil para muitos dos espectadores na próxima semana, porque vão sentir falta de Logan. E não acho que isso seja mau. Acho que é realmente uma coisa muito boa.

Logan estava chegando a um ponto de parada, de qualquer maneira. Ele percebeu que os seus filhos nunca seriam como ele. Há um diálogo fantástico, quando diz "amo vocês, mas vocês não são pessoas sérias". Penso que isso é fundamental. Toda a premissa é realmente sobre os privilégios dos ricos e o fato de ele ter lavrado aquele sulco específico. E as consequências da lavoura são aquelas crianças e o quanto elas são [ele usa um termo impublicável], não necessariamente por causa dele, e sim por causa da riqueza. Todos sofrem de excesso de privilégio, de muitas maneiras.

Sente que existe alguma bondade em Logan Roy? 

Penso que há muita bondade nele. Penso que é muito incompreendido. Acho que tudo correu horrivelmente mal. Temos aqueles pequenos momentos de traição, e eles não são muito mencionados, as cicatrizes nas costas, a história da mãe, da irmã, da relação com o irmão. É aí que ele se torna ser humano, porque está cheio de fraquezas e de todos os problemas que todos nós temos no dia a dia e de todas as decisões horríveis que tomamos ou não tomamos.

E é isso que nós [como atores] fazemos. Refletimos, mas não somos, aquilo. E penso que muitos atores não compreendem o fato, a responsabilidade dessa posição.

Um problema real da América —e penso que é também disso que trata a nossa série— é que ela só está interessada na busca do individualismo à custa da comunidade. Quando você contempla o teatro europeu, tudo tem a ver com comunidades e grupos que deitaram raízes e continuam a cavar ano depois de ano.

A América não tem feito isso. É o conjunto, a comunidade, que é importante em qualquer projeto em que você esteja trabalhando como ator. É preciso criar a comunidade e se comportar em relação à comunidade; não se trata do seu lado, mas do todo. Não é usar a desculpa que você só pode fazer as coisas de uma maneira. Tenho de fazer isso; mas só posso fazer de uma forma.

Isso me deixa [ele usa um palavrão]. É uma droga em [ele usa outro palavrão] absoluto. Venha conosco. É um jogo.

Tradução de Paulo Migliacci

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