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Paul Mescal e Emily Watson tiram o fôlego em 'Criaturas do Senhor'

Trama emocionante traz vilarejo irlandês com mulher dividida entre proteger o filho favorito e seus próprios valores morais

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Criaturas do Senhor

  • Quando Estreia nesta quinta (13) nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Emily Watson, Paul Mescal e Aisling Franciosi
  • Produção Irlanda, 2022
  • Direção Saela Davis e Anna Rose Holmer

Esse é um daqueles filmes no qual você pode se interessar só por causa dos atores que aceitaram trabalhar nele. Eles são como uma garantia de qualidade. A inglesa Emily Watson, de "Gosford Park", "Embriagado de Amor" e a minissérie "Chernobyl", entre muitos outros trabalhos marcantes, é um desses nomes.

Paul Mescal, o irlandês de 27 anos revelado na série "Normal People", de 2020, está se tornando outro desses nomes. Desde que fez a série, ou ele contratou um agente excelente ou ele realmente tem aquela mistura rara de sorte e inteligência que usa na hora de escolher os trabalhos.

Paul Mescal e Emily Watson em cena do filme 'Criaturas do Senhor'
Emily Watson e Paul Mescal em cena do filme 'Criaturas do Senhor' - Divulgação

Mescal esteve em dois filmes independentes e excepcionais nos dois últimos anos, "A Filha Perdida" e "Aftersun" antes deste "Criaturas do Senhor", em que representa um tipo bem diferente dos moços basicamente bons e naturalmente irresistíveis que marcaram sua carreira até agora. Quem sabe ele não vai ser o galã da nova era que é também a exceção à regra que demanda que todos os atores jovens e bonitos acabem numa franquia da Marvel?

Neste filme ele continua naturalmente irresistível, já que não usa nenhuma prótese que disfarce seu rosto ou seu corpo, mas seu personagem é o centro de um drama impossível, quase uma tragédia grega, em que quase ninguém é inocente.

Dirigido por uma dupla de jovens cineastas americanas, Saela Davis e Anna Rose Holmer, o filme se passa em um vilarejo na costa irlandesa que vive da pesca em um tempo que não parece atual, mas também não é demarcado nem interfere na história. Talvez os anos 1990, já que ninguém tem celular.

É uma comunidade unida e fechada, todo mundo conhece todo mundo e os homens e as mulheres cumprem as funções tradicionalmente determinadas para homens e mulheres. Os homens pescam, as mulheres fazem o trabalho de casa, criam os filhos e trabalham na empresa que processa os peixes que os homens trazem.

Aileen, personagem de Emily Watson, é uma espécie de gerente sênior na empresa. É ela que tem a chave do galpão onde várias mulheres limpam os peixes e os preparam para serem vendidos e faz a interlocução das funcionárias com o patrão, um homem durão e grosseiro.

Um dia, sem aviso prévio, seu filho Brian, papel de Paul Mescal, volta para casa depois de uma temporada longa na Austrália na qual ele nunca escreveu, telefonou ou mandou qualquer notícia para a família. Ele desapareceu anos antes sem qualquer explicação e voltou de repente também sem justificativa.

E Aileen se derrete quando vê seu filho preferido. Mesmo sem grandes demonstrações públicas de afeto, fica evidente que aquela é uma mãe satisfeita por ter seu único filho homem de volta.

Brian tem uma irmã, Erin, papel de Toni O'Rourke, que também mora com a família e tem um bebê de poucos meses. Na casa ainda moram o marido de Aileen e pai dos dois filhos, Con, e o pai do pai, um velho com poucos dentes na boca e catatônico, que não diz uma palavra e fica sentado olhando para o nada.

A volta do filho traz, no entanto, mais do que só a alegria da mãe por revê-lo. Ele e o pai não se dão bem e, apesar de não ter nenhum sinal evidente de que aquele não é mais um garoto irresistível interpretado por Paul Mescal, há uma tensão no ar.

Ele diz que voltou para cuidar da criação de ostras que seu avô tinha e está abandonada, mas o fato de nunca explicar nada sobre o que o fez ir embora e o que o fez voltar provoca o primeiro incômodo deste roteiro.

Depois disso os sinais vão aparecendo sutilmente, e um contrasta com o outro. Por exemplo, ele consegue fazer o avô catatônico voltar a cantar quando se senta ao lado do velho no sofá e lhe dá a mão e toda a atenção e paciência do mundo. Mas joga suas roupas sujas no chão, contando que sua mãe vá recolhê-las.

A mãe de um moço que morreu afogado parece titubear na hora de passar as roupas do filho para o filho de Aileen, como é o costume da cidadezinha. Nada é dito, tudo é insinuado.

Até que um dia Aileen é acordada no meio da noite por um policial pedindo que ela vá até a delegacia. Brian foi acusado de estupro por uma colega de trabalho de Aileen, uma garota com quem ele costumava namorar antes de deixar a cidade e com quem ficou tomando uísque em um bar na noite do suposto estupro. O policial quer saber se Aileen tem algum álibi para o filho.

A resposta dela é o começo de uma série de eventos trágicos que parecem acontecer quase no segundo plano, mas que provocam um crescendo de tensão e tristeza, aflição e raiva e culminam num final que, literalmente, faz faltar o ar.

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