Quando "Guardiões da Galáxia" foi lançado, em 2014, o filme era um azarão. O Marvel Studios, então em seu décimo longa-metragem, apostava em personagens desconhecidos, que incluíam um guaxinim falante e uma árvore antropomorfizada. Sem estrelas no cartaz ou um diretor famoso, a produção era um risco à sequência de sucessos do estúdio.
Nove anos depois, a franquia chega ao terceiro capítulo, com os nomes Rocket Raccoon e Groot populares. A esperança é que a continuação seja a melhor bilheteria do ano para o estúdio, que vive sua maior turbulência em 15 anos. Mas "Guardiões da Galáxia Vol. 3" é um filme de despedidas —e o elenco sabia disso desde as filmagens.
"Foi uma produção mais emocional", diz Pom Klementieff, atriz que vive a heroína Mantis desde o segundo volume da série. "Há uma cena mais para o fim em que nós estamos reunidos num círculo e percebemos que era o último momento em que estávamos juntos. A emoção naquela hora é real. Não é atuação."
O tom do filme acompanha o sentimento. Depois de duas aventuras dominadas pelo humor, o terceiro volume é mais sério. Os protagonistas se veem diversas vezes em situação de perigo, e um deles se encontra à beira da morte. Mesmo a trilha sonora, marca da franquia, começa com a versão mais deprimida de "Creep", do Radiohead.
Ao menos três nomes do elenco dão adeus aos seus personagens no filme —Zoë Saldaña, que interpreta a mercenária Gamora, Dave Bautista, que vive o musculoso Drax, e Karen Gillan, que faz a vilã tornada heroína Nebulosa.
Diretor e roteirista de toda a franquia, James Gunn também está de saída. Ele vai chefiar a DC Films, rival da Marvel nos cinemas. O trabalho começa em 2025 com um novo filme do "Super-Homem", que ele vai dirigir.
A promoção de Gunn na concorrência é mérito do sucesso de "Guardiões da Galáxia" na década. Mas a boa reputação com a equipe pavimentou o caminho. O clima de camaradagem dos filmes tomou conta dos sets de filmagem, e o elenco se uniu em torno dele.
Chukwudi Iwuji, que vive o vilão Alto Evolucionário no novo filme, diz que a boa atmosfera do set é uma das escolhas criativas do diretor. "Gunn gosta de se cercar de pessoas que considera boas. A escolha não é feita com base só no talento ou valor de mercado. Você tem que ser alguém que se relacione bem com os outros. As filmagens levam essa energia."
A amizade de Gunn com os atores impacta o roteiro. No caso de Mantis, Klementieff diz que o papel ganhou mais cenas de ação depois que ela pediu ao diretor. A atriz diz que ele mudou o desenvolvimento da heroína do segundo para o terceiro filme, conforme as necessidades da artista, o que a permitiu ser mais do que um alívio cômico.
Ela considera a mudança importante, dado o perfil emotivo do papel —em caráter literal, afinal, a heroína manipula emoções. "Amo fazer a Mantis, porque posso ser muito esquisita com a personagem, mas com o coração. Ela se importa muito com os amigos, que, no fundo, são tratados como sua família."
O trabalho de Gunn com o elenco também é importante para estabelecer novos personagens, que conseguem ser tão estranhos quanto os originais. É o caso de Adam Warlock, figura vivida por Will Poulter neste terceiro episódio.
O herói é apresentado como o mais poderoso representante de uma espécie de pele dourada, que foi vilã do segundo filme da franquia. A concepção vem dos quadrinhos, onde o personagem é um equivalente de Jesus Cristo da Marvel.
No filme de Gunn, porém, Warlock é tratado tanto como um adversário quanto um elemento de humor. A mistura permitiu ao ator dissolver o perfil divino do personagem, tornando-o mais acessível.
"Independente do quão malucas ficam as coisas em ‘Guardiões da Galáxia’, tudo é estabelecido em um conceito de humanidade", afirma Poulter. "Com meu personagem, apesar de ele ser um tipo excêntrico, Gunn garante que esteja de acordo com o tom do filme."
Encontrar um balanço entre deus e homem em uma aventura espacial foi um dos desafios de Gunn neste filme. Chukwudi Iwuji diz que foi orientado a viver o Alto Evolucionário de forma verdadeira, apesar das suas intenções megalomaníacas. Na história, o vilão busca desenvolver a sociedade perfeita.
"James [Gunn] insistia que não fôssemos irônicos com os papéis, mesmo em momentos malucos. Assim, as falas mais inconcebíveis eram a base dos melhores momentos."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.