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Música de Ed Sheeran melhora em 'Subtract' após os calos da sua vida

Cantor enfrentou processo de plágio, doença da mulher e morte de amigo nos últimos anos, o que abriu seu coração

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Camilo Rocha

– (Subtract)

O álbum, "–", ou "Subtract", lançado nesta sexta-feira, chega como síntese da jornada recente do britânico Ed Sheeran. Milionário e mundialmente consagrado, capaz de se conectar emocionalmente com pessoas de todo o tipo por meio de sua arte, o britânico é uma pessoa para quem talento e fortuna sorriram com intensidade. O que poderia dar errado em sua vida?

De 2022 para cá, muita coisa. Em fevereiro do ano passado, sua esposa Cherry Seaborn, então grávida de seis meses da menina Jupiter, o segundo filho do casal, descobriu um tumor no braço.

Ed Sheeran lança seu novo álbum "-" (Subtract) - Divulgação

No mesmo mês, um dos melhores amigos do cantor e responsável por lançar sua carreira, o empresário e youtuber inglês Jamal Edwards, morreu aos 31 anos depois de uma noitada movida a álcool e cocaína. "O sentimento de perda simplesmente dominou minha vida", diz o cantor no documentário "Ed Sheeran: The Sum of It All", lançado na Disney+.

Mais recentemente, Sheeran foi alvo de um processo por parte da família do cantor americano de soul Marvin Gaye. Segundo a ação, a música "Thinking Out Loud" —de seu álbum de 2014, "x", ou "Multiply"— havia plagiado "Let's Get It On", clássico de Gaye de 1975. Nesta quinta-feira, um júri de Nova York absolveu Sheeran da acusação. Se dizendo bastante abalado, Sheeran afirmou à imprensa americana que nunca seria "um cofrinho para os outros sacudirem".

O título desse sexto álbum é o sinal de subtração. O trabalho dá sequência à discografia baseada em símbolos matemáticos, que Sheeran iniciou em 2011 com "+" ("Plus") e tinha em "=" ("Equals") seu lançamento mais recente, de 2021.

A ideia de subtrair expressa bem a intenção acústica do álbum, de acordo com definição do próprio Sheeran. São faixas que trazem poucos elementos sonoros, em que a voz do cantor tem muito mais presença e nuance.

Diferentemente do disco anterior, aqui quase não há arranjos repletos de instrumentação ou ritmos eletrônicos. A produção é de Aaron Dessner, fundador da banda The National, ícone do indie rock, e produtor do disco alternativo de Taylor Swift, "Folklore".

A ideia de subtração acabou se alinhando também com as adversidades recentes do cantor. Como Sheeran contou em seu perfil no Instagram, "Subtract" vinha sendo preparado há muito tempo, mas as circunstâncias forçaram uma mudança de rota brusca. "E, assim, em pouco mais de uma semana, troquei uma década de trabalho pelos meus pensamentos mais sombrios e profundos", afirmou.

Em muitas maneiras, é o registro de um artista ficando mais maduro e calejado pela vida e suas experiências difíceis. "Passamos nossa juventude com braços e corações totalmente abertos/ E então a escuridão entra e esse é o fim da juventude", canta Sheeran em "End of Youth".

Letras que falam de vulnerabilidade, sofrimento e fraqueza atravessam o trabalho. Já na segunda música, "Salt Water", Sheeran canta sob a perspectiva de um suicida que escuta ovento dizer que "tudo bem fugir de toda essa dor".

Em "Curtains", segundo explicação do próprio Sheeran, a letra descreve um amigo que usava mangas compridas para esconder marcas de automutilação. O tom aqui, no entanto, é mais esperançoso: "Você pode abrir as cortinas? Deixa eu ver a luz do sol".

Ainda na chave da delicadeza, "Dusty" traz um contraponto positivo ao descrever a convivência entre Sheeran e sua filha ao som de discos da cantora inglesa Dusty Springfield. "Que maneira de começar o dia com você", canta o artista. É um sentimento de procurar "beleza quando as coisas estão sombrias" —trecho da primeira música do álbum, "Boat".

É possível questionar diversos aspectos da obra de Sheeran, em especial letras que frequentemente se apoiam em frases pouco originais. São formulações que funcionam, mas raramente brilham ("as ondas não irão quebrar meu barco" ou "os pássaros pretos voam e fazem o céu franzir").

Nada disso, porém, tira a força e a sinceridade do que se ouve aqui. Sheeran abriu muito o coração e sua música só ganhou com isso.

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