Como o mercado de NFTs tenta se consolidar no Brasil além da moda do momento

Exposição em São Paulo reúne 600 obras de arte entre fotografias, pinturas e peças feitas a partir de código criativo

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São Paulo

Ao se deparar com a mostra "Expo Artística e Interativa", no pavilhão da Bienal de São Paulo no parque Ibirapuera, o visitante pode muito bem pensar "isso é muito 'Black Mirror'". Afinal, em vez de apenas ouvir falar de arte em NFTs, ele agora tem a chance de ver centenas delas cara a cara.

Reunindo quase 600 obras em tokens não fungíveis, os NFTs —espécie de selo de autenticidade e propriedade de arquivos digitais—, essa parte do evento NFT.Brasil busca aproximar o público da tecnologia que se tornou um dos assuntos mais quentes —e confusos— dos últimos anos.

Obra da artista indígena Rita Huni Kuin exposta no evento NFT.Brasil - Divulgação

A exposição traz algo em torno de 600 peças de artistas nacionais e internacionais. Além dela, o visitante pode conferir a "Expo Imersiva", um espaço de mais de 100 metros quadrados para imergir numa experiência artística sensorial.

A curadoria, assinada por Ricardo Petersen, Mariana Braoio e BRPunk, traz 17 telas e, em cada uma delas, 24 obras são exibidas por dois minutos e meio. Um código QR leva curiosos e possíveis compradores ao ambiente digital em que a peça pode ou não ser adquirida.

Alguns dos artistas expostos são Ottis, Pessanha, Fesq e Priscila Nassar, entre outros. São pinturas digitais e a óleo, feitas a partir de código criativo, colagem e fotografia que atestam a vasta gama de possibilidades que a arte encontra para ganhar corpo em NFTs, diz Petersen, que buscou selecionar nomes de variadas regiões do Brasil.

Uma coleção específica, a Indigenas.Art, traz a arte de indígenas que buscam divulgar seus trabalhos, como artesanato, telas e fotografias, em versão digitalizada.

Petersen, o curador, afirma que, na prática, as NFTs tornam possível para os artistas não dependerem de intermediários, como o Google, para serem encontrados na internet. O trabalho deles, portanto, é capaz de irritar as indústrias que servem de "gatekeepers", isto é, executivos com poder para decidir o que é lançado ou não.

"O movimento disruptivo está em você, enquanto iniciante, não precisar de uma galeria para fazer o upload da sua arte em um marketplace [ponto de venda] em que já tem outros artistas já respeitados. Vocês terão a mesma visibilidade", diz. "É só enviar o link ao colecionador. Tudo isso foi proporcionado pelo blockchain, e o NFT trouxe."

Por outro lado, de acordo com a plataforma de análise NFTGo, em abril deste ano, o mercado teve 8.641 vendedores de criptoativos, enquanto 7.907 compradores foram registrados. É o menor número de compradores em 12 meses. O evento, portanto, estreia no Brasil em um momento em que o mercado de arte em NFTs tenta ir além de ser a moda do momento e se consolidar de fato.

Mas, para todos os efeitos, o valor de mercado total de obras nesse formato já soma US$ 11,3 bilhões, segundo a pesquisa Verified Market Research, a VMR. O mesmo relatório aponta que a taxa de crescimento anual traçada para os próximos oito anos é de 33,7% e o valor de mercado total pode chegar a US$ 231 bilhões até 2030, ou mais de R$ 1 trilhão.

Segundo o curador, o cenário sinaliza um mercado em busca de amadurecer. "A discrepância entre criadores e compradores é uma barreira que a gente vai ter que ultrapassar. O mercado ainda é embrionário, experimental e está em constante evolução. O primeiro contrato inteligente é de 2017", afirma. "Muita gente não sabe o que é uma 'wallet' [carteira] ou um 'marketplace', então existem barreiras educacionais."

O evento NFT.Brasil ainda conta com shows musicais de Thaíde, DJ Marky e BNegão e rodas de conversa sobre as relações entre as NFTs com Web3, arte, esportes, meio ambiente, criptomoedas e metaverso.

NFT.Brasil

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