Mostra na Casa de Vidro põe artistas e Lina Bo Bardi em diálogo com a arquitetura

Reunião de obras de Hélio Oiticica, Glauber Rocha e Mira Schendel provocam discussão sobre a passagem do tempo

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São Paulo

"O tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo nem fim", disse a arquiteta e designer Lina Bo Bardi, conhecida por projetar o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e o Sesc Pompeia.

Se estivesse viva, a ítalo-brasileira, morta em 1992, aos 77 anos, poderia estar saltitante de tanta alegria ao testemunhar a provocação ganhar vida em sua própria morada, a Casa de Vidro, em São Paulo, por meio de uma celebração da cultura brasileira.

Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi - Keiny Andrade/Folhapress

A icônica construção desenhada pela arquiteta abriga a mostra "The Square", que traz obras de arte brasileiras espalhadas por diferentes ambientes e cômodos da casa, em interação com os objetos ali instalados pela própria Bo Bardi quando viva.

A organização de Mari Stockler honra a defesa que a arquiteta fazia da não distinção entre as artes erudita e popular. A seleção de 50 artistas inclui Augusto de Campos, Hélio Oiticica, Glauber Rocha, Lygia Clark, Mira Schendel, Rosana Paulino, Nuno Ramos e Surubim Feliciano da Paixão.

Stockler dividiu a exposição em quatro temas. O primeiro une as peças com objetos originais da casa, visando ao encontro do moderno com o contemporâneo. O segundo, a arquitetura modernista de Bo Bardi com a natureza —a casa está rodeada pela exuberante vegetação da mata atlântica—, artes plásticas e espiritualidade. O terceiro traz as influências do neoconcretismo e as origens da tropicália, enquanto o quarto propõe uma imersão na bossa nova.

Foi a maneira que Stockler encontrou, ela diz, de materializar a percepção de Bo Bardi a respeito do tempo e, assim, aproximar o visitante da visão de mundo multidisciplinar da arquiteta e o convidar a caminhar pelos mesmos corredores e cômodos em que ela própria andou com sua curiosidade palpitante.

"A trajetória da Lina contém ativações e provocações entre os passos que ela percorreu. Ela pensava em espaços para serem fluidos. Ela via inteligência no fazer popular. A casa não é um espaço de qualificação estética", afirma.

Uma obra de Mira Schendel fica ao lado da estátua de Diana, personagem da mitologia grega, do século 3º antes de Cristo, por exemplo. A escultura de um bode da arquiteta habita o mesmo ambiente que uma obra de Leda Catunda. E, no quarto que Bo Bardi dividia com o marido, Pietro Maria Bardi, se encontram livros que a designer poderia estar lendo hoje, se estivesse viva, e executado ao fundo, um áudio com a voz da atriz Fernanda Montenegro lendo trechos de textos da arquiteta.

A exposição "The Square" integra o projeto de intercâmbio cultural proposto pela marca de moda Bottega Veneta —e é liderado pelo próprio Matthieu Blazy, diretor criativo da grife e apaixonado confesso pela Casa de Vidro.

Essa é a terceira edição do projeto e a primeira a ser realizada Brasil, depois de passagens por Dubai e por Tóquio, ambas no ano passado.

Comprando a caixa de livros da exposição, o visitante encontra códigos QR que dão acesso aos podcasts que registraram conversas entre artistas e criativos presentes no evento de abertura da "The Square", ocorrida em 26 de maio, que incluem Arnaldo Antunes, Raphael Cruz, Bel Coelho, Alaíde Costa, Davi de Jesus, Maria Nepomuceno e Lenora de Barros, entre outros. A entrada deve ser agendada antes pelo site: portal.institutobardi.org.

The Square

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmava que os livros da exposição estavam à venda para visitantes, mas eles eram apenas para convidados no dia da abertura da mostra. O texto foi corrigido.

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