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Livro analisa a música do século 20 para além de Beatles, Abba e Elvis

Kelefa Sanneh disseca sete gêneros, do rock ao hip-hop, passando pelo R&B e country, e ainda alfineta o jornalismo atual

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Na Trilha do Pop: A Música do Século 20 em Sete Gêneros

  • Preço R$ 129,90 (512 págs.); R$ 69,90 (ebook)
  • Autoria Kelefa Sanneh
  • Editora Todavia
  • Tradução André Czarnobai

Nos últimos anos, foram lançados alguns livros sobre a música pop do século 20, como "Yeah Yeah Yeah", de Bob Stanley, e "Electric Shock", de Peter Doggett —ambos, infelizmente, sem tradução no Brasil. Doggett é também autor de dois excelentes livros sobre música que saíram aqui —"David Bowie e os Anos 70" e "A Batalha Pela Alma dos Beatles".

Agora, chega mais um volume que tenta explicar a história da música jovem do século passado. É "Na Trilha do Pop", do crítico musical Kelefa Sanneh, lançado pela editora Todavia.

Fãs ao redor de Paul McCartney e George Harrison, dos Beatles, em 1965 - AFP

Se Stanley e Doggett organizaram seus trabalhos cronologicamente, Sanneh estruturou seu livro de forma diferente, ignorando cronologias e dividindo a narrativa em sete gêneros musicais —rock, R&B, country, punk, hip-hop, dance music e pop.

O resultado é um livro menos enciclopédico e mais analítico, que busca compreender e explicar o fenômeno musical do século 20 com uma prosa envolvente, repleta de citações a músicas e artistas, mas que nunca cai para o lado da crítica musical impenetrável e feita para iniciados —vale destacar a ótima tradução de André Czarnobai, que mantém o texto fluido e agradável.

Sanneh escreve sobre música na revista The New Yorker e foi crítico do jornal The New York Times por seis anos. Nasceu em 1976 no Reino Unido, de pais africanos que mudaram para os Estados Unidos quando ele tinha cinco anos.

Toda sua visão da música pop, como ele admite na introdução do livro, vem do ponto de vista de um americano. Diferentemente de Stanley e Doggett, que são britânicos —Stanley é membro da banda pop inglesa Saint Etienne— e encheram seus livros de referências à música pop europeia, Sanneh praticamente ignora o pop feito fora dos Estados Unidos.

O Abba, grupo sueco que revolucionou a música comercial nos anos 1970, não é sequer citado nas quase 500 páginas do livro. Os Bee Gees ganharam um total de duas breves menções.

Por outro lado, Sanneh escreve com muita propriedade sobre gêneros que nasceram nos Estados Unidos, como o hip-hop e o country, que estão praticamente ausentes dos trabalhos de Stanley e Doggett.

Outra diferença marcante entre os livros é que, enquanto os dois primeiros retrocedem décadas e enxergam a origem da música pop nos anos 1940, quando Frank Sinatra se tornou o primeiro ídolo jovem da música, Sanneh começa sua história mais para a frente.

"Existe uma teoria comum, e talvez até correta, segundo a qual a música mudou nos anos 1960", escreve. "Geralmente essa alegação envolve os Beatles, a cultura jovem e alguma coisa sobre a Guerra do Vietnã. Contudo, os Beatles acabaram no final daquela década, e este é um livro sobre o que aconteceu depois disso, ao longo dos cinquenta anos seguintes, contando a história de sete gêneros musicais de destaque."

A divisão dos capítulos por gêneros valoriza o estilo solto de Sanneh, que por vezes interrompe linhas de pensamento para contar uma história curiosa sobre algum artista ou música e, em outras, demonstra um notável poder de síntese, ao resumir em poucas linhas um tema que renderia teses complexas.

Sobre a trajetória do rock no século 20, escreve: "Na década de 1950, o rock‘n’roll destruidor de paradigmas de Elvis Presley era tão amplamente popular que ele chegou ao topo das paradas de pop, R&B e country ao mesmo tempo. O rock‘n’roll, por outro lado, se desenvolveu de maneira mais singular. Nos anos 1950, ele se separou do country; nos anos 1960, se separou do R&B; e, nos anos 1970, se separou do pop, consolidando seus próprios veículos de comunicação e suas referências".

Em suas divagações, Sanneh encontra espaço para analisar a crítica musical atual com ideias muito interessantes sobre as razões pelas quais críticas negativas de discos praticamente sumiram. Ele credita isso, em boa parte, ao esvaziamento das redações de jornais e revistas.

Quando críticos tinham empregos fixos em publicações, não se preocupavam com as repercussões de um texto negativo. Hoje, quando todo mundo é freelancer, poucos se arriscam a criticar um artista e ter de lidar com a ira dos fãs na internet e a consequente pressão desses sobre o editor.

Como é bom ler alguém tão competente quanto Sanneh escrevendo sobre música e a indústria musical.

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