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Prêmio da Música Brasileira une tradição e novidade e esquece funk

Maioria dos prêmios foi para nomes como Chico César, Djavan e Elba Ramalho, e palco também abraçou algumas estrelas do pop

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São Paulo

Em clima de renovação após um longo hiato, o Prêmio da Música Brasileira ocorreu nessa quarta-feira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com atenção à diversidade —de pessoas, mas também de ritmos.

A homenageada da noite foi Alcione, que completa 50 anos de carreira e navegou, com maestria, por diversos gêneros entre samba, MPB e jazz. Como classificou o ator Lázaro Ramos, apresentador da premiação, Alcione "transitou por infinitas avenidas da música brasileira, sem nunca perder o caminho de casa".

Maria Bethânia e Glória Groove no Prêmio da Música Brasileira - Webert Belicio e Paulo Tauil 31.mai.2023/AgNews

A largada da cerimônia foi dada por um dueto entre Maria Bethânia e Gloria Groove de "O Meu Amor", um dos mais esperados da noite. A diferença de geração e de gênero musical parece ter intensificado os olhares de admiração das artistas uma pela outra durante a cantoria.

As interpretações de canções de Alcione foram um ponto alto da noite, com Criolo e Xande de Pilares cantando "Garoto Maroto", Emicida e Fioti, "Agolonã", Luedji Luna, "Meu Vicio É Você" e Caetano Veloso dando voz a "Onde o Rio É Mais Baiano". A apresentação de Péricles e Ferrugem, dois nomes fortes do samba, assim como a homenageada, levaram o público a aplaudir de pé.

Movimento que se repetiu quando Alaíde Costa venceu o prêmio de melhor lançamento com o álbum "O que Meus Calos Dizem sobre Mim", memórias musicadas que se transformam em emoções no presente e que, juntas, ajudam a trançar uma trajetória artística inabalável.

O prêmio de melhor canção foi para "Que Tal um Samba?", de Chico Buarque, que imagina um Brasil melhor após a derrota de Jair Bolsonaro em 2022.

O clima de renovação do prêmio foi acentuado pelo otimismo pós-pandêmico e pós-eleição, somado à mudança de categorias, que representou um sinal verde para que mais artistas pudessem concorrer.

As categorias de cantor e cantora se unificaram em intérprete, enquanto pop, rock, reggae, hip-hop e funk se dividiram em duas categorias, ou pop ou rock ou música urbana, coerente com a quantidade de variações de cada gênero e com o alto fluxo da produção nacional.

O melhor DVD virou melhor produto audiovisual —decisão que abre espaço para tipos mais diversificados de produção. Os vencedores da categoria foram os Gilsons, que vêm aumentando a popularidade após o lançamento do álbum "Pra Gente Acordar", no ano passado.

Mais uma vez o funk, um dos estilos musicais mais ouvidos no Brasil, não teve representações. Artistas indicados que se aproximavam do gênero, como Anitta e Gloria Groove, não levaram prêmios.

Chico César liderou as indicações, com três no total, melhor intérprete e lançamento de pop ou rock e melhor lançamento também na categoria música popular, com o single "De Amor, Amor", colaboração com Felipe Cordeiro, que foi vencedor.

Os primeiros versos da canção falam de saudade e são acompanhados por um solo de guitarra e uma tímida percussão, irrompidos pelo refrão chiclete e dançante, "eu quero, te quero, de amor, amor".

O artista gritou "não ao marco temporal" quando recebeu o prêmio, endossado por outros na plateia. Logo no início da cerimônia, os apresentadores da edição, Lázaro Ramos e Felipe Neto, mencionaram os "anos de sufoco vividos pela cultura brasileira", lembrando o último governo.

Celebrado álbum de Chico César, "Vestido de Amor", de 2022, que mistura musicalidades africanas e brasileiras, perdeu para "O Futuro Pertence À... Jovem Guarda", de Erasmo Carlos.

Nas premiações póstumas, Marilia Mendonça foi consagrada como melhor intérprete na categoria canção popular, enquanto Elza Soares levou o título em pop ou rock.

Ao competir com os mais jovens, artistas mais consagrados como Djavan, Alceu Valença, Fundo de Quintal e Elba Ramalho acabaram levando a melhor. Além da interpretação das músicas de Alcione durante a cerimônia, as novas gerações tiveram destaque também na categoria música urbana, em que Planet Hemp, Criolo e o álbum "Quantas Vezes Você Já Foi Amado?", do rapper baiano Baco Exu do Blues, saíram vencedores.

Em homenagem emocionante a Rita Lee, Alcione cantou "Pagu", enquanto fotografias da rainha do rock brasileiro ocupavam o telão do palco.

"Não Deixe o Samba Morrer" encerrou a cerimônia na voz da própria Alcione, junto com Pedro Sampaio, que recriou a melodia fazendo uso de um MPC, aparelho de mixagem —apesar do vídeo que viralizou nas redes sociais como meme, em que o DJ mostrou o resultado durante um ensaio e a sambista não pareceu muito animada.

A apresentação da dupla no final do prêmio foi significativa —a produção musical se mantém pulsante pela troca entre gerações. A escola de samba da Mangueira tomou o palco e a plateia nos últimos minutos, transformando a cerimônia em festa.

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