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Ex-jornalista da Folha relata 'desaposentadoria' em seu novo livro de memórias

Em sua terceira obra, Antonio Carlos Seidl conta a sua trajetória pessoal e profissional no Brasil e em Londres

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São Paulo

Após cinco décadas atuando em Redações no Brasil e como correspondente no Reino Unido, o jornalista e escritor Antonio Carlos Seidl foi convidado por um grande banco, anos atrás, a atuar como coordenador de relações com a imprensa.

Na ocasião, dentro de uma instituição financeira, viu a oportunidade de multiplicar seu pé de meia com a ajuda de um colega consultor de investimentos. Ao pedir conselhos, levou uma bronca.

"Antes de mais nada, você tem primeiro de pensar o que vai fazer com seu tempo depois da aposentadoria", retorquiu o colega. Em retrospecto, Seidl considera o conselho mais sábio que recebeu.

antonio carlos seidl sentado de terno em sofá de couro marrom
O jornalista e escritor Antonio Carlos Seidl, que foi correspondente da Folha em Londres - Julia Braga/Divulgação

O resultado desse percurso é um novo livro de memórias (o terceiro) desde que se "desaposentou". "Lábios de Chocolate - Novas Inconfidências de Tempos (I)memoriáveis" segue a trilha de duas obras anteriores ("Do Palácio ao Bordel" e "O Beijo na Calçada") ao contar, com graça e fatos, reminiscências do passado, muitas delas de sua atuação como jornalista.

Carioca de nascimento e britânico em espírito e modos, Seidl revela como sua bem-sucedida carreira jornalística em vários veículos brasileiros —entre eles a Folha, onde trabalhou por mais de 15 anos em Londres e no Brasil— resultou de um encontro frustrado com uma moça na adolescência.

Passando uns dias na casa de tios em Teresópolis, no Rio de Janeiro, Seidl convidou uma garota para ir ao cinema. Ao pedir o fusca do pai emprestado para impressionar a pretendente, levou um não e acabou intimado a trabalhar para que, no futuro, pudesse comprar seu próprio carro.

Por indicação de seu pai, jornalista e médico, conseguiu o primeiro trabalho como repórter profissional na seção de esporte do já extinto Correio da Manhã. "Nos anos 1960 aprendia-se jornalismo na marra, no trabalho do dia a dia nas Redações", recorda.

Muitos dos 21 textos de "Lábios de Chocolate" relembram fatos peculiares relacionados ao jornalismo, e um deles é dedicado a Otavio Frias Filho, que comandou a Folha durante 34 anos até sua morte, em agosto de 2018, aos 61 anos, vítima de câncer originado no pâncreas.

Além de relembrar a trajetória de Frias Filho como dramaturgo, ensaísta e jornalista mentor do Projeto Folha, que tornou o diário o maior do país e que modernizou o jornalismo brasileiro na década de 1980, Seidl reconstitui encontros pessoais, em Londres e em São Paulo, com o então diretor de Redação.

O primeiro ocorreria em 1986, quando Frias Filho, em viagem de trabalho a Londres, o procurou e pediu que o levasse para conhecer um típico pub inglês. Seguindo a regra desses bares sem garçons, ambos se alteraram em sete idas ao balcão para buscar pints de cerveja que regaram uma longa conversa sobre a Folha, o jornalismo e o ambiente político do Brasil à época.

Seidl lembra com apreço o encontro e ressalta no texto o fascínio pelo teatro e suas obras demonstrado por Frias Filho. Autor de várias peças encenadas, como "Típico Romântico", "Rancor" e "Dom Juan", o então chefe teria dito ao correspondente: "Entrei no jornalismo por circunstâncias familiares, mas tenho muito apreço pela profissão. É a minha tarefa."

Mais de dez anos depois, de volta ao Brasil e atuando como repórter especial de economia na Folha em São Paulo, Seidl teve a ideia de convidar Frias Filho para assistir a uma montagem da peça "The Importance of Being Earnest", de Oscar Wilde, estrelada pelo seu filho Rodrigo, então com 17 anos, na escola britânica paulistana St. Paul’s. Frias Filho topou na hora.

Seidl também informa no livro que Frias Filho foi o idealizador do pioneiro "Manual da Redação", de 1984, e que, atualizado periodicamente ao longo dos anos, impôs rigor e regras para a prática do jornalismo profissional na Folha.

O autor recorda um fato pitoresco do ano de lançamento do primeiro "Manual da Redação", quando Frias Filho publicou no então suplemento semanal Folhetim uma série de aforismos sobre a profissão intitulado "Antimanual de Jornalismo".

Nele, Frias Filho descreve francamente, com doses de ironia e humor, o que pensa de jornalistas, dos leitores e dos jornais. Sobre a prática do bom jornalismo, resume: "O erro está em procurar a objetividade na sinceridade ou no esforço, quando ela só pode estar em um método".

Lábios de Chocolate - Novas Inconfidências de Tempos (I)memoriáveis

  • Quando Lançamento nesta terça (4) às 18h no Bar São Cristóvão, em São Paulo
  • Preço R$ 49,90 (160 págs.)
  • Autoria Antonio Carlos Seidl
  • Editora Astrolábio Edições
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