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Partituras de Antonio Madureira mostram brilho da arte armorial

Livro com edição clara indica todos os procedimentos necessários para a boa execução do repertório do autor

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Antonio Madureira Armorial - Histórias e Partituras Vol. 1

  • Preço R$ 80 (152 págs.)
  • Autoria Francisco Andrade
  • Editora Çarê Editora

Lançado em 1974, "Do Romance ao Galope Nordestino", álbum de estreia do Quinteto Armorial, foi o ponto de intersecção do ideário de um movimento que, nascido na universidade, era liderado por Ariano Suassuna.

Obra 'Anjo e Dragão', de Fernando Lopez Paz, mostrada na exposição 'Movimento Armorial 50 Anos', no Centro Cultural Banco do Brasil - Diego Rocha/Divulgação

O álbum revelou um grupo de músicos jovens, talentosos e com formação diversificada —Antonio Nóbrega, no violino e na rabeca, Edilson Cabral, no violão, Egildo Vieira, na flauta e no pífano, Fernando Torres, no marimbau, e Antonio Madureira, na viola nordestina, o principal compositor do quinteto.

Precedidas por textos bastante completos de Braulio Tavares e Francisco Andrade, com introdução de Ivan Vilela e um epílogo lúdico de Adelsin, as partituras de Madureira enfim começam a ser disponibilizadas. Acaba de sair "Antonio Madureira Armorial: Histórias e Partituras", o primeiro dos três volumes previstos pelo projeto do Instituto Çarê.

As partituras são apresentadas em formato de grade orquestral (e não em partes individuais de cada instrumento), para a formação do quinteto e suas variações. A edição é bastante clara e cuidadosa, contendo todos os detalhes de afinação, dinâmica, articulação e andamento necessários para ganharem vida em novas performances.

Sete composições de Madureira, todas gravadas no álbum de estreia do Quinteto Armorial, constam da edição —"Excelência", "Repente", "Revoada", "Romance da Bela Infanta", "Romance de Minervina", "Toada e Dobrado de Cavalhada" e "Toré".

"Toada" é uma verdadeira apresentação do marimbau armorial como instrumento solista. Derivado do berimbau de lata, na versão tocada por Fernando Torres ele ganhou caixa de ressonância de madeira e uma corda extra.

Não é simples aceitar os severos limites autoimpostos pela estética armorial. Fruto do meio intelectual nordestino, especialmente do ambiente das universidades federais de Pernambuco e Campina Grande, na Paraíba, ela nasce "para unir as pontas extremas desse Brasil onde nada é completo sem o seu oposto", nas palavras de Braulio Tavares.

A tensão do posicionamento do movimento armorial entre música de concerto —eles preferem usar o termo "erudita", familiar no Brasil graças a Mário de Andrade— e popular é repleta de argumentos, nuances e desvios.

Não sendo manifestação espontânea da cultura popular, e por ser composta e grafada em partitura por músicos que frequentaram conservatórios e universidade —alguns integrantes do movimento foram alunos diretos de Suassuna em seus cursos de estética na UFPE—, essa música tem o formato típico do erudito.

Ela é separada, porém, dos experimentos das vanguardas contemporâneas —a tentativa de aproximação com o minimalismo americano parece bastante forçada— e também não se alinha com os nacionalismos musicais de Villa-Lobos e Guarnieri.

Ainda mais —uma componente ideológica no pensamento de Suassuna recusa, igualmente, qualquer vínculo com a música popular urbana. Mais próximos de José Ramos Tinhorão, que saudou o primeiro álbum do Quinteto, do que de Gilberto Gil, os armoriais buscaram um purismo capaz de se opor diametralmente mesmo a legados, como os de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Como a literatura de Suassuna, a música armorial tem fortes raízes ibéricas. Recria –ou inventa– um medievalismo nordestino, propõe uma matriz simbólica de sabor arcaico. Para esse projeto, a utilização de modos, ou escalas musicais, como lídio, mixolídio e dórico, e instrumentos como a viola caipira, o pífano e o marimbau cumprem função decisiva.

Musicalmente, as composições de Madureira buscam a simplicidade construída de uma autenticidade inventada, um medievalismo simultaneamente mítico e sertanejo. Em suas palavras, "o nacionalismo usava elementos da cultura tradicional para a linguagem erudita, e o armorial trazia elementos da linguagem erudita para a cultura popular".

São belas em si, independente das teorias que as precedem e sucedem. E, mais importante, agora estão à mão para que estudantes e professores de música as adicionem às suas práticas de grupo voltadas ao repertório brasileiro.

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