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Camões criou 'Os Lusíadas' após briga de espadas e luta que o deixou caolho

Coleção Folha traz obra-prima de um dos escritores fundamentais da história de Portugal

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Porto Alegre

Guerras, passagens pela prisão, dificuldades financeiras e o amor de muitas mulheres. A vida de Luís Vaz de Camões não foi calma como uma biblioteca ou as planícies verdes que tanto inspiram poetas mundo afora ao longo da história.

As aventuras foram tantas que, durante uma batalha, o escritor perdeu o olho direito. O ano era 1549, Camões tinha provavelmente 25 anos e viajara como soldado ao norte da África para lutar contra os mouros pelo domínio de Ceuta. Do combate, saiu caolho. Por isso, os retratos do rosto do português fazem com que o modesto poeta pareça com um pirata.

gravura de homem caolho
O escritor português Luís de Camões, em gravura de José Bandeira, de 1987 - Reprodução

Mas esta não foi a única peripécia envolvendo o escritor. Envolveu-se em uma briga de espadas e feriu um funcionário público. Foi preso, perdoado e sua liberdade veio graças a um perdão por "ordem régia" e ao pagamento de uma multa.

Em 1553, finalmente viajou à Índia, sobrevivendo a tempestades no Cabo da Boa Esperança, na frota liderada pelo filho de Pedro Álvares Cabral.

Nesta fase, possivelmente iniciou o projeto do clássico "Os Lusíadas", parcialmente escrito na China, em Macau, onde serviu ao reino de Portugal. O épico seria publicado somente em 1572. A publicação foi possível apenas porque Camões salvou seus manuscritos de um naufrágio que teria sofrido na volta à Índia. Conta-se que nadou com um braço e com o outro salvou os poemas.

Porém, se ele não perdeu os versos, teria perdido a amada. Uma chinesa por quem Camões estava apaixonado teria se afogado no acidente. Em seus versos, a chamou de Dinamene, uma ninfa aquática que aparece na "Ilíada", de Homero.

"Ah! minha Dinamene! Assim deixaste/ Quem não deixara nunca de querer-te!/ Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,/ Tão asinha esta vida desprezaste!", escreveu em um soneto que está no volume da Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira. O livro com os sonetos de Camões chega às bancas neste domingo, dia 6.

Camões foi um poeta conhecido tanto por sua obra épica, com "Os Lusíadas", que narra poeticamente os feitos de Portugal, como por seu trabalho lírico com redondilhas e sonetos. Não raramente, o contato escolar com Camões ocorre por meio das passagens de "Os Lusíadas" como o episódio do Gigante Adamastor, por exemplo. Assim, a lírica acaba ficando em segundo plano, ocultando uma valiosa produção.

"Amor é fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer", escreveu Camões em um soneto universalmente compreendido.

Se o sentido deste poema é facilmente entendido é também porque Camões se servia de uma estrutura muito rígida do soneto para exprimir suas ideias. O soneto é uma forma de dois quartetos e dois tercetos, resultando em catorze versos. Em seus poemas, Camões faz referências ao poeta italiano Francesco Petrarca, do século 14, considerado um mestre do soneto.

Para leitores que desejam cotejar as obras de Camões e Petrarca, no Brasil foi publicado deste último o "Cancioneiro", pela Unicamp em 2014, com tradução de José Clemente Pozenato, e, mais recentemente, "Na Terra e no Céu", pela Companhia das Letras há poucos meses, com tradução de Sérgio de Queiroz Duarte.

Nos "Sonetos" de Camões há versos que falam de situações comuns, como as inevitáveis mudanças que um sujeito enfrentará ao longo da vida.

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,/ Muda-se o ser, muda-se a confiança;/ Todo o mundo é composto de mudança,/ Tomando sempre novas qualidades", escreveu.

"Camões nunca deixa de se espantar com o desarranjo do mundo e abre o caminho para os barrocos, inserido no Renascimento português mas já com os dois pés no maneirismo do desencanto. É dessa fricção contra a corrente do tempo que se produz a eletricidade que põe em movimento a máquina poética de um de nossos escritores fundamentais", afirma a escritora Noemi Jaffe no texto da contracapa do volume da Coleção Folha.

E acrescenta: "Camões segue mais vivo do que nunca".


COMO COMPRAR

Site da coleção: https://colecoes.folha.com.br/

Telefone: (11) 3224-3090 (Grande São Paulo) e 0800 775 8080 (outras localidades)

Frete grátis: SP, RJ, MG e PR (na compra da coleção completa)

Nas bancas: R$ 25,90 o volume

Coleção completa: R$ 638,44 (para assinantes Folha)
Demais leitores: R$ 751,10
Lote avulso: R$ 150,22

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