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Acervo de baterista dos Rolling Stones vai a leilão com raridades da literatura

Coleção de 500 peças inclui duas edições autografadas de 'O Grande Gatsby' avaliadas em R$ 1,4 milhão cada

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Dean Goodman
Los Angeles

Algumas pessoas colecionam selos, sapatos ou mulheres. O baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, o astro do rock mais requintado da história, acumulou carros antigos que nunca aprendeu a dirigir e cavalos árabes que nunca montou.

Ele também comprou objetos da Guerra Civil Americana, livros raros, artefatos de jazz e de críquete, mas teve apenas uma mulher.

Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, em São Paulo, em 1995
Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, em São Paulo, em 1995 - Marcelo Soubhia/Folhapress

Agora que ambos morreram —Charlie em agosto de 2021, e Shirley cerca de um ano e meio depois—, os responsáveis por seu patrimônio contrataram a casa de leilões Christie's para vender sua vasta coleção de livros cuidadosamente preservados, com obras de Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, H.G. Wells e F. Scott Fitzgerald.

Os romances serão acompanhados por alguns itens de sua coleção de jazz. Ao todo, serão mais de 500 lotes à venda num leilão dividido em duas partes. O principal acontece em Londres, em 29 de setembro, e uma venda online será realizada entre 15 e 29 do mesmo mês —o cadastro para fazer lances abre em breve.

Mais de 20 objetos estão numa breve turnê, o que é mais do que pode ser dito sobre os companheiros de banda de Watts. Uma aguardada turnê dos Stones para este ano não se concretizou.

A primeira parada foi em Los Angeles, onde a Folha conversou com Mark Wiltshire, especialista em livros e manuscritos da Christie's. A próxima parada é Nova York, entre 5 a 8 de setembro, e depois Londres, entre os dias 20 a 27 do mesmo mês.

Os destaques são duas cópias autografadas da primeira edição de "O Grande Gatsby", de Fitzgerald, obra-prima de 1925 que mergulha nos círculos sociais hedonistas da era do jazz. Cada uma é avaliada em mais de US$ 300 mil, ou R$ 1,4 milhão.

Os preços elevados levantam uma questão —itens preciosos de um astro do rock são mais valiosos do que os mesmos de um colecionador desconhecido?

"Damos valor aos objetos. Não pensamos muito na proveniência", diz Wiltshire. "Mas existe tanto amor por Charlie que certamente haverá uma competição acirrada. No final, acredito que a proveniência será um fator importante no preço."

Watts era uma excentricidade do rock 'n' roll que sempre parecia um pouco envergonhado por tocar música alta em estádios quando, na verdade, deveria estar improvisando com uma banda de jazz num clube enfumaçado, como seu herói Charlie Parker.

Mas o trabalho pagava bem, e Watts era presença constante em leilões e vendas de imóveis, invariavelmente vestido com os melhores ternos. Ele também mantinha uma ampla rede de livreiros que lhe traziam as melhores edições.

Mick Jagger, também um homem rico e de bom gosto, como canta em "Sympathy for the Devil", certa vez lembrou que costumava trocar "presentes muito bons" com Watts. Wiltshire, responsável pelas vendas, afirma que o leilão terá "pelo menos alguns itens" que Jagger deu a Watts. Isso inclui um livro ilustrado do século 19 sobre Londres com uma dedicatória de Jagger.

Outros lotes em disputa serão uma primeira edição de "Os Treze Problemas", de Agatha Christie, com sua rara sobrecapa, e muitas cópias autografadas, como "O Cão dos Baskerville" e "Um Estudo em Vermelho", do criador de Sherlock Holmes, além de "A Guerra dos Mundos", de Wells, e "Ulysses", de Joyce.

Não está claro como Watts queria que seus livros e outros bens fossem administrados, mas Wiltshire vê a venda como uma "grande celebração" de sua vida e paixões.

"A coleção é um reflexo de seus melhores atributos como músico. Mostra seu olhar atento para a qualidade e sua atitude de nunca perder o ritmo. Ele era certeiro com cada livro que adquiria, assim como era na bateria."

Se há um tema na coleção de Watts é seu apego romântico à primeira metade do século 20 —os livros, a música, a moda e a elegância culminando na ascensão de seu herói, o pioneiro do bebop Charlie Parker.

São as lembranças de Parker —algumas leiloadas por sua esposa em 1994— que dominam os lotes de jazz. São prêmios, contratos e até um cartão de membro do sindicato. Os preços são menores, caso seu orçamento esteja na casa dos quatro ou cinco dígitos.

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