Quem foi Emilinha Borba, rainha do rádio que completaria cem anos

Estrela da Rádio Nacional nos anos 1940 e 1950, cantora marcou época com disputas com Marlene e marchinhas de Carnaval

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Há cem anos, nasceu uma das cantoras que embalaram o Brasil pré-bossa-nova. Morta há 18 anos, aos 82, Emilinha Borba, uma das grandes intérpretes da música brasileira da era do rádio, entre os anos 1940 e 1950, completaria um século de vida nesta quinta-feira (31).

Classificada como uma das mais populares cantoras da história da música brasileira no obituário publicado por esta Folha, ela foi uma das rainhas do rádio —título que ganhou diversas vezes em votação popular. Mais do que isso, Emilinha é tratada como uma das grandes personalidades do país no século passado.

Emilinha Borba em programa de rádio em 1956
Emilinha Borba em programa de rádio em 1956 - Divulgação

Numa época em que a indústria fonográfica ainda engatinhava no Brasil, ela foi voz de marchinhas que embalaram carnavais, e uma estrela da Rádio Nacional. Atuou em dezenas de filmes musicais e estampou mais de 300 capas de revista.

Nascida na Mangueira, no Rio de Janeiro, Emilinha era apaixonada por música desde a infância, e começou a carreira nos anos 1930, participando de programas de auditório. Em 1937, aos 13 anos, participou do "Programa de Calouros", de Ary Barroso —de quem recebeu nota máxima pela interpretação do samba "O X do Problema", de Noel Rosa.

Dois anos depois, foi apadrinhada por Carmen Miranda, já uma estrela conhecida nacionalmente e também nos Estados Unidos. Ainda conhecida como Emília Borba, ela foi indicada por Miranda, que inclusive emprestou vestido e sapatos plataforma para a menor fazer o teste, para compor a equipe de crooners na orquestra do renomado Cassino da Urca.

Foi naquele mesmo ano que ela deu início à sua trajetória fonográfica, cantando a marchinha "Pirulito", sucesso no Carnaval, da dupla Braguinha/Alberto Ribeiro. Mas seu nome não foi incluído nos créditos do disco, que cita apenas o cantor Nilton Paz.

Nos anos 1940, ela ficou conhecida com o nome Emilinha Borba. Firmou e desfez contratos com diversas emissoras de rádio e gravadoras, época em que ajudou a popularizar diversos ritmos em sua voz —do samba ao bolero, da rumba ao baião, além das marchinhas.

Em 1942, participou das filmagens de "É Tudo Verdade", o lendário filme inacabado rodado por Orson Welles no Brasil. Em 1947, depois de sair e voltar, deu início à sua fase mais celebrada cantando na Rádio Nacional, emplacando de cara sucessos como a marcha "Escandalosa" e o bolero "Se Queres Saber".

Com uma voz doce e profunda, Emilinha passeou por gêneros e ficou conhecido sobretudo pelas músicas que embalaram os carnavais. Ela deu voz a "Chiquita Bacana", "Marcha do Remador", "Mulata Yê Yê Yê" e "Tomara Que Chova", só para citar alguns desses sucessos.

Em 1949, ela deu início a uma rivalidade marcante com outra grande cantora do período, Marlene. As duas disputavam os concursos que davam o título de "rainha do rádio", importantíssimo na época, que incendiou auditórios, revistas e fã-clubes.

0Marlene e Emilinha Borba na capa da Revista da Rádio Nacional, 09/1950
Marlene e Emilinha Borba na capa da Revista da Rádio Nacional, em setembro de 1950 - Acervo MIS-RJ/Coleção Luiz Carlos Saroldi/Divulgação

Naquele ano, quem saiu vencedora foi Marlene, mas Emilinha acabou conquistando o título diversas vezes nos anos seguintes. A rivalidade, abraçada pelo público e pela imprensa, era provocada pelas duas, mas também um tanto fabricada, espécie de jogada de marketing, já que elas mantinham uma relação de amizade e chegaram a gravar e fazer shows juntas.

Com o declínio do rádio e a ascensão da televisão no fim da década de 1950, Emilinha estrelou vários programas da TV, entre eles "Emilinha Canta", "Minha Querida Emilinha" e "Emilinha". Chegou a substituir Chacrinha algumas vezes.

Devido ao sucesso no Carnaval, mas principalmente ao alcance da Rádio Nacional, a popularidade de Emilinha chegou a ser tão grande que ex-presidente Getúlio Vargas teria dito que sentia inveja dela. É o que disse o historiador, jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin à Agência Brasil.

"Emilinha disse ao presidente que percorreu o país de ponta a ponta pelo menos umas quatro vezes e era recebida como feriado nacional, o comércio fechava. O presidente teria dito a ela "que inveja minha filha, eu tenho de você."

Em 1968, Emilinha foi operada de um edema nas cordas vocais. Ela chegou a recuperar a saúde, mas nunca mais teve o mesmo sucesso. Àquela altura, a bossa nova já era conhecida internacionalmente, jogando para escanteio as vozes empostadas da era do rádio, e a tropicália estava em ebulição com suas guitarras elétricas.

Nos últimos anos de vida, diz o obituário da Folha, Emilinha costumava vender em praças cópias do disco "Emilinha Pinta e Borda", gravado em 2003. Também fazia alguns shows no Carnaval carioca.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.