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LGBTQIA+

'Última Rodada' vai além do true crime com serial killer de gays em NY

Série documental discute homofobia em torno de assassino que atacava durante o auge da epidemia de Aids nos Estados Unidos

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São Paulo

A Última Rodada: Um Assassino Serial na NY Queer

  • Onde Disponível na HBO Max
  • Classificação 16 anos
  • Produção Estados Unidos, 2023
  • Direção Anthony Caronna

O chamado true crime tornou-se rapidamente um dos gêneros mais populares das plataformas de streaming. São produções relativamente baratas, em forma de filme ou minissérie documental, que revisitam crimes do passado —alguns deles, sem solução até hoje.

O "true crime" não tem grandes ambições artísticas. De modo geral, são reportagens aprofundadas, que trazem depoimentos de vítimas, testemunhas, parentes e especialistas, e desencavam novas evidências surgidas ao longo dos anos. Mas não é obrigatório chegar a uma conclusão.

A Última Rodada: Um Assassino Serial na NY Queer
Arte de divulgação de 'A Última Rodada: Um Assassino Serial na NY Queer', de Anthony Caronna - Divulgação

O gênero fez sucesso no Brasil, país onde não faltam crimes escabrosos, e aparece em séries sobre os casos de Daniella Perez, Suzane von Richthofen, Isabella Nardoni, Flordelis e alguns outros.

Em meio a tanta oferta, há uma minissérie que estreou sem fanfarra na HBO Max: "A Última Rodada: Um Assassino Serial na NY Queer". O título original, "Last Call", se refere ao momento da alta madrugada em que o barman avisa que, por causa de leis vigentes em vários estados americanos, os clientes só têm mais uma chance de pedir drinques. Por atacar suas vítimas no final da noite, o serial killer em questão foi apelidado na imprensa de "assassino do ‘last call’".

Dirigida por Anthony Caronna, que também co-escreveu os roteiros baseados no livro de Elon Green, a série tem quatro episódios com cerca de uma hora de duração, cada um deles batizado com o nome de uma vítima do criminoso em questão.

Todos foram mortos no começo dos anos 1990. Dois eram homens de meia-idade, gays não assumidos, sendo que um deles era casado com uma mulher e tinha uma filha, e aproveitava suas idas a Nova York para dar umas escapadas. O terceiro era um garoto de programa de origem latina. O quarto, um frequentador assíduo de um bar no Greenwich Village, reduto boêmio da cidade.

A série faz o dever de casa. Retraça os últimos passos desses infelizes, conversa com parentes e amigos, dá voz aos detetives que cuidaram dos casos. Os quatro homens foram encontrados esquartejados, com partes de seus corpos escondidas em sacos de lixo espalhados por Nova York e Nova Jersey. A comunidade gay, já abalada pelo auge da crise da Aids, se mobilizou, imprimiu folhetos e fez campanha alertando sobre o perigo à espreita.

Só que a polícia não fez o mesmo esforço. Apesar das pistas abundantes e de um certo padrão no modus operandi do assassino, as investigações não foram longe. O chefe da polícia de Nova York na época era um notório homofóbico, e seus chefiados ainda tratavam gays, trans e travestis com brutalidade. Ataques violentos a homossexuais eram comuns nas ruas do Village, e quase ninguém ia preso por eles.

Aos poucos, começa a ficar claro que a identidade do assassino não importa tanto. Ele sem dúvida é culpado por seus atos e deve pagar por eles, mas há um culpado ainda maior, que permitiu que tantos crimes fossem cometidos e ficassem impunes: a homofobia.

O criminoso finalmente é identificado e preso no quarto episódio. Suas impressões digitais estavam nos sacos de lixo. As ferramentas com que ele desmembrava os cadáveres foram encontradas em sua casa. O mais chocante de tudo é que ele já havia sido preso duas vezes antes, e julgado, por ter matado outros dois homossexuais.

Ele foi absolvido em ambos os casos, pois a defesa alegou o infame "pânico gay". Ao ser abordado por um homem gay, o acusado entrou em pânico e defendeu sua masculinidade matando o "agressor".

O desfecho da terceira prisão não é feliz para o assassino. Os tempos já estavam mudando e, condenado em 2005, ele está preso até hoje, cumprindo duas penas consecutivas de prisão perpétua.

Mas a conclusão de "Última Rodada" não é otimista. A produção lembra que crimes contra a comunidade LGBTQIA+ continuam a crescer no mundo inteiro, principalmente contra mulheres trans negras, porque muitos homofóbicos seguem acreditando que um gay ou trans assassinado teve apenas o que merecia.

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