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Eça de Queiroz mostra com ironia que já não dava para ser nobre no século 19

'A Ilustre Casa de Ramires' é o próximo livro da Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira

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Porto Alegre

A face transborda pimponice, o fidalgo é galante e os olhos são pestanudos. Eis a linguagem abundante em "A Ilustre Casa de Ramires", última obra publicada em vida pelo português Eça de Queiroz.

ilustração
Ilustração do escritor português Eça de Queiroz - Reprodução

Ao mesmo tempo que conta a história do herdeiro Gonçalo Ramires com suas ambições políticas e artísticas, o romance é metalinguístico, já que narra a escrita de um livro pelo protagonista. Há, portanto, uma ficção dentro da ficção.

Gonçalo carrega um sobrenome de peso em uma sociedade portuguesa que se modernizava, mas que ainda valorizava a heráldica. Solteiro, vive em uma extensa propriedade no interior de Portugal, com criadagem e uma construção com direito a torre medieval e sala de armas. São sinais de um passado nobre, mas a necessidade de arrendar a terra para um terceiro é indício da decadência da família.

O convite para que participe de uma antologia de literatura nacional é a oportunidade que Gonçalo tem de reafirmar a importância da "casa de Ramires". Afinal, ele opta por escrever um romance histórico sobre seus antepassados.

O processo de escrita, porém, será cheio de percalços e muita vaidade. O leitor pode acompanhar as tentativas, erros e acertos no volume que chega às bancas no domingo pela Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira.

"Falar em Eça de Queiroz é dizer Portugal, especialmente aquele Portugal oitocentista, pequeno-burguês, constitucional e conservador. Muito se tem falado na importância da literatura como a melhor forma de conhecimento de determinado universo histórico-cultural. Assim o é; no caso de Eça, porém, não conhecemos apenas aquele Portugal, mas também uma projeção do que deveria ser Portugal", escreve Luiz Antonio de Assis Brasil na obra "Guia de Leitura: 100 Autores que Você Precisa Ler", organizada por Léa Masina.

Sobre o romance, Assis Brasil, escritor e professor de escrita criativa na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, afirma que trata da "impossibilidade de nobreza pessoal e familiar nos dias cínicos da contemporaneidade".

Um detalhe saboroso sobre a empreitada literária de Gonçalo é que, antes do convite para a antologia, ele já havia decidido escrever um romance histórico em dois volumes. Chegou a oferecer um jantar a amigos para comemorar sua realização que, na verdade, nem sequer havia começado a escrever. Mas já se afirmava como escritor.

Por isso, quando aparece a chance de publicar uma obra em uma coletânea, com a necessidade de ser um texto mais enxuto de 30 páginas, Gonçalo sente-se aliviado e finalmente motivado.

Ainda assim, o protagonista não tem criatividade ou talento suficientes e recorre a um poema épico escrito por um antepassado da família —reescreve a mesma história em forma de prosa, se pergunta se estaria cometendo plágio e conclui que ninguém descobriria.

Gonçalo chega a se afastar por semanas de seu compromisso. O narrador é muito hábil em criar situações, mesquinhas ou relevantes, que tiram o fidalgo da sua concentração.

No tempo interno da obra, muitos dias decorrem. Mas, na escrita, algumas linhas. Assim, o narrador vai revelando a procrastinação de Gonçalo, que só produz sob a pressão de seu editor.

Para o leitor contemporâneo, familiarizado com histórias de "aminimigos" —os "frenemies", do inglês—, "A Ilustre Casa de Ramires" não soa incomum. Gonçalo alimenta rancores contra um amigo de infância, André Cavaleiro. Seus métodos variam de cartas anônimas até espalhar boatos, tudo isso até que possa ser beneficiado pelo ex-amigo.

Como afirma Adriano Schwartz, professor de literatura da Universidade de São Paulo, na contracapa do volume da Coleção Folha, "o leitor descobre as contradições do protagonista, seu caráter questionável e generoso, de convicções frágeis, de gestos heroicos e covardes, e que ao final se revela como uma representação cheia de ironia de muito mais que sua individualidade tosca".


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Site da coleção: colecoes.folha.com.br

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