Quem é Eduardo de Almeida, arquiteto por trás de obras como a Biblioteca Brasiliana

Discreto, autor de mais de 250 projetos completa 90 anos e ganha livro que revisita sua trajetória

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Caio Sens
São Paulo

Há uma tendência latente de, em uma primeira leitura, associar o sucesso à qualidade. Naturalmente, isso não é regra. Há quem, com sua importante contribuição, esteja fora dos holofotes por um traço de personalidade. Na arquitetura, Eduardo de Almeida é um exemplo claro desse grupo.

Não que Almeida seja um nome exatamente desconhecido. O arquiteto é assunto recorrente nos corredores de universidades e em conversas entre colegas de profissão, recebeu premiações e venceu concursos. Do lado de fora das paredes da academia, entretanto, é um nome que raramente desperta reconhecimento imediato.

O arquiteto Eduardo de Almeida
O arquiteto Eduardo de Almeida - Lalo de Almeida/Divulgação

Na tentativa de ampliar e reverberar este nome, o livro "Eduardo de Almeida: Arquiteto" investiga a extensa atuação do arquiteto, seja na prancheta de desenho, seja na sala de aula —e no meio do caminho entre essas duas frentes, que por vezes se misturam no seu trabalho.

Almeida é um dos responsáveis pelo projeto da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin –realizado em coautoria com Rodrigo Mindlin Loeb, neto do bibliófilo–, na cidade universitária, além de outras pérolas mais antigas pela cidade de São Paulo, como o edifício modular Gemini.

A biblioteca brasiliana abriga tanto o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) quanto a coleção de livros raros que pertencia a Mindlin e a sua esposa Guita –e foi doada à universidade em 2006.

O edifício por si só é uma aula de projeto arquitetônico. Alia duas características aparentemente opostas. De um lado, o aspecto público da universidade está presente nos amplos espaços abertos e iluminados do projeto. De outro, o cuidado necessário à preservação de livros antigos reflete no controle da incidência de luz solar das chapas metálicas da fachada e nas restrições de acesso.

O Edifício Gemini, por sua vez, revela o processo de pesquisa e a inspiração de Almeida em referências múltiplas. A utilização de tijolos aparentes destaca a matéria como elemento de linguagem, aproximando o brasileiro da produção de outros arquitetos, de alcance internacional.

"Vale frisar que eu fui muito influenciado, particularmente, por Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe no começo da minha carreira", lembra Almeida em entrevista transcrita no livro.

Almeida não se limita a padrões muito rígidos e se mostra adepto dos contrastes simbólicos. Nunca se apegou ao concreto aparente da escola paulista –como muitos de seus contemporâneos–, mas também não rejeitou o estilo que eventualmente abraçou.

"Há casas do Eduardo que são feitas de tijolinhos, há outras que são de concreto, outras de ferro pintado. Ele tem muito mais uma poética do que um estilo, e essa poética precisa de uma observação mais detida, mais sutil", diz o crítico de arte Alberto Tassinari no livro.

Mesmo que seja possível destacar esses projetos mais conhecidos, fato é que os edifícios projetados pelo arquiteto de maneira geral não se apresentam como marcos visuais na cidade. São mais discretos e bem-sucedidos na sua intenção de se misturar à cidade de forma orgânica, indo na contramão da disputa constante por atenção nas cidades.

Almeida, que neste ano completa 90 anos, se graduou pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1960 e foi professor durante mais de 30 anos na mesma instituição. Formou gerações de arquitetos e deixou um legado também dentro do ensino. Em seus escritórios produziu mais de 250 projetos, dos quais cerca de 40 estão presentes no livro.

Como um bom professor, Almeida se preocupa com o processo de descoberta e experiência acumulada tanto quanto –ou ainda mais que– com o resultado. "Questões investigadas num determinado projeto reaparecem no projeto seguinte. construímos esse fio como se um projeto fosse levando a outro até chegar a uma obra como a biblioteca", comenta o arquiteto Cesar Shundi Iwamizu, um dos autores do livro e ex-aluno de Almeida.

Pensando nisso, o projeto da biblioteca brasiliana entre os últimos –e mais recentes– trabalhos no livro não poderia ser mais simbólico. Para celebrar um arquiteto-professor tão discreto, nada mais adequado que o silêncio didático e cerimonial das bibliotecas.

Eduardo de Almeida: Arquiteto ). Das 17h30 às 20h.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.