Mostra no MAM da Bahia exibe a faceta abstrata de Mario Cravo Jr.

Artista, que completaria 100 anos em 2023, ganha a maior exposição em dez anos, com suas esculturas e pinturas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador

Durante as quatro últimas décadas, quem fosse ao correio central da Pituba, a maior agência dos Correios de Salvador, poderia admirar o jardim com as esculturas de ferro dos orixás Oxalufã, Exu e Iemanjá. Elas foram feitas pelo artista plástico baiano Mário Cravo Jr., o último expoente da geração de artistas modernistas, e davam ao local um ar de encantamento.

Como a agência fechou no fim de 2018 —ano em que o artista morreu, aos 95 anos—, as esculturas ficaram guardadas, mas duas delas já podem ser vistas pelo público no Museu de Arte Moderna da Bahia desde o dia 26 de setembro, quando foram incluídas na exposição "Legado: Mario Cravo Jr. – 100 anos", em homenagem ao centenário de seu escultor. A terceira, de Iemanjá, só irá para o acervo do MAM após ser restaurada.

Obras do artista plástico baiano Mario Cravo Jr, da exposição "Legado: Mario Cravo Jr. 100 anos", no MAM da Bahia
Obras do artista plástico baiano Mario Cravo Jr, da exposição "Legado: Mario Cravo Jr. 100 anos", no MAM da Bahia - Geraldo de Moniz Aragão/Divulgação

Em exibição, dezenas de quadros pintados sobre madeira e tela nas décadas de 1980 e 1990, uma fase da carreira de Mario Cravo que o público conhece pouco. "É uma faceta exclusiva, que tem muito a ver com a criação livre. São obras abstratas, em sua maioria. Tem uma cor muito típica do modernismo baiano", diz Daniel Rangel, que organiza a mostra.

Neste mês, o segundo andar do Solar do Unhão, casarão que abriga o MAM, também está aberto, e trouxe mais obras de Mario Cravo, incluindo painéis com orixás que também estavam nos Correios.

Esta é a maior exposição com obras do artista em Salvador desde as realizadas em 2013 no Palacete das Artes, em comemoração aos seus 90 anos, e em 2014, na galeria Paulo Darzé.

Nos anos 1990, quando ganhou o Espaço Cravo, no parque de Pituaçu, o escultor doou cerca de 600 obras para o estado da Bahia, que só agora estão passando para a salvaguarda do MAM.

Com a incorporação, Mario Cravo passará a ser o artista com o maior número de obras no acervo do museu, que ele chegou a dirigir após a saída de Lina Bo Bardi. "Ele foi o primeiro artista local com quem Lina dialogou no meio das artes visuais", afirma Rangel.

escultura de pedra com quadros ao fundo em ala do museu de arte moderna da bahia
Obras de Mário Cravo Jr. no MAM da Bahia - Geraldo de Moniz Aragão/Divulgação

Em trecho do documentário "Bahia de Todos os Santos", de Maurice Capovilla, de 1974, o artista explica o impacto do candomblé em sua obra. "Me interessava o candomblé não como uma religião. Não sou um crente, nunca fui, de religião nenhuma. O que me interessava era essa espontaneidade, essa força, o ritmo, a cor, o movimento, as danças."

Segundo o curador, a exposição traz um Mario Cravo "mais do avesso, mais do ateliê". "É uma exposição que mostra muito o processo dele, com vários estudos e um grande quadro, parecendo que são séries que ele foi fazendo."

No ano do centenário de seu nascimento, Mario Cravo segue sendo mais conhecido justamente por suas obras expostas a céu aberto em Salvador, como a sereia de Itapuã, a Cruz Caída, as esculturas no parque de Pituaçu, o memorial a Clériston Andrade e o monumento a Ruy Barbosa.

A mais visível e conhecida delas é o monumento à Cidade do Salvador. No curta-metragem "A Fonte", de André Luiz Oliveira, é possível ver o processo de criação do monumento, uma fonte luminosa inaugurada em janeiro de 1970 com 12 metros de altura no lugar onde funcionava o antigo Mercado Modelo, consumido pelo fogo.

Construído com fibra de vidro, o monumento foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia em 2002. Mas em 2019, um ano após a morte de Mário Cravo, ele também foi consumido por um incêndio. A obra foi reinaugurada em janeiro deste ano, reconstruída segundo os traços do projeto original.

"A madeira, a pedra, o ferro, na forja dos infernos, nas mãos do verdadeiro Exu da Bahia, são a flor, a água, a poesia, a vida mais vivida e mais profunda", escreveu Jorge Amado, em 1961, sobre o amigo Mario Cravo Jr.

Mario Cravo Jr.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.