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'O Assassino', de Fincher, defende o homem como empresa de si mesmo

Filme com Michael Fassbender e Sophie Charlotte é esquecível e tem opiniões bastante duvidosas do mundo corporativo

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O Assassino

Michael Fassbender se exercita dia e noite. Prepara-se com cuidado: é um assassino realmente profissional. Pensa em tudo: nunca se apavora, nunca sai do plano traçado, não improvisa. Trabalha com batimentos cardíacos baixos. Tudo em ordem.

Mas o acaso pode intervir nessa preparação cuidadosa. Aliás, é o que ocorre. Entre ele e seu alvo alguém se interpõe e leva o tiro. Pronto: a missão está arruinada.

O Assassino
Michael Fassbender em cena do filme 'O Assassino', de David Fincher - Divulgação

Neste caso, porém, a ruína não termina por aí. Vamos não esquecer, o assassino trabalha por dinheiro. Dinheiro grosso. Seu objetivo na vida é permanecer na minoria. Essa minoria que domina a maioria. O assassino é um empreendedor metódico, mas nem isso o exime do acaso.

Diante da catástrofe, precisa voltar e fechar os pontos. A primeira medida é ir ao escritório do advogado que o contrata. Aqui saberemos que um erro desse tipo não tem volta. Alguém precisa pagar por isso: ele.

A partir daí, começa sua fuga, também uma perseguição. Precisa eliminar aqueles que o contrataram, aqueles que contrataram os que o contrataram, aqueles que contratarão outros assassinos para eliminá-lo. Um monte de gente, em suma. Estamos na base do matar ou morrer.

O nosso assassino é homem meticuloso. A frieza e o planejamento são boa parte de seu sucesso. Ele mata para sobreviver e, portanto, não pode parar até que o último obstáculo seja removido. E, quanto mais gente elimina, mais perigos descobre em seu caminho. E mais se tornam perigosos.

Quando chega em uma assassina conhecida como Especialista ou algo assim —na pessoa de Tilda Swinton—, o confronto tem algo de pérfido, mas também acrescenta algo interessante: ela tem os mesmos princípios que ele. Podem conversar de igual para igual. Algo parece se transformar.

Toda a batalha do assassino é para manter a própria pele, que é a base de sua pequena empresa, de cujo sucesso depende para se manter na minoria, no grupo dos privilegiados. Existe algo de meritocracia nele: somos aquilo que merecemos. Aqui a história começa e aqui termina.

O que David Fincher propõe, mais que a história de um assassino profissional, é a defesa e ilustração de um pensamento bastante popular na atualidade —cada homem é sua própria empresa e, por isso, deve ser um empreendedor atento e agressivo, nunca perder oportunidades.

Podemos ser contra ou a favor essa ordem de ideias, não importa: elas hoje fazem parte do conjunto de crenças de uma parte considerável da população. Portanto, pode-se esperar que nessa parte "O Assassino" encontre seu público.

Ele não terá motivo para se decepcionar grandemente. Fincher produz um espetáculo que pode ser visto com facilidade e esquecido com rapidez. E, ainda que suas ideias sejam um tanto sumárias, lá está Fassbender, que sempre enriquece o espetáculo.

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