Entenda a proibição de levar garrafa de água para estádios e shows como o de Taylor Swift

Fã morreu devido ao calor em apresentação da cantora americana em estádio no Rio de Janeiro, na última sexta-feira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

As altas temperaturas no Rio de Janeiro levaram à morte uma fã da cantora Taylor Swift durante show no estádio Engenhão, nesta sexta. Ana Clara Benevides, de 23 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu após passar mal com a sensação térmica de 60ºC no local. Ela estava na grade em frente ao palco e desmaiou no início da apresentação, que reuniu 60 mil pessoas.

Mulher negra jovem aguarda para entrar no show da cantora Taylor Swift
Ana Clara Benevides no show da cantora Taylor Swift na sexta-feira - Arquivo Pessoal/Daniele Menin

A proibição de entrar com garrafas de água no estádio foi alvo de críticas dos fãs, que chegaram a implorar à produção que distribuísse a bebida para o público para aliviar o calor, e de políticos. Além de Ana Clara Benevides, o Corpo de Bombeiros registrou mais de mil desmaios durante o evento.

A prática de proibir a entrada de água é comum em shows no Brasil e em outros países, devido a questões de segurança ao artista e ao público geral. Diversos outros itens também não são permitidos.

O Código de Defesa do Consumidor define que o público pode levar água, desde que estejam de acordo com as restrições de segurança em relação ao tipo de embalagem, e exige que empresas organizadoras de shows garantam a saúde e segurança dos consumidores, especialmente em período de calor intenso.

Essa proibição de itens está relacionada a uma questão de saúde e de segurança pública, afirma Mara Natacci, advogada especializada em entretenimento, que já atuou em festivais como Rock in Rio e Lollapalooza.

Segundo a advogada, a garrafa de água é considerada perigosa porque pode ser arremessada em alguém. "Tudo o que é arremessável ou possa machucar, seja por motivo de briga, seja por qualquer tipo de perigo, é proibido pela Secretaria de Segurança Pública", diz.

Fãs da cantora americana Taylor Swift aguardam para entrar no estádio do Engenhão
Fãs da cantora americana Taylor Swift aguardam para entrar no estádio Engenhão - Eduardo Anizelli/Folhapress

A lista de restrições passa ainda por embalagens rígidas com tampa, utensílios de armazenagem, cadeiras ou bancos, capacetes, armas de fogo e armas brancas, objetos pontiagudos, objetos de vidro e bastão para tirar foto, entre outros. O site da turnê da cantora trazia ainda outras proibições, como alimentos e recipientes de aerossol, incluindo protetor solar.

Como um copo plástico de água lacrado não machuca, ele é liberado. Além disso, a proibição de garrafas evita com que o público entre com drogas no local. "O que já aconteceu no passado preconizou tudo isso", diz ela, lembrando o caso de Carlinhos Brown, que sofreu uma "garrafada" durante uma apresentação no Rock in Rio em 2001.

Para contornar a situação, festivais como o Lollapalooza permitem entrar com água, mas apenas em copo plástico lacrado e em quantidade limitada. Já o Rock in Rio e o The Town permitem garrafas plásticas com água, mas sem tampas.

O Lollapalooza ainda passou a disponibilizar bebedouros com água gratuita e distribuição de recipientes apropriados, mesma medida tomada pelo Primavera Sound. O Rock in Rio dispõe de estações de água e distribui a bebida na fila em dias de calor, antes da abertura dos portões, bem como para os fãs na grade dos palcos. Apresentações em casas de show, porém, não costumam contar com bebedouros ou distribuição de água gratuita.

"Infelizmente, não temos leis específicas para esses eventos. O que o poder público faz é regular conforme os acidentes que acontecem, aí surge uma norma nova, assim como uma que está sendo editada hoje", diz Natacci.

A norma a que se refere foi publicada neste sábado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. O documento determina que será permitida a entrada de garrafas de uso pessoal com água para consumo durante eventos do tipo e exige ainda que a produção dos shows deve disponibilizar bebedouros ou distribuir copos de água sem qualquer custo adicional e com fácil acesso.

Além disso, bombeiros são obrigados, por lei, a distribuir água na barricada de shows em dias de calor. No segundo dia de shows de Taylor Swift no Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros jogava jatos de água no público que aguardava na fila, para amenizar o calor.

No Engenhão, o copo d'água era vendido por R$ 8 na sexta-feira. De acordo com pessoas no local, a organização da distribuição da bebida foi mal articulada.

Diante da morte de Ana Clara Benevides, a T4F, produtora responsável por trazer a turnê ao país, permitiu a entrada nos shows seguintes com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, e passou a fornecer água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas ao estádio e no seu interior.

"Esclarecemos que a exigência dos itens serem lacrados segue recomendações de segurança. Também ressaltamos que a proibição de entrada de garrafas de água em estádios é uma exigência feita por órgãos públicos e que não realizamos a comercialização de bebidas e alimentos, sendo essa uma atribuição da administração do estádio", diz a produtora, em comunicado à imprensa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.