Descrição de chapéu indígenas

Indígenas Duhigó e Dhiani Pa'saro expõem pinturas e marchetarias em galeria

Artistas das etnias wanano e tucano, do Alto Rio Negro, fazem obras para resguardar as memória de seus povos

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São Paulo

Um grande painel em marchetaria com 40 tipos de madeira mostra a rede da preguiça utilizada pelo povo indígena wanano. A representação do tecido é uma padronagem geométrica intrincada, com repetições de curvas nas bordas e de retas no centro, e a gradação de cores se dá pelas diferenças de tonalidade dos materiais utilizados.

Esta é uma das principais obras de Dhiani Pa’saro, indígena do Alto Rio Negro que trabalha com marchetaria e pintura, técnicas que aprendeu no Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em Manaus.

Dhiani Pa’saro, 'Wunu Phunô', 2019, marchetaria
Dhiani Pa'saro, 'Wunu Phunô', 2019, marchetaria representando a rede da preguiça - Dhiani Pa’saro/Aura Galeria

Agora, uma seleção de seus trabalhos de pequenas dimensões em marchetaria pode ser vista até sábado dia 2 de dezembro, na galeria Aura, em São Paulo, numa mostra conjunta com pinturas da indígena tucano Duhigó.

Morador de uma aldeia na floresta a uma hora de barco de Manaus, Pa’saro aprendeu a marchetaria a partir da técnica de fazer cestos, tradicional no povo wanano no qual foi criado. "Com a marchetaria, eu trago os trançados feitos pelos meus antepassados", afirma o artista de 48 anos.

Embora seu trabalho tenha apuro no emprego das formas geométricas, os elementos não são apenas estéticos —os grafismos no painel da rede, por exemplo, são referências a cascos de besouro e a asas de borboleta, este último um tema que se repete em outras obras, no formato de triângulos virados de ponta um para o outro.

Pa’saro, que está agora com uma marchetaria em exposição na mostra "Histórias Indígenas", no Masp, o Museu de Arte de São Paulo, divide o espaço da galeria nos Jardins com Duhigó, artista também formada pelo Instituto Dirson Costa, onde concluiu o curso de pintura em 2005.

Sua motivação para entrar nas artes, ela conta, era ganhar dinheiro para sair de uma situação de precariedade. Ela chegou a ser faxineira da escola, ganhando R$ 50 por semana, enquanto aprendia a pintar. "Não tinha quem me incomodasse", ela diz, sobre seus momentos de quietude com as tintas.

Seu plano parece ter dado certo, dado que Duhigó, também originária da região do Alto Rio Negro, é agora representada pela galeria paulistana e por uma outra manauara e tem duas pinturas no acervo do Masp —uma delas, "Rede Macaco", onde vemos um ritual de nascimento, está exposta em "Histórias Indígenas".

As telas figurativas de Duhigó mostram cocares, os rituais e a vida nas aldeias, temas frequentemente retratados por outros indígenas —neste sentido, o trabalho da artista é meio genérico.

Duhigó, 'Cocar dos Tupis', 2023, acrílica sobre tela
Duhigó, 'Cocar dos Tupis', 2023, acrílica sobre tela - Duhigó/Aura Galeria

Logo na entrada da galeria, uma tela representa a maloca onde seu avô morava, no meio do mato, com um grupo de indígenas macu por perto. Segundo ela, os macus eram empregados dos tucanos.

"Eles davam assistência para o meu avô. Plantavam tabaco, pimenta, frutas", ela conta. Em troca, o avô benzia aqueles que ficavam doentes.

Duhigó diz pintar para resguardar a memória de seu povo. "Os índios são os donos do Brasil."

Hori: Tukano e Wanano, exposição de Dhiani Pa’saro e Duhigó

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