O tempo da história é aquele em que "uma noite de luar era muito aproveitada". "Ninguém ficava em casa; os que não saíam a passeio sentavam-se em esteiras às portas", conta o narrador de "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida.
A paisagem daquele Rio de Janeiro soa idílica, perfeita para uma história típica do romantismo literário da época. Mas não é o que o autor Manuel Antônio de Almeida constrói na sua obra. Usando humor e linguagem coloquial, ele traça um panorama dos tipos sociais do "tempo do rei". Entre eles, o do malandro.
A malandragem é encarnada pelo protagonista Leonardo. "Nasce malandro feito, como se se tratasse de uma qualidade essencial, não um atributo adquirido por força das circunstâncias", escreveu o crítico Antonio Candido no seu clássico ensaio "Dialética da Malandragem".
Publicada como folhetim entre 1852 e 1853, o livro integra a Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira, em volume que chega às bancas no domingo (12).
Leonardo é abandonado pelos pais após a infidelidade da mãe, que abandona o Brasil para voltar a Portugal com o amante. "Foram saudades da terra", diz, irônico, o compadre do casal. É ele quem assume a criação do menino. "O menino tinha a bossa da desenvoltura, e isto, junto com as vontades que lhe fazia o padrinho, dava em resultado a mais refinada má-criação que se pode imaginar", diz o narrador.
A obra toca em diferentes temas sociais da época, como a intolerância religiosa. Os rituais afro-brasileiros eram perseguidos pela força policial e acabavam em prisão. Além disso, havia grupos de ciganos que montavam acampamentos e eram discriminados por seus costumes. Os escravizados não têm voz no livro, mas sua revolta aparece quando comemoram a morte do senhor da casa.
O narrador mantém uma conversa com o leitor ao longo da história. Sem saber o quanto o tipo do malandro influenciaria a nossa cultura, ele diz: "Já veem os leitores que a raça dos Leonardos não se há de extinguir com facilidade".
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A Coleção Clássicos da Literatura Luso-Brasileira reunirá um total de 30 livros, intercalando obras de grandes escritores portugueses e brasileiros, em edições em capa dura
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