RBD invoca criança interior e canta todos os seus hits em show apoteótico em SP

Banda se apresenta na capital paulista após 15 anos com estádio do Morumbi lotado e leva fãs brasileiros às lágrimas

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São Paulo

Uniformes de colegial, gravatas vermelhas, estrelinhas coladas na testa e chapéus de caubói rosa se encaixaram de novo no tempo na noite deste domingo, 12, no estádio do Morumbi, em São Paulo, quando o grupo mexicano RBD entrava no palco ao som de "Trás de Mi" em uma plataforma suspensa.

Show do RBD em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

"O sistema solar e o universo inteiro estão prestes a presenciar uma descarga de energia jamais vista", dizia uma gravação em áudio com as vozes dos integrantes antes do marcante riff de guitarra da música começar a tocar para um estádio lotado, cheio de celulares apontados para o palco.

Foi a abertura de uma noite apoteótica, que passou pela discografia dos seis anos de existência da banda latina com entrada mais bem-sucedida no Brasil quinze anos após sua última passagem pela capital paulista e seu encerramento.

Mesmo antes do show começar —e mesmo com os termômetros do dia batendo os 38°C— quando o estádio era animado por músicas de reggaeton, a antecipação do público já dava uma amostra do que viria.

A arquibancada cantou uma música quase inteira, o estádio vibrou com a mera exibição do escudo que é símbolo do grupo estampado nos telões e alguns fãs até choraram prematuramente.

Depois do êxtase inicial e no fim da segunda música, "Un Poco de Tu Amor", Dulce María, Anahí, Maite Perroni, Christian Chávez e Christopher von Uckermann —Alfonso Herrera, o sexto membro, não topou participar do reencontro—, todos vestidos com roupas nas cores da bandeira do Brasil, cumprimentaram individualmente a plateia.

Eles falaram da devoção do quinteto pelo país, da importância dos brasileiros para o retorno da banda e também fizeram menções a frases ditas em apresentações gravadas nos DVDs —e decoradas pelo público, que as repetiram.

O RBD se vale da nostalgia que ganhou força nos anos de isolamento impostos pela pandemia e que fizeram vários grupos musicais e produções audiovisuais serem revisitados. A banda faz parte das duas categorias —foi formada para a novela "Rebelde", que passou no SBT, e ganhou vida própria depois.

"Essa é uma noite para celebrar nossas crianças interiores", disse Anahí em um momento. Em outro, Christopher soltou um "fizemos história".

Embora o show seja uma celebração do passado, mostra um RBD que também deixa claro que quinze anos se passaram.

No palco, os vários figurinos dos integrantes, hoje nas casa dos 40 anos, já são menos ousados que os de antes, com menos partes do corpo à mostra, e as coreografias, vira e mexe acompanhadas pelos fãs, mais pontuais. Na plateia, os fãs, antes adolescentes, assistiam à apresentação com copos de bebidas alcoólicas nas mãos e brigando menos ferozmente pela grade.

A estrutura do palco é bem maior que a das cinco turnês feitas ao longo dos seis anos de existência da banda. Em "Inalcanzable", por exemplo, Christopher foi alçado em uma cadeira para depois ser deixado em um piano. Depois, Anahí apareceu sentada em uma estrela para cantar "Sálvame". O grupo também foi acompanhado a maior parte do tempo por um balé e cantores de apoio.

Musicalmente, o RBD aparece levemente mais ousado que nas gravações feitas há mais de uma década. Várias levadas foram alteradas pela banda de apoio, mais numerosa, que fez solos mais caprichados e incluiu acenos ao funk, soul e reggae, além de inserir mais sintetizadores, deixando as músicas menos datadas.

Na intenção de revisitar todos os hits da banda em pouco mais de 2h30, no entanto, as transições das músicas nos medleys ficaram truncadas em alguns momentos.

O show teve várias brincadeiras com o público, como uma câmera do beijo em "Bésame Sin Miedo" e cinco segundos de silêncio em "Sólo Quédate en Silencio" — interações que a banda só conseguiu emplacar no Brasil.

Foi no país, aliás, que o então sexteto encontrou seu principal público consumidor, e acabou gravando seus três primeiros discos com versões em português das músicas. Mas, no show de São Paulo, deixou o idioma para trás e só tocou as faixas originais.

Isso porque as regravações nunca foram exatamente bem recebidas pelos fãs, que no geral preferiam acompanhar a banda em espanhol nos shows.

É interessante observar como a barreira linguística de um idioma que não costuma alcançar o mainstream brasileiro com frequência ainda parece inexistente para a banda mexicana.

É incomum que um artista que canta em espanhol encha estádios por aqui e encontre uma plateia como a brasileira —que sabe de cor todas as músicas levadas ao palco, incluindo as únicas feitas nos últimos três anos, "Siempre He Estado Aquí" e "Cerquita de Ti". O show teve espaço até para um "Parabéns pra Você" espontâneo quando Dulce María disse que era aniversário de sua mãe.

Mas a relação é uma troca, e o RBD também é craque na interação com o público e sabe amaciar bem o ego dos brasileiros com elogios, piadinhas internas e referências à cultura brasileira, como quando deram uma palinha de "Mas Que Nada", de Jorge Ben Jor, e quando Dulce mencionou o funk.

Esses momentos de declarações permeiam toda a apresentação e também incluem os discursos motivacionais que o grupo já fazia antes.

Durante o medley "mujeres", com Dulce, Anahí e Maite no palco, elas falaram sobre feminismo, e Christian —que se assumiu gay quando o grupo estava na ativa— falou sobre aceitação e preconceito, por exemplo.

"Agora, eu volto com 40 anos e sou eu. Finalmente sou eu. A mensagem mais importante para hoje é: seja você. Nunca é tarde. Se você quer usar maquiagem, use. Se você quer ser quem você quiser, você seja, minha flor. Se alguém não te quiser, que se foda", disse, antes de cantar "Tu Amor".

Em "No Pares", Dulce agradeceu aos fãs pela companhia quando ela se sentia sozinha, Maite falou sobre a importância dos recomeço em "Empezar Desde Cero" e Anahí cantou "Sálvame" com uma camiseta com um "eu nunca te esqueci" estampado. Ela pediu que o público aproveitasse sua vida. "Somos os mesmos, mas agora mais velhos. Se eu nunca voltar, quero pedir uma coisa: não se esqueçam de mim".

Depois do maior hit solo do grupo, o RBD fechou o show com seus dois maiores singles, "Nuestro Amor" e "Rebelde". No primeiro e grande sucesso da banda, eles vestiram dramaticamente os famosos blazers vermelhos —uniformes da escola da novela—, que estavam em manequins no palco, e tiraram as gravatas do bolso.

Antes do fim da música, a banda parou de cantar e se virou para o telão, que passava uma sequência de trechos de clipes e shows da trajetória do grupo, num último ato de nostalgia. Encerrou o show com o coro de "yo digo R, tu dices BD" acompanhado pelo estádio e uma chuva de papéis vermelhos e brancos picados em formato de gravata.

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