Descrição de chapéu Artes Cênicas

'Teoria King Kong' tem olhar feminista sobre prostituição e relato de estupro

Obra de Virginie Despentes, esgotada no país, será relançada na estreia paulistana da peça que leva o nome do livro

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São Paulo

Em 2006, a escritora francesa Virginie Despentes causou barulho nas letras parisienses ao publicar "Teoria King Kong". No livro, a autora rememora a internação psiquiátrica na adolescência, o estupro que sofreu e os anos trabalhando como prostituta e crítica de filmes pornô. Misto de relato pessoal e ensaio sociológico, a obra se tornou um manifesto feminista e um fenômeno de vendas ao redor do mundo.

Esgotada no Brasil há dois anos, "Teoria King Kong" é relançado agora, na estreia de sua adaptação teatral, no Sesc Bom Retiro, na sexta-feira, dia 17. A temporada paulistana da peça que leva o nome do livro se inicia depois de uma corrida por ingressos no Rio de Janeiro.

Cenas da peça 'Teoria King Kong" - Divulgação

Com dramaturgia da tradutora do livro, Márcia Bechara, e direção de Yara de Novaes, as atrizes Verónica Valenttino, mulher trans premiada por "Brenda Lee", Ivy Souza, uma mulher negra e Amanda Lyra, que é branca, atualizam o pensamento da autora francesa, sob uma perspectiva singular, incluindo a realidade brasileira e seus pontos de vista.

"A crítica que a autora faz do uso de próteses de silicones para um fim estético não se relaciona com a minha vida", diz Vallentino. "A prótese é um artifício da existência trans."

Com as devidas ponderações ao livro, o trio de artistas explicita a teoria preconizada pela autora, agora uma habituée das mesas-redondas da TV francesa. Despentes já havia causado furor no meio literário com o romance "Me Fode", lançado em 1994.

A autora usa a imagem da criatura do filme clássico para sistematizar um novo comportamento feminino, que não se subordina à sociedade patriarcal. A atitude transparece num corpo indomável, diferente da mulher recatada e do lar.

Por isso, a movimentação cênica das atrizes lembra a do próprio King Kong, gorila que é disforme em seu gigantismo. Segundo Despentes, a existência King Kong implodiria a ambivalência entre o masculino e o feminino. Para realizar a ruptura, a autora adere à estética punk, que na peça está sobretudo na crueza do texto, como na narração do estupro e na escolha do figurino.

A adaptação traz a verve polemista do livro. Numa cena, Vallentino vai até a plateia e equipara o ofício das prostitutas ao cotidiano da mulher casada. De acordo com a teoria King Kong, as duas vidas se alicerçam num contrato, firmado para conciliar os interesses do homem e da mulher.

"Jamais poderia imaginar que um livro como esse poderia dar em teatro", afirma Lyra. "Mas a peça só realiza a explosão dos padrões de gênero que a autora sonhava."

Teoria King Kong

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