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Livros

DJ Zé Pedro faz ode à música que faz coxas de apaixonados se roçarem

'Mela Cueca' celebra canções românticas dos anos 1970 que, nas festas antigas, eram a 'hora do vamos ver' no escurinho

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Mela Cueca – As Canções de Amor que o Mundo Esqueceu

  • Preço R$ 69 (208 págs.)
  • Autoria Zé Pedro
  • Editora Garota FM Books

"Mela Cueca" é aquela canção romântica que embalava o momento mais aguardado nas festinhas dos anos 1970, quando o salão escurecia e os casais se juntavam para uma dança lenta e lúbrica.

"Era a hora do ‘vamos ver’, quando você finalmente se dava bem", diz um frequentador assíduo dessas celebrações juvenis, José Pedro de Ornelas Selistre Júnior. "O problema é que eu nunca me dava bem. Na hora ‘H’, eu estava sempre encostado na parede, apavorado, com medo de beijar alguém na boca."

homem de blusona colorida, boné dourado brilhante e óculos laranja escuro abre os braços contra parede de tijolos
O DJ Zé Pedro, que lança livro autobiográfico, na Casa das Caldeiras - Ronny Santos/Folhapress

Foi esse pavor que fez o menino buscar refúgio no único lugar "seguro" do salão: a cabine do DJ. "Eu chegava perto do DJ e ficava tentando ler os rótulos dos discos. Foi assim que eu virei DJ."

Mais de quatro décadas depois, o homem hoje conhecido em todo o Brasil como DJ Zé Pedro, lança um livro que não é apenas uma homenagem às músicas que embalaram o romantismo de gerações, mas também a comovente autobiografia de um personagem icônico da cena alternativa brasileira: "Mela Cueca – As Canções de Amor que o Mundo Esqueceu".

Logo no prefácio, Lulu Santos, um grande especialista nesse tipo de canção, define com maestria o que faz uma boa "Mela Cueca": "É a melô romântica da rádio AM, da televisão, da novela, do filme, do comercial de cigarros e da vida dos brasileiros", escreve. "A canção lenta para se dançar junto, colado, roçando coxas, esfregando partes que se tornam úmidas, hidratadas."

No livro, Zé Pedro escolhe e comenta 322 canções clássicas do romantismo roça-coxa dos anos 1970, de "Me and Mrs. Jones", de Billy Paul, a "One Day in Your Life", de Michael Jackson, passando por hits gravados por Irene Cara, Barry Manilow, Bee Gees, Christopher Cross, Charles Aznavour e muitos outros.

A seleção é simplesmente magistral, e os comentários, impagáveis. Sobre "Stop, Look and Listen", dueto de Diana Ross e Marvin Gaye, Zé Pedro escreve: "Um dueto que, de fato, nunca aconteceu. Diana Ross se recusou a gravar junto com Marvin Gaye porque ele não quis parar de fumar sua erva dentro do estúdio durante as gravações".

A seleção traz também sucessos gravados por artistas brasileiros que, nos anos 1970, usavam pseudônimos estrangeiros e cantavam em inglês. É o caso de Paul Denver, ou Carlos Alberto de Sousa, que gravou o estouro "Rain and Memories", e Morris Albert, ou Maurício Alberto Kaiserman, com o hit mundial "Feelings". "A gente ouvia essas músicas no rádio e não tinha a menor ideia de que tinham sido gravadas por brasileiros", diz Zé Pedro.

Se a segunda parte do livro é uma enciclopédia do romantismo de AM, a primeira parte é emocionante, engraçada e surpreendente, com o relato autobiográfico que conta como o menino nascido no Rio Grande do Sul, chegou ao Rio de Janeiro em 1972 e se apaixonou pela música e por Copacabana.

Para cada aventura de Zé Pedro dançando discoteca no programa de TV de Carlos Imperial —e ganhando do apresentador o apelido de "Júnior do Leme"—, há um relato comovente sobre a descoberta da sexualidade e o "bullying" que sofria na escola e na rua. Mas tudo descrito com um senso de humor escrachado, característica mais marcante de Zé Pedro.

O filme da vida de Zé Pedro seria uma chanchada dos anos 1970, passada na era da discoteca e dirigida por Pedro Almodóvar. Os pais dele eram pobres e viviam de pequenos golpes —"meus dois Bonnie & Clyde", como ele escreve.

A família morava numa quitinete em Copacabana, todos empilhados num só cômodo ("nunca vi meus pais transando, talvez por isso eu seja tão obcecado pelo amor platônico"), dando cheques sem fundo e sendo despejados de um apartamento atrás do outro.

Nos eventos de lançamento do livro, Zé Pedro fez uma espécie de apresentação de comédia stand-up, em que conta sua vida e fala do amor pela música romântica. O show é abrilhantado pela cantora Mara Selting, que dubla clássicos da "Mela Cueca" como "Last Dance", de Donna Summer, e "I’ll Never Live This Way Again", de Dionne Warwick. Assisti a uma dessas apresentações na Flip, em Paraty, e o público inteiro estava chorando de rir.

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